Inteligência artificial dá segunda chance a paciente com câncer

Alternativas. Análise disponível em São Paulo traz perspectiva de tratamento contra células cancerígenas

Um exame baseado em inteligência artificial, agora disponível no Brasil, pode dar uma segunda chance a pacientes com câncer que não tiveram sucesso na primeira tentativa de tratamento. Lançado neste mês pelo laboratório de análises clínicas Fleury, o exame Oncofoco é direcionado para pacientes oncológicos avançados (em geral, em fase de metástase ou com recidiva) e que não respondem aos tratamentos convencionais.

A iniciativa surge a exemplo de outras de sucesso no exterior, como uma da Quest Diagnostics e outra da Foundation Medicine, ambas norte-americanas, diz o oncologista Mauro Zukin, do Grupo COI, do Rio.

A análise acontece a partir de grandes bancos de dados (big data), acessados e interpretados de acordo com as informações do tumor e de estudos clínicos já realizados. Na primeira etapa, o DNA tumoral presente na biópsia é sequenciado. Se o genoma fosse uma grande lista de frases, letra por letra seria lida neste momento para apontar as peculiaridades genéticas daquele tumor. O sequenciamento permite ao sistema Watson, da IBM, analisar todos os artigos científicos relevantes para aquele caso.

Tendo em vista as alterações genéticas do tumor daquele paciente, a inteligência artificial, então, devolve uma lista de possíveis drogas e tratamentos aos quais ele poderia ser submetido, mesmo que ainda estejam em fase testes no Brasil ou no exterior, e/ou sem aprovação final por agências reguladoras, como a norte-americana FDA ou a brasileira Anvisa.

O trabalho, realizado em segundos pelo algoritmo computacional, requereria muitas e muitas horas de esforço humano em cada caso para realizar algo parecido. É virtualmente impossível, mesmo que dedicando 24 horas por dia e sete dias por semana, permanecer atualizado em todos os assuntos, mesmo que em apenas uma especialidade.

O sistema faz uma curadoria dos estudos e uma análise muito extensa e sistematizada, sem viés, explica Edgar Gil Rizzatti, diretor do Grupo Fleury. Mas isso não quer dizer que o computador decida sozinho o futuro do paciente. Ainda há uma etapa de interpretação das conclusões do Watson por uma espécie de junta de cientistas e médicos antes da elaboração do laudo final, a ser encaminhado para o paciente e seu médico.

Não é sempre, porém, que se encontra uma alternativa. Programas baseados em sequenciamento genômico e tecnologia de inteligência artificial são muito promissores, uma vez que podem identificar alvos terapêuticos. Infelizmente, porém, apenas uma minoria de pacientes se beneficia, diz o oncologista Gilberto Lopes, professor da Universidade de Miami e editor-chefe do “Journal of Global Oncology”, revista especializada em oncologia. Seguindo Lopes, entre 50% e 60% dos pacientes com adenocarcinoma de pulmão encontram possíveis tratamentos. Isso, no entanto, não vale para a maioria dos demais tumores. Pesquisas recentes sugerem que menos de 10% dos pacientes encontram alvos ou pesquisas disponíveis. Imaginamos que no Brasil o número de pacientes que encontrem uma alternativa seria ainda menor. Esperamos que isso melhore no futuro.

 FONTE:  O TEMPO