Na corrida dos carros voadores, modelos para céu e terra

Montadoras como XPeng e Tesla apostam em protótipos de duplo uso, enquanto as empresas aéreas investem nas startups focadas em voos curtos.

A Eve, da Embraer, foi capitalizada pelo fundo de venture capital a United Airlines — Foto: Divulgação

As grandes companhias aéreas se posicionaram este ano na corrida dos carros voadores. Enquanto a United Airlines virou sócio da Embraer na Eve, em setembro, com uma injeção de US$ 15 milhões por meio de seu fundo corporativo, empresas como Delta, American Airlines e as brasileiras Gol e Azul também já fizeram suas apostas – e a maioria delas em mais de uma startup.

As montadoras estão no jogo e com proposta ainda mais ambiciosa de tempo e de versatilidade de veículos: a Tesla é uma das maiores investidoras da californiana Alef Aeronautics; as montadoras chinesas XPeng e Geely, além da Hyundai e da Fiat Chrysler já anunciaram projetos nesse sentido, internos ou com parceiros.

Além de entrar no mercado de viagens mais curtas com os táxis aéreos, as companhias aéreas comerciais miram a expansão do mercado de eVTOLs, que são aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical, como uma oportunidade de compensação de emissões de carbono – numa indústria que pena para cumprir métricas mínimas de ESG pela natureza do próprio negócio. Para as montadoras, é uma opção de fornecimento não só neste segmento, mas também para o consumidor final.

Mas quando isso pode virar de fato realidade? “Veremos pequenas quantidades de eVTOLs começando no período de 2025”, disse Savanthi Syth, diretor de equity research no banco Raymond James, à CNBC. “Mas para ver muitas aeronaves voando, efetivamente, é mais provável na década de 2030.”

A Alef está entre as empresas com promessas mais ousadas de entrega ao mercado consumidor. A companhia tem afirmado que colocará carros voadores à venda por US$ 300 mil já em 2025. A startup garante que vem testando e ajustando seu modelo desde 2019.

Mas não é só isso: o modelo da Alef é um carro que também é elétrico e decola na vertical, mas que é feito para uso majoritariamente na estrada – com um voo aqui e ali para fugir do engarrafamento ou de rodovias esburacadas. Até 2030, a companhia já quer ter um outro modelo de massa na rua, com valor de US$ 35 mil ao consumidor.

A chinesa XPeng acredita que as discussões atuais serão uma realidade para 10 a 30 anos. Mas sua investida tem mostrado a mesma pressa das concorrentes. Seu protótipo é desenvolvido pela subsidiária HT Aero, que recentemente levantou US$ 500 milhões incluindo outros investidores. O carro-voador da HT também é de uso na estrada.

Diferentemente da Alef, que já tem feito venda a consumidores em lista de reservas, a HT Aero ainda não tem plano comercial. A companhia quer um modelo pronto em 2024, mas ainda como teste e ajuste de design.

Um dos grandes desafios para essas companhias, como destacaram relatórios de Itaú BBA e XP Investimentos ao longo do ano sobre a Eve, da Embraer, é a necessidade financeira, já que esses projetos têm custo alto.

Syth, do Raymond James, ressalta que os acordos entre as companhias aéreas ou montadoras e as startups são condicionais e dependem da capacidade das empresas de obter todas as certificações necessárias e também da velocidade de fabricação. Com isso definido, o tamanho potencial do mercado vai depender de como as empresas conseguem levar os eVTOLs aos consumidores.

Para Beau Roy, diretor na FTI Consulting, a pegada ESG desse modelo é o chamariz para as empresas tradicionais de aviação. “As companhias aéreas não têm muitas opções sustentáveis. A maior é o combustível sustentável mas, no ano passado, talvez um em cada mil galões de combustível de aviação podia ser considerado como SAF”, disse à CNBC.

O carro-voador da Alef, apoiada pela Tesla: na estrada e no ar — Foto: Reprodução

O carro-voador da Alef, apoiada pela Tesla: na estrada e no ar — Foto: Reprodução

Roy acredita que há uma disposição das empresas de quererem usar os eVTOLs para diminuir a quantidade de carros nas ruas em prol do meio ambiente, mas também uma tentativa de disseminar uma alternativa mais atraente em termos de custo e agilidade. “Se for barato o suficiente e a economia de tempo for significativa, as pessoas mudarão seu comportamento e deixarão os carros de lado.”

Entre as aéreas, uma das apostas mais recentes foi a da Delta Air Lines. A empresa aérea fez um investimento de US$ 60 milhões na Joby Aviation, que desenvolve eVTOLs voltados para táxi aéreo — em 2020, a companhia comprou o projeto da Uber para o ramo, o UberCopter. O acordo prevê uma parceria de cinco anos para a Joby operar eVTOLs exclusivamente com a Delta.

A American Airlines fechou, em julho, uma compra de 50 aeronaves da britânica Vertical Aeroespace. Esse foi o segundo pedido da American Airlines, que no ano passado já tinha comprado outros 250 eVTOLs em um acordo de US$ 1 bilhão.

Antes mesmo do acordo com a Embraer, a United já tinha fechado parceria também com a sueca Heart Aerospace e colocou um cheque de US$ 10 milhões na Archer Aviation. A aposta em três companhias se justifica porque a aérea quer ter essas aeronaves operando em rotas regionais até 2030.

A Gol aposta do modelo VX4 da Vertical Aerospace, que quer obter certificação até 2025. A aérea brasileira já encomendou 250 modelos da aeronave para quatro passageiros. Já a Azul Linhas Aéreas fez uma parceria de US$ 1 bilhão com empresa alemã Lilium, para a compra de aeronaves eVTOL Lilium Jet, que promete conectar grandes centros e cidades turísticas, também com operação prevista a partir de 2025.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/negocios/noticia/os-carros-voadores-estao-a-caminho-mas-chegam-quando.ghtml