Cidades Inteligentes, serviços disruptivos e consumidores conectados: as novas fronteiras do século 21

Investir em tecnologias Edge, Internet das Coisas (IoT), Machine Learning (ML) e Inteligência Artificial (AI) poderá difundir o sentimento de cidadania e democracia ao redor do globo.

Carros automáticos, casas inteligentes e até cidades interconectadas de maneira segura e eficaz (também conhecidas como Connected Smart Cities) são alguns dos avanços recentes que fascinam cidadãos, gestores e tomadores de decisões no setor público e na iniciativa privada. Para além do enorme potencial de transformar áreas como mobilidade, segurança e sustentabilidade urbana, essas novas tecnologias apontam para uma reformulação importante de como softwares, serviços e aplicativos serão desenvolvidos e disponibilizados ao público.

A origem dessa nova etapa no mundo dos negócios e no universo tecnológico tem um nome bem claro e preciso: chama-se Edge Computing. De maneira resumida, essa inovação nada mais é do que uma pequena rede de data centers que armazena, analisa e processa uma quantidade enorme de dados de forma local (o mais próximo possível do usuário final) para que decisões e procedimentos técnicos sejam agilizados (e muitas vezes automatizados) com o intuito de facilitar o dia a dia de equipes de Tecnologia da Informação (TI). Flexibilidade e assertividade são as principais características dessa inovação, que deve alcançar investimentos de US$ 208 bilhões em todo o mundo, segundo dados recentes da IDC.

Por outro lado, a fim de viabilizar essas transformações e expandir a jornada entre consumidores e fornecedores, organizações privadas e instituições públicas devem se planejar para o futuro. Saber de antemão o alcance, as estratégias e, sobretudo, o custo de implementações em seus ecossistemas é essencial não apenas para o desenvolvimento pleno de serviços e soluções como também fundamental na sustentabilidade das operações como um todo. Para o analista da Gartner Thomas Bittman, essa assertividade provém de uma particularidade da edge: “se a Cloud Computing transformou empresas pelo Backend (ou seja, graças às suas funcionalidades internas), a edge operará sua revolução pelo front end, quer dizer, com as aplicações que estão em contato direto com cliente”.

Em outras palavras, companhias e setores governamentais devem ter em mente que os avanços tecnológicos são apenas a primeira etapa de suas jornadas digitais, as quais compreendem adoção, treinamento, adaptação e, por fim, incorporação desses novos valores e ferramentas. Nessa linha, dispor de fornecedores e consultorias que possam avaliar o estágio digital do ecossistema e que proponham soluções rápidas e assertivas configura-se como um componente-chave para a transformação dos ecossistemas e modernização da mentalidade com as expectativas e os paradigmas atuais.

Luz, segurança e wi-fi gratuito: chegamos ao futuro?

A promoção de áreas urbanas eficazes, programas de zeladoria competentes e cidadãos mais felizes com suas cidades relacionam-se diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), metas preconizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir paz e prosperidade para toda a humanidade. Nesse sentido, investir em tecnologias Edge, Internet das Coisas (IoT), Machine Learning (ML) e Inteligência Artificial (AI) poderá difundir o sentimento de cidadania e democracia ao redor do globo. Prova disso é uma avaliação recente da Forrester, que assinala que as inovações têm potencial de melhorar a vida em metrópoles e transformar o dia a dia no campo.

Redução de taxas de desemprego, aumento de produtividade nas colheitas, melhora da infraestrutura e ampliação de segurança para dados sensíveis dentro de redes públicas estão entre os benefícios diretos desses investimentos tecnológicos e culturais. Para se ter uma ideia da grandeza desses empreendimentos, só nos Estados Unidos serão investidos quase US$ 90 bilhões para a reestruturação de megalópoles como Nova York, Chicago e Los Angeles nas áreas de mobilidade, energia e segurança urbana e cerca de outros US$ 50 bilhões para capacitação da agricultura 5.0 em maquinário, conhecimentos técnicos e, sobretudo, qualificação de força produtiva.

Para efetivar essas transformações e permitir que os cidadãos possam aproveitar as comodidades da região e se integrar à cultura local, é preciso que uma estrutura robusta de comunicações esteja disponível em logradouros públicos, como parques, museus, e até pontos de ônibus. No ano passado, o 5G e suas inovações correlatas foram grandes responsáveis pela ampliação de serviços e consolidação de ferramentas para conectar cidadãos, governos e aplicações de empresas privadas dentro e fora da esfera digital. Por outro lado, a despeito dos avanços que tivemos nos últimos dois anos com a 5ª geração tecnológica de redes móveis, os processos de empenho e adequação de tecnologia tomam tempo e demandam que vários atores (governos, empresas e sociedade civil) trabalhem em conjunto para a solidificação dessas iniciativas.

Assim, não é por acaso que o Brasil lançou sua primeira carta de intenções para implementação de Cidades Inteligentes apenas recentemente. Em parceria com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), agência de cooperação alemã, o governo brasileiro elaborou um documento em que detalha as oportunidades e obstáculos na efetivação de Smart Cities em todo o território nacional. Entre seus muitos pontos, um dos destaques do texto é a preocupação do governo em proporcionar a inclusão digital, por meio de redes públicas de wi-fi ou quaisquer outras plataformas de conexão, de maneira sustentável, consciente e por meio de tecnologias auto-regenerativas, de forma a resolver os principais problemas urbanos e potencializar novas soluções criativas de corporações e cidadãos.

