O laboratório pretende apresentar, em semanas, projetos que na empresa-mãe levariam meses para ficar prontos.
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Por que uma empresa que se diz inovadora desde a fundação, como a Gol, precisa de uma startup?
A gente percebeu que as sugestões de melhoria surgiam em velocidade superior à nossa capacidade de entrega.
No que o ambiente da Gol dificulta a produção de soluções?
A Gol tem capital aberto, com ações em bolsa no Brasil e nos Estados Unidos. Por questões de governança corporativa, é obrigada a seguir certos procedimentos e passar por auditorias. Isso obriga a empresa a trabalhar num modelo de desenvolvimento de soluções chamado waterfall, com grandes entregas num longo espaço de tempo. Um projeto leva entre seis meses e um ano para ficar pronto. Com a Gol Labs, podemos desenvolver rápido e testar rápido. Apenas o que der certo será passado para a TI da Gol e, aí sim, seguir o rito de validações da empresa. Um projeto que levaria de seis meses a um ano, eu consigo abreviar para entregas mensais.
No que a Gol Labs não é a Gol?
É uma empresa ligada à Gol, mas não tem e não precisa ter o mesmo modelo de governança. É uma startup. Tem sua receita, tem sua despesa, tem suas metas. A rede de computação da Gol Labs não se conecta à rede da Gol. Precisamos ter uma série de cuidados na Gol, contra cyber ataques e contra manipulações de números que poderiam afetar nossas demonstrações financeiras. Uma startup não precisa dessas preocupações.
Por que a empresa criou uma Gol Labs, para buscar soluções, e não uma Gol Ventures, para investir nas startups que encontraram?
Temos na Gol Labs duas vertentes: a inovação interna, com colaboradores e time multidisciplinar, e, sim, a inovação externa. Há uma pessoa na Labs atenta ao mercado. A Gol Labs não é uma aceleradora, mas ficamos olhando o que as startups desenvolvem. Se resolverem algum problema, nós buscaremos parceria. Foi o que fizemos com o reconhecimento facial: pegamos o algoritmo de uma startup e acoplamos ao nosso aplicativo.
Como são formadas as equipes de trabalho?
O dono do projeto dá a cadência. Normalmente é um ex-funcionário da área de negócios que migrou para a Labs. O crew máster é um resolvedor de problemas. Desenvolvedores podem ser um ou dois, conforme o projeto. No caso de canais digitais, há um especialista em experiência do usuário. Temos equipes de três até seis pessoas. Vamos dosando a equipe conforme a necessidade. Concluído o projeto, a gente redistribui as pessoas para outros projetos.
Como incentivar a equipe a ousar?
A gente cria um modelo mínimo para aquela solução funcionar, e então testa. Se testou e não funcionou, joga fora imediatamente, perdendo menos dinheiro. As pessoas estão tranquilas. Sabem que podem testar e podem errar, porque estão errando no ambiente deles. Não está errando no ambiente da Gol e tirando o sistema da empresa do ar. De dez tiros que eles derem, se acertar dois está ótimo.
em algo diferente na sede da Gol Linhas Aéreas, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O prédio 19 ganhou luminárias de loja de decoração e paredes pintadas de preto, escritas com giz, diferentes do ambiente de escritório dos prédios vizinhos. “Não tenham medo de ousar”, pede um dos rabiscos. É a sede do Gol Labs, divisão da Gol com ares de startup, inaugurada na última segunda-feira. Nela trabalham nove pessoas: cinco transferidas da empresa-mãe e quatro – em especial, programadores –, contratados no mercado. O orçamento prevê mais dez funcionários até o fim do ano. Eles estão divididos em duas equipes, uma dedicada a melhorar a venda de passagens e outra, a vida do passageiro no aeroporto. Há quatro projetos em andamento, mais 26 na fila e a promessa de apresentar resultado nas próximas semanas. É novamente um cenário diferente do restante do prédio vizinho, onde projetos levam ao menos um semestre para ficar prontos. “Com a Labs, podemos desenvolver rápido e testar rápido”, diz Paulo Palaia, CIO da Gol que passa a acumular a chefia da Gol Labs.