Transformação digital na banca: além da maquilhagem

Os sistemas legacy não reflectem uma orientação ao cliente, nem permitem a implementação dos produtos com time to market adequado, alerta, em opinião Anna Muzalska, da Quidgest.

core bancário constitui o coração da instituição e, como tal, merece atenção e reconhecimento. Tal como num organismo vivo, cujas capacidades físicas são limitadas pela força do coração, num banco as habilidades de modernização e inovação são dependentes da eficiência do seu core.

A maioria das soluções core foi implementada há muitos anos, ganhando o nome de sistema legacy, assegurando que se tratam de sistemas sólidos, seguros e robustos. Mas será isto verdade?

Num ambiente de evolução constante do mercado, de desenvolvimento de novos tipos de produtos, de aparecimento de novos market players, tais como as fintechs, e de alterações legislativas abruptas, o investimento em transformação digital tornou-se a aposta mais importante das instituições.

Truques de maquilhagem

Alguns bancos continuam a manter o sistema legacy, muitas vezes tecnologicamente obsoleto e com altos custos de manutenção, e disfarçam-no com aplicações front-officetecnologicamente mais avançadas e esteticamente mais apelativas. No entanto, esta solução acaba por ser tão (in)eficiente como o core. As instituições ficam dependentes de profissionais escassos, de equipamentos obsoletos e software de suporte já descontinuado. Estes sistemas não reflectem uma orientação ao cliente, nem permitem a implementação dos produtos com time to market adequado.

Ser mais um de muitos

Outra abordagem possível baseia-se numa solução core standard em simultâneo com aplicações front-office. Esta solução apresenta todas as desvantagens da anterior, mas perde a vantagem competitiva que poderia ter a solução legacyAs soluções standard não reflectem a estratégia do banco. É a opção “certa” se o objectivo é ser um banco sem qualquer faxtor de diferenciação. Mas não se trata de transformação digital.

Em todas estas abordagens, normalmente com 75% do orçamento de IT gasto em manutenção, já não há espaço para inovar.

Try and learn and try again

A única abordagem que permite competir com as fintechs e deixar a sua marca na transformação digital é a inovação com foco na modelação do negócio, metodologias ágeis e curtos prazos de execução.

Esta opção requer uma aposta constante na inovação. O mercado evolui, os concorrentes inovam, os reguladores obrigam e os clientes exigem uma experiência única. Torna-se imprescindível abraçar uma metodologia ágil, try and learn, que permita evoluir e aperfeiçoar as soluções, através do desenvolvimento de provas de conceito e foco na estruturação correta dos dados, em vez de processos que estão sujeitos a alterações constantes.

Sim, mas como?

A alteração do core não tem de ser um acontecimento abrupto nem financeiramente doloroso. O investimento pode ser diluído num formato pay as you go ou SaaS (Software as a Service) e o próprio processo de implementação pode ser progressivo (fade out), no entanto, deve ser bem planeado, com indicação clara dos quick-wins. Ambas as soluções podem, por algum tempo, funcionar paralelamente (com integração automática) para assegurar uma transição suave. É importante disponibilizar no novo sistema os dados de histórico, sendo esta informação um dos mais valiosos activos das instituições bancárias incumbentes face às fintech.

Os produtos personalizados com time-to-market mínimomelhor experiência de cliente, maior transparência, dados completos em tempo real, redução de custos, aumento de eficiênciainteroperabilidade e acesso a vários canais são apenas algumas das vantagens da transformação digital do core.

Automação é a chave para a transformação digital

Com a utilização de inteligência artificial no desenvolvimento do core, todos estes benefícios se tornam realidade. Cores bancários tradicionais não conseguem oferecer um banco de futuro, assim como a forma tradicional de desenvolvimento de software não pode disponibilizar ao banco um core bancário de futuro.

FONTE: COMPUTERWORLD