Startups encaram presidência do Brasil no G20 como vitrine

Associação brasileira do segmento está à frente de grupo de engajamento que tem como eixos práticas ESG, investimentos e regulação.

As startups brasileiras vislumbram o G20, presidido temporariamente pelo Brasil, como uma vitrine para o ecossistema local. Os diferentes estágios regulatórios e de políticas públicas, no entanto, podem ser barreiras para uma cooperação efetiva entre os membros do grupo de maiores economias do mundo na discussão sobre o modelo de negócio das pequenas e médias empresas de base tecnológica.

A leitura é de empreendedores e especialistas que acompanham as discussões do Startup20, um dos 13 grupos de engajamento que representam os interesses da sociedade civil junto aos líderes das potências mundiais. A discussão sobre o tema é uma novidade recente no bloco econômico já que o núcleo de startups foi oficializado ano passado, durante a presidência indiana do G20.

A criação de um ambiente exclusivo para discutir as demandas das startups se deu em um contexto desafiador para o setor de tecnologia, com a retração no volume de aportes financeiros em cenário global de escalada de juros e da inflação, após um ápice em 2021.

Sob liderança brasileira desde o fim do ano passado, as pautas estratégicas do grupo giram em torno de três pilares: ESG, investimentos e políticas ou regulação. O grupo já realizou duas reuniões presenciais. A primeira, em Macapá (AP), teve como objetivo jogar luz sobre as iniciativas da região amazônica. O grupo voltou a se reunir na semana passada durante o Web Summit Rio, evento de inovação realizado na capital fluminense.

Presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Ingrid Barth defende que o Brasil use o fórum mundial para despontar na liderança de temas como regulação, no qual é pioneiro, e em eixos como transição energética e meio ambiente.

“A gente tem que sentar nessa cadeira e se firmar como uma liderança”, defende Barth. A Abstartups representou o Brasil no fórum da Índia e está à frente das discussões deste ano.

O número global de startups é estimado em 4,5 milhões, tendo como base o universo do relatório de 2024 da organização Startup Genome, que será lançado em junho deste ano. O Brasil concentra cerca de 19 mil negócios do tipo, o que representa metade das 38 mil startups de toda a América Latina, segundo dados da plataforma de inovação Distrito.

Chefe de tecnologia da informação da Distrito, Gustavo Araújo avalia que o cenário é promissor no Brasil e na América Latina, apesar de desafios como o acesso a capital, burocracia e gargalos de infraestrutura.

“A presidência brasileira do G20 e do Startup20 é uma oportunidade para o Brasil destacar suas startups e atrair investimentos estrangeiros”, diz. “O grupo também pode contribuir na defesa de políticas favoráveis às startups, como incentivos fiscais, regulamentações flexíveis e apoio à inovação, além de fortalecer a colaboração entre a América Latina e outros países do G20”, enfatiza Araújo.

O mais recente relatório da Distrito indica que as startups da América Latina receberam no primeiro trimestre de 2024 o maior volume trimestral de recursos desde o quarto trimestre de 2022. Já os aportes no Brasil somaram US$ 347,1 milhões no primeiro tri deste ano, queda de 12,3% ante o mesmo período de 2023.

Presidência brasileira pode ajudar a atrair investimentos”
— Gustavo Araújo

Ano passado, na Índia, o Startup20 propôs ampliar para US$ 1 trilhão o investimento global voltado para startups até 2030.

Para Bruno Rondani, fundador da 100 Open Startups, plataforma que conecta empresas e startups, o objetivo é factível dado a participação de economias de peso no grupo econômico, como Estados Unidos e China.

“A questão é se a contribuição do Brasil será proporcional à sua dimensão econômica. Nesse sentido, temos que fortalecer os mecanismos públicos, o ‘venture capital’ e a ‘open innovation’.”

O documento final apresentado pelos chefes de Estado em Nova Déli não citou resoluções específicas para startups, mas apresentou compromissos de elevar para a ordem de trilhão os recursos destinados a projetos tecnológicos na área de sustentabilidade, com foco em soluções apresentadas por países em desenvolvimento.

É nesse cenário que o Brasil pode se beneficiar, projeta a presidente da Abstartups. “Essa cifras podem ser atingidas com o investimento em transferência tecnológica para países em desenvolvimento e por meio de investimentos diretos em projetos tecnológicos capazes de endereçar soluções relacionadas à sustentabilidade, como startups e PMEs que envolvam inovação e biotecnologia e bioeconomia”, diz. “E o Brasil está cada dia mais preparado para aproveitar essas duas frentes.”

Araújo defende que o fórum promova o multilateralismo, apesar de reconhecer que a cooperação efetiva dentro do bloco pode esbarrar em diferentes regulamentações e políticas. “A velocidade de evolução da IA também exige que o grupo mantenha alta frequência de trabalho para lidar com questões emergentes”.

FONTE:

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/04/25/startups-encaram-presidencia-do-brasil-no-g20-como-vitrine.ghtml