Ferramenta reduz custos com consultas, exames e internações

Solução de healthtech mede a quantidade e a real necessidade de procedimentos médicos.

Victor de Andrade: “Enfermeira treinada consegue traçar agenda multidisciplinar para seguir o melhor caminho” — Foto: Divulgação

Ciente de que a transição do modelo tradicional de remuneração para um sistema de valor exige mudanças nas práticas de pagamento, infraestrutura de TI, cultura dos prestadores de serviço e até na legislação, o médico Cesar Luiz Abicalaffe usou o conhecimento adquirido no mestrado fora do país para criar, em Curitiba, a startup 2iM, que ajuda a organização de escritórios de valor em saúde dentro das operadoras de planos de saúde. A proposta é criar um modelo de cuidado no qual o desfecho clínico – eficiência no tratamento dado ao paciente – será protagonista. A healthtech oferece ferramentas que medem de maneira padronizada, o número de consultas, exames e internações realizadas e a real necessidade dos procedimentos juntamente com os desfechos possíveis e a experiência do paciente.

Em seis meses de uso da ferramenta, a Unimed de São José do Rio Preto (SP), uma das primeiras a adotar o sistema de escore de valor em saúde, conseguiu uma redução de R$ 500 mil no custo gerado pelas consultas. A economia foi possível, afirmam, porque deixaram de serem realizadas consultas e exames de alta complexidade que não eram necessários.

“Qualquer modelo simples de remuneração pode ser modificado para lógicas de pagamentos baseadas em valor, desde que parte da remuneração seja condicionada ao valor gerado ao paciente. 70% dos indicadores são focados em qualidade e 30% em custo”, afirma Abicalaffe. “O pagamento variável acontecerá a partir de diversas opções determinadas pelo gestor, mas sempre vinculado à melhoria de resultados operacionais e redução de desperdícios”. A meta, segundo ele, é até dezembro rodar o sistema em 50 instituições de saúde, entre cooperativas e medicinas de grupo hospitais – um crescimento de 150% em relação a 2023. O investimento para implantação varia de R$ 60 mil a R$ 80 mil por ano por instituição.

O A.C.Camargo Câncer Center foi um dos primeiros a adotar o sistema de navegação para portadores de câncer. Desenvolvido nos Estados Unidos, o programa consiste em melhorar a jornada de cuidado do paciente, a fim de garantir o cumprimento do tratamento, reduzir as taxas de não comparecimento às consultas e colaborar para um resultado melhor, com mais eficiência, além de oferecer suporte emocional. Na ponta, a adoção da navegação somada a uma gestão de saúde pautada em dados, com foco na qualidade e não na quantidade de procedimentos, diminui os gastos e desperdícios.

Segundo o Global Oncology Trends 2022, serão gastos US$ 242 bilhões este ano com oncologia em todo o mundo. Montante que, segundo os especialistas, poderia ser diminuído com a adoção de novas práticas de acompanhamento da jornada do paciente. “A pessoa sozinha não dá conta de pensar o caminho certo, na velocidade certa, a fim de encontrar o melhor desfecho no tratamento da doença, no menor tempo e com menor custo”, diz Victor Piana de Andrade, CEO do A.C.Carmargo.

“A navegadora, que no nosso caso é uma enfermeira treinada, consegue traçar uma agenda multidisciplinar para seguir o melhor caminho na velocidade ideal da jornada, segundo o protocolo de cada paciente”. Para exemplificar a importância de se seguir à risca o protocolo, ele observa que, para um câncer de cérebro, uma semana pode ser tarde para uma cirurgia, enquanto um câncer de próstata não deve ser removido antes de 40 dias após feita a biópsia.

Com 12 centros de referência e uma média de 8 mil novos pacientes/ano, o A.C.Camargo conta com 16 enfermeiras navegadoras, que acompanham portadores de 50 diferentes tipos de tumores. Desde 2017, já foram navegados mais de 11 mil pacientes e formados novos profissionais para o mercado. “Cada paciente navegado portador de câncer do colo-retal, com ciclo de acompanhamento de 150 dias, sendo 60 antes da cirurgia e 90 dias pós, custa R$ 25 mil a menos para o A.C.Camargo”, diz Andrade. Em 2022, foram evitados 2.967 dias em UTIs pós-cirurgia, uma economia de diárias hospitalares de R$ 10,3 milhões.

FONTE:

https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/gestao-da-saude/noticia/2024/04/08/ferramenta-reduz-custos-com-consultas-exames-e-internacoes.ghtml