A tecnologia por trás do WeChat, super app com mais de 1 bilhão de usuários

Modelo de miniprogramas tornou-se exemplo mundial de inovação, mas tecnologias de ponta ainda são pouco utilizadas no WeChat

WeChat é um dos aplicativos mais populares do mundo com mais de um bilhão de usuários diários. Em comparação a outros apps de mensagens, o chinês só fica atrás do WhatsApp, que tem cerca de 1,5 bilhão de usuários. Entretanto, o WeChat, que pertence à gigante Tencent, tornou-se muito mais que um software de conversas virtuais nos últimos anos.

 Hoje, ele é considerado um super app: um ecossistema completo que reúne jogos, pagamentos e praticamente qualquer serviço que uma pessoa pode necessitar no dia-a-dia. Criar um sistema operacional próprio, em que qualquer empresa pode hospedar seu serviço dentro do app mudou o patamar do WeChat globalmente. Os softwares integrados ao aplicativo foram chamados de miniprogramas.

Joseph Leveque, sócio da 31Ten, uma agência especializada em desenvolver soluções para o WeChat, acredita que implementar os miniprogramas foi a principal atualização em tecnologia do app nos últimos dois anos. “Criaram um ecossistema interno que é único e se tornou um modelo para o mundo inteiro”, diz. Desde então, o WeChat virou uma inspiração para grandes empresas de tecnologia do mundo todo – como Facebook, Amazon e Rappi – que querem se tornar os próximos super apps.

Mensagens, momentos e miniprogramas

O WeChat tem três seções principais: o serviço de troca de mensagens, a linha do tempo social (similar ao Facebook, por exemplo) chamada de “momentos” e o ecossistema de miniprogramas. Entretanto, há pouca integração entre as três funções. “É um pouco rígido”, afirma Leveque. Segundo o especialista, as únicas formas de levar o usuário de uma área para outra são por meio de anúncios ou gerando e publicando QR Codes nos momentos.

“Tecnicamente, além da grande inovação que foram os miniprogramas, o WeChat está atrasado diante da concorrência mundial em relação à atualização tecnológica”, afirma Joseph Leveque. “Implementaram o streaming ao vivo basicamente dois anos depois de todas as outras redes sociais. E só agora estão começando a utilizar realidade aumentada, por meio de uma API de terceiros”, exemplifica.

Para não ficar desatualizado em relação à concorrência, alguns recursos – como é o caso da realidade aumentada – são adotados por meio de APIs de outras empresas, inclusive ocidentais. Isto acontece, por exemplo, com os ChatBots, adotados por diversas contas oficiais de empresas no serviço de mensagens do WeChat.

Tecnologias de Inteligência Artificial e Machine Learning, por outro lado, são adotadas principalmente em duas funções do aplicativo. O primeiro é a conversão de fala em texto, amplamente utilizada na China, com boa assertividade e melhora contínua. O segundo é a filtragem automática – ou censura – do conteúdo publicado na plataforma.

Censura hi-tech

O governo chinês responsabiliza plataformas online pelos conteúdos publicados nela, e impõe uma série de restrições sobre os assuntos que podem ser discutidos. Por isso, as empresas de tecnologia são encarregadas de criar mecanismos de censura sobre os usuários. O WeChat usa algoritmos de inteligência artificial e machine learning para controle do conteúdo.

“É fato que o WeChat tem ferramentas automáticas de reconhecimento de texto e imagem que evita publicações principalmente de caráter político e relacionados ao governo”, afirma Clement Ledormeur, diretor geral da 31Ten.

A Universidade de Toronto publica desde 2016 uma série de estudos sobre a tecnologia por trás da censura do WeChat. As pesquisas do Citizen Lab verificaram uma série de particularidades em relação aos conteúdos bloqueados na maior rede social da China. Veja, abaixo, algumas das características da censura do WeChat.

Assuntos vetados

A censura automática do WeChat afeta conteúdo em texto, em imagem e também websites no navegador interno do aplicativo. São bloqueados pelo sistema assuntos relacionados à política internacional, disputa comercial entre EUA e China, eleições norte-americanas, críticas ao presidente Xi Jinping e ao Partido Comunista como um todo, violência explícita, armas, apostas e pornografia.

Falta de transparência

Antes de 2015, quando um conteúdo era bloqueado pelo WeChat, o usuário era avisado. Uma atualização naquele ano passou a apenas deletar conteúdos postados no WeChat Moments, a rede social do app. Em caso de mensagens privadas ou em grupo, em texto ou vídeo, elas não chegam até os destinatários, sem nenhum tipo de alerta para todos os envolvidos.

Liberdade para estrangeiros

Usuários do WeChat cadastrados com um número de telefone de fora da China estão praticamente livres da censura do aplicativo. Apenas mensagens, links, websites e imagens de pornografia e apostas, que são proibidas no país asiático, são deletados. Conteúdo político está liberado, segundo o estudo da Universidade de Toronto.

Automação e inteligência artificial

Mensagens trocadas entre usuários são analisadas em tempo real por um algoritmo de inteligência artificial que identifica os temas restritos e consegue bloquear o envio do conteúdo, que não chega ao destinatário. Em caso de imagens, o sistema compara as características com uma base de dados de outras fotos censuradas para definir a restrição.

No caso das publicações do WeChat Moments, porém, este processo é ligeiramente mais demorado. Isto significa que posts sensíveis podem ficar expostos na plataforma por até 60 segundos antes do algoritmo retirar o conteúdo do ar.

O algoritmo também pode classificar uma mensagem ou publicação como potencial ameaça ao governo, e o envia para avaliação de um responsável humano.

Machine learning e dinamismo

Os pesquisadores canadenses verificaram que uma foto censurada, ao ser reenviada em outro momento por uma conta diferente, pode ser liberada pelo sistema. Isto é um indicador de que a censura é dinâmica. Como a base de conteúdos e dados do WeChat está em constante crescimento, o algoritmo também evolui com técnicas de Machine Learning. A tecnologia se desenvolve em especial na análise de imagens que contém texto.

FONTE: STARTSE