90% dos investidores não adicionam valor às startups, diz Vinod Khosla

Vinod Khosla é uma lenda do Vale do Silício. Cofundador da Sun Microsystems, o indiano teve passagem pela gestora Kleiner Perkins Caufield and Byers (KPCB) e há quase duas décadas toca a Khosla Ventures, que já levantou mais de US$ 7 bilhões e tem nomes como Impossible Foods e OpenAI no portfólio. Considerado persistente e um visionário por suas apostas em startups de ciência e tecnologia, ele também tem posições menos ortodoxas sobre o mundo de venture capital.

Para ele, 90% dos investidores não adicionam nenhum valor às startups. E mais: outros 70% subtraem valor dos negócios por olharem para as métricas erradas. Ele deu como exemplo uma das principais referências no mercado, a aceleradora Y Combinator. “Todas as empresas que estão na YC falam a mesma coisa, esse é o meu MRR, meu ARR. Mas quais ativos fundamentais você está construindo? Você está criando um negócio de 3 meses, ou um de 5, 10 anos? Quais as vantagens tecnológicas que você vai ter? Essas são coisas fundamentais. Não receita”, disse ele durante painel na Brazil at Silicon Valley (BSV).

No meio de sua fala, ele perguntou à plateia quantas pessoas tinham passado pela YC. A ver uma ou duas mãos levantadas, ele emendou. “Graças a Deus não muitas”, disse sorrindo.

Venture assistant

Há 40 anos no mercado de tecnologia, Vinod não se rotula como um investidor de risco, mas como um venture assistant, alguém que ajuda fundadores em sua jornada se valendo das lições aprendidas com seus próprios erros. “É mais sobre ajudar empreendedores a criarem suas companhias e seus sonhos e menos sobre investir”, afirmou.

Completando seu raciocínio, o veterano soltou mais uma frase de efeito. “Investidores que não foram empreendedores não têm empatia pelos fundadores e na maioria dos casos não ganharam o direito de aconselhar empreendedores. Eu vejo tanto conselhos ruins sendo dados porque o investidor nunca sentou na cadeira de fundador”, disparou.

Para reforçar seu ponto, Vinod lembrou do episódio em que ficou por horas esperando uma reunião com um cliente para recuperar um contrato que a Sun Microsystems tinha perdido. Segundo ele, essa era a única coisa que ele podia ter feito ao perceber que o negócio estaria em mals lençóis sem aquela receita. “Quem não passou por uma situação dessas, não teve noites sem dormir, não consegue ter empatia”, completou.

Vinod disse nunca ter olhado para métricas comumente usadas por VCs, como o ARR, na hora de analisar a entrada em um negócio porque planilhas “são peças de ficção”. “Empreendedores sabem disso”, acrescentou sorrindo depois de arrancar algumas risadas da plateia.

Perguntado por Julio Vasconcelos, que mediava a conversa, sobre como investidores que não têm essa experiência prática devem se comportar na hora que sentam no conselho de uma startup, por exemplo, Vinod disse que eles têm valor por suas redes de relacionamento, pela capacidade de fazer conexões com outros fundadores que passam por situações semelhantes.

Talvez para não ficar tão mal com os investidores presentes e com o mercado, ele acrescentou que investidores têm sim um papel importante no financiamento de negócios. “Não existe empreendedorismo sem o oxigênio do dinheiro”, disse.

Se conselho fosse bom…

Vinod destacou que umas das tarefas mais importantes para um fundador é saber quais conselhos vai ouvir e de quem. “Todo mundo vai ter da conselhos. Amigos, família. Uma pessoa de marketing do Google não está qualificada para dar um conselho. Fazer marketing no Google é muito diferente do que começar e ir de 0 a 1”, disse.

Ele completou dizendo que avisa fundadores a não aceitarem seus conselhos com tanta frequência. Por quê? Porque ele não está no dia a dia do negócio. “Eu conheço algumas macrotendências e dou inputs. Mas inputs que devem ser usados em um processo, um processo de tomada de decisões”, afirmou.

Julio então fez uma pergunta sobre contratações, e porque não é recomendado contratar especialistas do segmento de atuação da startup. Segundo Vinod, essas pessoas trazem vieses e modos de trabalhar tradicionais, o que impede que a startup desenvolva novas formas de atuação e crie o futuro. “Você pode ter o especialista para dizer que pode haver um problema com os reguladores aqui e ali, ou para mostrar como as coisas são feitas. Mas o fundador tem que vir e perguntar por que se faz assim e se manter fiel à sua visão”, acrescentou.

Segundo ele, o ponto da fidelidade à visão é o principal aspecto que ele olha na hora de escolher um empreendedor no qual investir. “Na era da bolha pontocom, e agora também com a inteligência artificial, muita gente corre para tentar fazer dinheiro, não uma visão ser concretizada. Mas isso tem prazo curto. Os verdadeiros empreendedores querem executar sua paixão e visão”, afirmou.

Oportunidade com inteligência artificial

Para Vinod, a inteligências artificial é uma plataforma em cima da qual serão construi´das muitas coisas, assim como foram os microprocessadores e os smartphones. Mas a extensão disso ainda está longe de ser conhecida porque está tudo ainda no começo. Para os fundadores, e também para o Brasil, como país, o que ele recomendou foi começar a desenvolver coisas que se aproveitem dessa plataforma. Para quem já tem um negócio rodando, a dica é imaginar em como essa empresa seria se ela nascesse hoje, em meio a tudo o que está acontecendo, e repensar tudo. “Se você desenvolveu um sistema de recomendação, abandone ele porque ele vai se tornar irrelevante. Ou alguém novo será muito melhor. Pode ser uma fintech, ou qualquer outra coisa. Não importa. Praticamente todas as áreas serão drasticamente impactadas pela inteligência artificial e a maior parte do conhecimento se tornará essecnialmente gratuito”, cravou.

FONTE:

https://startups.com.br/brazil-at-silicon-valley/90-dos-investidores-nao-adiciona-valor-as-startups-diz-vinod-khosla/