Cientistas querem boicotar universidade por suspeita de construção de armas autônomas

MK II TALON, ROBÔ DO EXÉRCITO DOS ESTADOS UNIDOS. ELE É UM EXEMPLO DE USO DA ROBÓTICA NA CONSTRUÇÃO DE ARMAS LETAIS PARA USO MILITAR (FOTO: US NAVY/FLICKR)

O uso de inteligência artificial (IA) na criação de robôs de guerra – os chamados “killer robots” (robôs assassinos) – será discutido na próxima semana em um encontro das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça. Mas a universidade de KAIST, localizada na Coreia do Sul, já estaria investindo na produção deste tipo de arma, o que está causando revolta na comunidade científica internacional.

Mais de 50 pesquisadores das áreas de robótica e IA afirmaram que irão boicotar a instituição. Toby Walsh, professor da Universidade de New South Wales, no País de Gales, organizou o protesto e chamou atenção em comunicado para um início da corrida pela construção de armas autônomas. “Nós podemos ver protótipos de armas autônomas em desenvolvimento em muitas nações, entre as quais estão Estados Unidos, China, Rússia e Reino Unido”, disse. “Estamos presos a uma queda de braço que ninguém quer que aconteça. As ações da KAIST só aceleram esta corrida. Não podemos tolerar isto.”

O motivo para tal posicionamento foi um anúncio feito pela KAIST em fevereiro de que estaria lançando um centro de pesquisa em parceria com a Hanwha Systems, uma companhia de defesa sul-coreana. Segundo o veículo local The Korean Times, o objetivo seria “desenvolver tecnologias de IA para aplicá-las em armas militares” que “buscariam e eliminariam alvos sem controle humano”. Sung-Chul Shin, presidente da KAIST, respondeu em entrevista ao Times Higher Education: “Como instituição acadêmica, nós valorizamos os direitos humanos e os padrões éticos. KAIST não conduzirá nenhuma atividade de pesquisa que contrárias à dignidade humana, incluindo armas autônomas sem um significativo controle humano”.

Para Walsh, as explicações ainda mantêm “questões em aberto”. Para ele, o perigo da parceria entre KAIST e Hanwha é muito grande e devemos nos preocupar, como mostra o The Verge. “Se desenvolvidas, as armas autônomas permitirão uma guerra a ser realizada mais rápida e em uma escala maior do que antes vista”, disse.

Recentemente, nomes como o de Elon Musk assinaram um documento às Nações Unidos no qual alegavam que as armas sem intervenção humana podem desestabilizar o mundo e deveriam ser controladas por um tratado internacional. A iniciativa recebeu o apoio de 19 países, entre eles Argentina e Paquistão. Outros, no entanto, como Estados Unidos e Reino Unido, dizem que a legislação seria impraticável, visto que há dificuldade em definir o que constitui controle humano.

FONTE: ÉPOCA