Inteligência artificial ajuda a mapear problemas climáticos

Mudanças são essenciais para diminuir aquecimento global, indica Forum Econômico Mundial

Um novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) alertou que “mudanças rápidas, de longo alcance e sem precedentes em todos os aspectos da sociedade” são necessárias para limitar o aquecimento global a 1,5ºC e evitar um ponto de inflexão natural irreversível.

Até 2030, as emissões de dióxido de carbono causadas pelos seres humanos precisam cair aproximadamente 45% em relação aos níveis de 2010, atingindo “zero líquido” por volta de 2050, diz o relatório. As emissões remanescentes precisariam ser equilibradas pela remoção de CO2 da atmosfera, por exemplo, por meio de reflorestamento e melhoria do manejo da terra.

A partir da análise de grandes conjuntos de dados é sabido que o planeta perdeu o equivalente a 40 campos de futebol por minuto no ano passado em cobertura de árvores. Além disso, mais de um quarto da perda global de cobertura arbórea entre 2001 e 2015 esteve associada ao desmatamento gerado por commodities.

As tecnologias de big data ajudam a resolver o problema, por exemplo, localizando emissões prejudiciais ou identificando pontos de pressão ao longo da cadeia de suprimentos. Essa mudança transformadora nos recursos de dados é um exemplo do que o Fórum Econômico Mundial se refere como a Quarta Revolução Industrial.

Quando o governador da Califórnia, Jerry Brown, anunciou que o Estado norte-americano lançaria seu satélite para monitorar os efeitos da mudança climática, sua promessa foi ousada: uma iniciativa para ajudar governos, empresas e proprietários a identificar e deter emissões “com precisão sem precedentes, em uma escala nunca antes feita”.

A Califórnia está tomando medidas locais para um problema global na ausência de liderança federal. Trabalhando com a empresa de imagens da Terra baseada em São Francisco, a Planet Labs, o estado desenvolverá e, eventualmente, lançará um satélite capaz de detectar a “fonte pontual” de poluentes climáticos, monitorando vazamentos e outras anomalias em locais específicos.

O satélite, uma iniciativa do Conselho de Recursos Aéreos da Califórnia, complementará o projeto MethaneSAT do Environmental Defense Fund, programado para o lançamento em 2021. Este último fornecerá cobertura mais ampla e mais frequente, quantificando as emissões dos campos de petróleo e gás que produzem pelo menos 80% da produção global aproximadamente a cada quatro dias.

Individualmente, os projetos gerarão dados importantes sobre emissões nocivas. Combinados, os conjuntos de dados têm um impacto maior. Por exemplo, se o MethaneSAT acenar com uma bandeira vermelha sobre um pico de emissões em um determinado campo, o instrumento da Califórnia, então, se concentrará em instalações específicas e identificará as fontes. A EDF diz que é “como ter duas lentes de câmera – grande angular e telefoto” que juntas produzem um quadro mais completo do problema do metano.

O California Air Resources Board e o Planet Labs trabalharão em parceria com o Environmental Defense Fund, entre outros, para estabelecer uma nova Climate Data Partnership, uma plataforma comum para reportar dados para permitir que governos, empresas, proprietários de terras e outros busquem medidas de mitigação mais direcionadas em todo o mundo.

Tom Ingersoll, que lidera o projeto MethaneSAT da EDF, sugere pensar nesses projetos de dados separados, mas complementares “como um conjunto de círculos sobrepostos, como os anéis olímpicos”. “Múltiplos métodos de avaliação das emissões de metano levam a um conjunto de insights mais completo e acionável do que qualquer método isolado por si só.”

Colocando as soluções em foco

Combinando dados capturados via imagens de satélite e inteligência artificial para monitorar florestas e uso da terra para fornecer o “onde, por que, quando e quem” estava entre as soluções discutidas em um evento realizado na recente Global Climate Action Summit, em São Francisco.

Kavita Prakash-Mani, líder de prática – mercados e alimentos no WWF, diz que dados de projetos como o Eyes on the Forest, que investiga o desmatamento e a apropriação de terras na Indonésia, precisam ser combinados com outras informações para criar o quadro completo. “Precisamos de tecnologia para monitorar porque estamos perdendo florestas, observando a rastreabilidade por meio de sites de cidadãos e dados sobre a origem dos alimentos”.

Um exemplo disso é a plataforma Trase, que conecta fontes de dados independentes para revelar os fluxos comerciais de commodities, como carne bovina, soja e óleo de palma, responsáveis por cerca de dois terços do desmatamento tropical. O objetivo é trazer transparência para as cadeias globais de suprimentos, usando dados disponíveis publicamente para mapear detalhadamente os vínculos entre os países consumidores via empresas comerciais para os locais de produção.

Até 2021, Trase visa mapear o comércio de mais de 70% dos commodities que representam um grande risco para as florestas. Clément Suavat, principal desenvolvedor da Trase, diz que combinar diferentes conjuntos de dados “permite conectar paisagens e identificar rapidamente os riscos de sustentabilidade”. Assim, uma combinação de informações da cadeia de suprimentos e dados de remessa, por exemplo, pode ajudar uma empresa a identificar exatamente onde fazer mudanças que terão impacto sobre as metas da mudança climática.

Afiando a imagem

Assim como o Orbital Insight, que está usando a análise geoespacial para apoiar a iniciativa de monitoramento do Global Forest Watch, os projetos Trase e Planet Labs são apenas alguns exemplos desse campo de rápido crescimento do uso de tecnologia para a transparência da mudança climática.

Mais recentemente, o Centro de Pesquisas Woods Hole, dos EUA, passou a usar uma ferramenta baseada em satélite para criar um novo mapa global de monitoramento de carbono. O conjunto de dados por trás do lançamento do The Carbon Source vem do Woods Hole Carbon Monitoring System, que emprega uma abordagem inovadora de séries temporais para medir mudanças (perdas e ganhos) na densidade de carbono acima do solo na América tropical, África e Ásia.

De acordo com o centro, a abordagem está “pronta para transformar a forma como o mundo mede e rastreia mudanças no carbono florestal” e sua visão é usar os dados “para contar uma história quase em tempo real” sobre o estado e a vulnerabilidade do carbono terrestre.

Dominic Waughray, chefe do Centro de Bens Públicos Globais do Fórum Econômico Mundial, prevê uma “enorme transformação” da comunidade ambientalista. “Pense em como foi difícil lidar com a mudança climática, rastrear as emissões. E depois pense sobre as possibilidades de transparência de dados em larga escala, e o que isso significaria para ser uma empresa ou uma organização da sociedade civil, encontrando essas informações e fazendo algo com elas.”

FONTE: IT FORUM 360