É certo que algumas cidades como Curitiba, Florianópolis, São Caetano do Sul e Niterói já podem ser consideradas Smart Cities por englobarem uma série de avanços nas áreas de mobilidade, saúde, zeladoria pública e economia que utilizam softwares e soluções de Edge Computing. No entanto, poucas metrópoles brasileiras apresentam sistemas completamente integrados a todas as áreas urbanas e, muitas vezes, há uma série de gargalos na condução, criação e disponibilização de programas públicos de inteligência, sem falar que a capacitação de profissionais para o gerenciamento desses centros é enxuta, devido à baixa de mão de obra qualificada para atuar nesses ambientes, muitas vezes em falta no mercado.

Se aplicada corretamente, a edge computing tem potencial de transformar a vida de consumidores, cidadãos e governantes em um piscar de olhos. Um exemplo dessa tecnologia disruptiva foram os efeitos produzidos em Estocolmo, capital sueca e liderança no quesito de Smart City pelo projeto europeu GrowSmarter. Segundo o júri da iniciativa, para além dos programas sociais, econômicos e ecológicos, o grande trunfo da metrópole está em utilizar diferentes metodologias digitais para armazenamento, análise e utilização de dados em prol da população. Essas inovações baseadas em dados permitem que a cidade tenha um sistema de tráfego e transporte urbano dinâmicos, usinas de energia semiautomáticas e serviços públicos de ponta — como água, eletricidade, coleta de lixo e wi-fi — sem intervenção humana direta, ou seja, de forma autônoma.

Para habilitar essa tecnologia como em grandes centros tais quais Chicago, Copenhague e na própria Estocolmo, não basta dispor de tecnologias de ponta nem soluções de última geração. Para se ter uma ideia, essas três metrópoles citadas só tiveram êxito em seus projetos de modernização digital quando incluíram programas de capacitação tecnológica e de treinamentos específicos de softwares em seus projetos de cidades inteligentes.

Ou seja, o sucesso de uma metrópole do século 21 tem relação direta com qualificações de profissionais envolvidos na cadeia de serviços. Assim, uma cidade inteligente não é aquela que apresenta estruturas físicas robustas, dentro da edge e com soluções de nuvem de ponta, mas sim aquela que se desenvolve por meio de um ecossistema de comando integrado, o qual envolve, hardware, software e, sobretudo, engenhosidade humana para operar, automatizar e fiscalizar esses empreendimentos.

Open source encurtando o caminho da jornada digital

Se há uma série de obstáculos ainda a serem superados nas áreas de investimento, desenvolvimento e capacitação em instituições públicas e companhias privadas, softwares e soluções de código aberto têm despontado como alternativas estratégicas e de baixo custo para a evolução de ambientes de tecnologia da informação e para serviços na ponta (na edge) do cliente. Um indicativo dessa crescente popularidade é a pesquisa “O Estado do Open Source Empresarial”, realizada com quase 1.300 lideranças globais de tecnologia, na qual 80% dos entrevistados afirmam que esperam soluções emergentes e novas estruturas baseadas em código aberto.

Dessa forma, não é uma surpresa que cerca de 71% dos ouvidos acreditem que a resposta para destravar e amplificar as potencialidades da Edge Computing, IoT, Machine Learning e IA, fundamentais para viabilizar Smart Cities, também se baseiem em aplicações open source. De acordo com o estudo, essas soluções não apenas são as mais rentáveis no mercado, como também são as melhores opções para fundamentar estratégias de vanguarda. Seja para organizar o tráfego urbano e planificar as rondas ostensivas nas cidades, seja para viabilizar aplicativos, serviços e demais utilidades na palma da mão de cidadãos, o código aberto apresenta as respostas mais assertivas, inovadoras, ágeis e que promovem escala em todo o ecossistema em que está inserido.

A despeito da engenhosidade da mentalidade open source e de grandes avanços que os códigos abertos proporcionam, acreditar que apenas a adoção de tecnologia, ou contratação de serviços de consultoria, seriam um elixir mágico é um erro passível de demolir iniciativas incríveis e desmoronar a criatividade de empresas e organizações. É preciso formular uma nova mentalidade e moldar uma cultura alinhada com as necessidades e as demandas de um mundo sempre em transformação, cada vez mais conectado e com todos os olhos nos lançando dúvidas e perguntas, o tempo todo.

Nessa linha, não são apenas as cidades que devem ser inteligentes. Construir ambientes digitais que possam ser cada vez mais autossuficientes para prospectar, desenvolver e envolver novos agentes de forma ativa será um dos requisitos para otimizar equipes e uma vitrine cristalina em que parceiros, consumidores e cidadãos depositarão expectativas e contribuirão com suas opiniões e percepções.

Em poucas palavras, o novo já amanheceu no hoje com a janela aberta para o mundo. Para alcançá-lo, velhas tradições e antigas premissas precisam ser arejadas com ventos de longe e correntes próximas, colocando em equilíbrio aquilo que é possível e o que é desejável no porvir. Nesse futuro, que ainda não tem nome, endereço e nem rosto, ter ao nosso lado conselheiros e estrategistas pode transformar nossa trajetória em territórios incertos em uma sólida experiência de conquista, aprendizado, e sobretudo, compartilhamento com os demais. Os caminhos pelo século 21, pela era digital, podem ser sinuosos e traiçoeiros, no entanto, se percorremos a estrada da inovadora tecnologia open, ciência e cooperação, nunca faremos a travessia sozinhos.

FONTE:

https://epocanegocios.globo.com/tecnologia/coluna/2023/06/cidades-inteligentes-servicos-disruptivos-e-consumidores-conectados-as-novas-fronteiras-do-seculo-21.ghtml