Próximo ano pode ter movimento de consolidação entre as fintechs

Já a questão regulatória tende a ser mais um desafio para as fintechs.

Se 2022 foi um ano para ser esquecido pelas fintechs, o próximo deve ser menos pior. As incertezas ainda são grandes, mas é difícil repetir quedas de magnitude tão acentuada e, se houver espaço para uma baixa de juros global a partir do segundo semestre, pode haver algum alívio. Enquanto isso, especialistas apontam que 2023 pode ser um ano de consolidação, com muitas operações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês).

O futuro das fintechs na bolsa em 2023 dependerá principalmente da taxa de juros. A dúvida crucial, no entanto, é qual exatamente será essa trajetória. “Essas fintechs ainda estão em um momento de crescimento, de captura de ‘market share’, e tudo isso envolve investimento, queima de caixa. Mas o macro parece que vai continuar falando mais alto por um tempo ainda”, afirma Lucas Ribeiro, analista de ações da Kínitro Capital.

Para ele, as adquirentes, por exemplo, devem seguir pressionadas no próximo ano em um cenário de desaceleração do crescimento de volumes processados e margens ainda apertadas.

Thiago Batista, analista do UBS, afirma que a inadimplência tende a ser um problema menor para as instituições em 2023 do que foi neste ano. “A inflação deve ser mais baixa e o cenário ainda aponta para crescimento do PIB. Além disso, os auxílios sociais devem ter impacto positivo na baixa renda.” Ele diz ainda que muitas instituições, como o Nubank, estão mudando a forma como remuneram os seus depósitos, o que tem efeito positivo sobre rentabilidade.

Seja como for, fintechs menores não devem escapar de uma onda de M&As. “Acreditamos que a consolidação será um grande impulsionador nos próximos trimestres, já que os ‘players’ menores que não conseguem registrar lucros provavelmente serão adquiridos por nomes maiores e mais lucrativos”, diz em relatório o Bank of America.

Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem, também prevê um movimento de consolidação. “Ainda não temos muitas operações sendo anunciadas, mas está tudo em gestão. Quem está queimando caixa e com dificuldade de levantar dinheiro novo vai ter que fazer isso em algum momento”, diz, apontando que mesmo algumas grandes fintechs poderiam fechar capital. “Ao ver os preços tão baratos, alguns fundos oportunistas de private equity podem achar essa alternativa atraente.”

Um tópico que mudou radicalmente em 2022 e pode continuar trazendo algum alívio para a indústria como um todo no próximo é a competição por funcionários. Se no início de 2022 circulavam pela redes sociais “memes” sobre a caçada árdua por desenvolvedores, ao longo do ano o “inverno cripto” chegou e se espalhou pelas fintechs, levando a ondas de demissões. Dessa forma, muitos talentos que foram para as fintechs atraídos por uma série de benefícios – incluindo as bonificações em ações – agora estão migrando de volta para os bancos.

Já a questão regulatória tende a ser mais um desafio para as fintechs, embora já esperada. Em julho entram em vigor as novas regras do Banco Central, com as empresas de maior porte com exigência de capital mínimo de 6,75%, aumentando para 8,75% em 2024 e 10,5%. Além disso, em abril começa o teto de 0,7% para a tarifa de intercâmbio do cartão pré-pago, o que afeta bastante quem vinha emitindo fortemente esse tipo de instrumento, como Nubank e PagSeguro.

FONTE: https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/12/23/proximo-ano-pode-ter-movimento-de-consolidacao-entre-as-fintechs.ghtml