Startup Cora demite 13% para tentar entrar no azul até fim de 2024

Fintech brasileira focada em empresas afirma que dispensas acontecem como parte de reestruturação da empresa.

A startup Cora realizou na manhã desta segunda-feira, 3, o corte de 13% dos trabalhadores da startup, focada em soluções financeiras para pequenas e médias empresas do Brasil. Ao todo, são 59 pessoas impactadas em todas as áreas do negócio, confirmou a companhia à reportagem.

A Cora afirma que os demitidos devem receber salário adicional, extensão de seis meses do plano de saúde, auxílio de R$ 1,5 mil para pessoas com filhos de até 17 anos, assinatura do LinkedIn Premium (serviço de recolocação no mercado de trabalho da rede social), Zenklub (plataforma de apoio psicológico) e R$ 1,5 mil em compra de notebook. Além disso, uma bolsa de R$ 4.250 vai ser concedida a pessoas de minorias sociais da Cora, como mulheres, pessoas negras e pessoas LGBT+ com salário de até R$ 7 mil.

Segundo o fundador e presidente executivo da Cora, Igor Senra, as demissões vêm após uma nova percepção do cenário macroeconômico, que não apresentou a melhora esperada para o fim deste primeiro trimestre. “Havia uma máxima de que as coisas iriam melhorar”, diz o CEO. “Notamos que não há melhora à vista.”

Em março, o Silicon Valley Bank (SVB), principal banco para o mercado de tecnologia do mundo, quebrou após ir ao mercado em busca de financiamento — o que causou mais turbulência em um cenário tomado por cautela desde o ano passado. Além disso, o Federal Reserve, autoridade monetária dos Estados Unidos, continua a subir os juros, encarecendo o mercado de crédito.

“Estamos interrompendo vários projetos de longo prazo, e isso significa realocar a energia da empresa em projetos de maior valor no curto prazo”, diz Senra. Além disso, a startup reduziu em dois terços os investimentos em marketing desde fevereiro.

O negócio da Cora inclui conta digital gratuita para pessoas jurídicas, com cartão de crédito e débito e transferências habilitados. Além disso, a startup oferece uma plataforma de gestão dos gastos, por onde o empreendedor pode automatizar cobranças e sistemas contábeis.

Em agosto de 2021, a startup levantou US$ 116 milhões numa megarrodada que trouxe investidores de peso, como Greenoaks Capital, Ribbit, Kaszek, QED, Tiger e Tencent.

Neste ano, a Cora foi apontada como um dos nomes promissores do mercado de inovação do Brasil, segundo levantamento da Distrito para mapear os futuros “unicórnios” do mercado — as startups com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão.

Cora busca a lucratividade

A reestruturação na Cora, que inclui as demissões nesta segunda, tem como objetivo colocar a startup no azul até o fim de 2024, tornando o negócio menos dependente de rodadas de investidores e com fôlego para sobreviver a choques.

“O que estamos fazendo agora é ter um plano com mais margem de manobra. Sabemos que problemas acontecem. É importante termos mais solidez para que a gente consiga executar esse plano de continuar crescendo e atingir a lucratividade”, justifica o CEO.

Com capital levantado em 2021, o executivo afirma que a startup possui caixa para continuar no mercado, mas que buscar uma nova rodada não é uma opção e que caminhar com as próprias pernas é o melhor caminho: “Não queremos depender de dinheiro externo, porque é algo que não controlamos”, diz. “Temos que fazer esses ajustes considerando que não vamos levantar outra rodada.”

Crise é grande entre ‘unicórnios’

Conhecidas por contratar centenas de funcionários ao mês, as startups têm realizado milhares de demissões pelo mundo — o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de “inverno das startups”, após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia nos últimos dois anos.

Segundo especialistas consultados pelo Estadão, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando o apetite dos investidores por risco era maior.

O processo tem sido especialmente duro com as startups maiores, que estão no momento conhecido como “late stage”. Nesse estágio de maturidade, as empresas queimam dinheiro velozmente na tentativa de crescer e ganhar mercado – sem o dinheiro, elas precisam preservar caixa para sobreviver.

Entre os unicórnios nacionais que já fizeram demissões em massa nos últimos meses estão 99LoggiQuintoAndarLoftFacilyVtexEbanxMadeiraMadeiraMercado BitcoinOlistUnicoHotmartDock Wildlife. A mexicana Kavak, maior unicórnio da América Latina, também fez cortes severos na operação brasileira.

O mais recente dos unicórnios a demitir foi o iFood, que dispensou 355 pessoas, e a Loftem quarta rodada de cortes.

FONTE: https://www.terra.com.br/byte/inovacao/startup-cora-demite-13-para-tentar-entrar-no-azul-ate-fim-de-2024,661c81bc98ccf8c1124726441c2b99c8wc0yuq6x.html