O mesmo destino da Kodak pode acontecer com qualquer empresa hoje em dia. Por isso é importante, na visão de Diamandis, compreender e internalizar a estrutura dos 6Ds.
O primeiro “D”: Digitalização
Ao inventar a câmera digital, a Kodak transformou seu negócio de memórias. De imagens captadas em filmes e armazenadas em papel (processo físico), passou a viabilizar imagens captadas e armazenadas com zeros e uns (processo digital).
Porém, embora tenha tomado uma iniciativa ousada, a Kodak não foi capaz de perceber o potencial do novo negócio digital e manteve o mesmo modelo negócios de sempre. Ao tomar essa decisão, a empresa “sepultou sua própria cova”.
Todo empreendedor deve saber que qualquer coisa passível de ser digitalizada pode se disseminar a uma velocidade impressionante — e se tornar disponível a qualquer pessoa do mundo para ser reproduzida e compartilhada.
Quando um processo ou produto é digitalizado — passando do meio físico para o meio digital –, ele passa a adquirir poder exponencial. É por isso que, para obter sucesso no mercado, todo empreendedor deve entender o “D” de digitalização.
O segundo “D”: Decepção
A Kodak não teve paciência para aguardar o crescimento exponencial de sua mais nova tecnologia (câmera digital), preferindo permanecer no negócio tradicional de câmeras e filmes tradicionais, que oferecia retornos financeiros certos.
Em resumo, a empresa não compreendeu que, após a digitalização, vem a decepção — o período no qual o crescimento exponencial está disfarçado e passa quase despercebido.
Nessa etapa, a duplicação de números pequenos produz resultados tão minúsculos que, muitas vezes, se confunde com o lento progresso do crescimento linear (incremental).
Imagine a primeira câmera digital da Kodak dobrando de 0,01 megapixel para 0,02, de 0,02 para 0,04, de 0,04 para 0,08. Para o observador desatento, todos esses números parecem zero. No entanto, há uma grande mudança no horizonte. Como essas duplicações rompem a barreira dos números inteiros (tornando-se 1, 2, 4, 8 etc.), estão a apenas 20 duplicações de distância de uma melhoria de 1 milhão de vezes e a somente 30 de 1 bilhão. — Peter Diamandis
É a partir desse momento que o crescimento exponencial — até então dissimulado e pouco perceptível — passa a se tornar visivelmente disruptivo.
O terceiro “D”: Disrupção
A câmera fotográfica digital criada na divisão de aparelhos da Kodak, por iniciativa do engenheiro Steven Sasson, era do tamanho de uma torradeira, tinha resolução de 0,01 megapixel, pesava quase 4 quilos e tirava até 30 imagens digitais em preto e branco.
A invenção foi apresentada aos executivos da Kodak durante uma reunião em 1976, mas a empresa acreditou que a proposta de Sasson não era interessante por duas razões.
Primeiro, porque a câmera levava 23 segundos para disparar e armazenar fotos de 0,01 megapixel. A olhos dos dirigentes da Kodak, a máquina estava mais para um brinquedo do que para uma tecnologia com potencial de gerar lucros no futuro.
Segundo, porque a adoção imediata da câmera digital — e o consequente investimento na tecnologia — prejudicaria os negócios de produtos fotoquímicos e papéis fotográficos. Na visão dos executivos, isso forçaria a Kodak competir contra si mesma.
Os executivos da Kodak estavam mais preocupados com os resultados trimestrais dos negócios, e não perceberam a disrupção que logo seria causada pela nova tecnologia em crescimento exponencial.
Em termos simples, uma tecnologia disruptiva é qualquer inovação que cria um mercado e abala outro já existente. Infelizmente, como a disrupção sempre sucede a decepção, a ameaça tecnológica original com frequência parece ridiculamente insignificante. — Peter Diamandis
Quando a Kodak percebeu o erro, era tarde demais. Já não era mais possível acompanhar a digitalização do setor, e os problemas começaram a aparecer. A empresa se tornou mais uma história de alerta sobre a natureza disruptiva das tecnologias exponenciais.
Todo empreendedor que almeja iniciar um negócio ou montar uma startupdeve saber que esse tipo de ruptura é constante na era exponencial em que vivemos.
O quarto “D”: Desmonetização
Em 1996, a Kodak dominou completamente o mercado. Com mais 140 mil funcionários, a empresa possuía uma capitalização de mercado de US$ 28 bilhões. Somente nos Estados Unidos, controlava 90% de mercado de filmes e 85% do mercado de câmeras.
No entanto, em 2008 — um ano após o lançamento do iPhone, o primeiro smartphone com câmera digital de alta qualidade –, o mercado da Kodak não existia mais. Com o surgimento do iPhone, os fluxos de receita da Kodak evaporaram. A criação de Steve Jobs retirou o dinheiro da equação.
A tecnologia tem a capacidade de tornar um produto ou serviço em algo substancialmente barato (ou mesmo gratuito). Isso é desmonetizar — é o que Peter Diamandis chama de “desmonetização”.
Com o surgimento do iPhone — e toda a série de smartphones que o sucedeu — qualquer um poderia ter sua própria câmera digital, em forma de aplicativo gratuito, e salvar as fotos no próprio smartphone. A compra de filmes fotográficos não fazia mais sentido.
Todo empreendedor deve compreender que bilhões de produtos e serviços estão mudando de mãos sem custo na medida em que a tecnologia fica mais barata.
Hoje, podemos baixar um sem número de aplicativos em nossos smartphonespara acessar bytes de informação e explorar a multiplicidade de serviços a custos próximos de zero.
O Napster desmonetizou a indústria de música. O Craiglist, os anúncios classificados. O Skype, a telefonia de longa distância. A Uber está desmonetizando o transporte urbano. A Airbnb está demonetizando o setor de hotelaria.
O iPhone abriu a possibilidade de armazenar imagens digitais em uma câmera digital “de bolso”, o filme fotográfico foi totalmente desmonetizado. O dinheiro saiu da equação.
O quinto “D”: Desmaterialização
Além de perder a liderança no mercado que uma vez dominou, a Kodak, em pouco tempo, observou o próprio filme fotográfico desaparecer. Como ninguém mais comprava filme em rolo, o produto foi desvanecendo, até sumir completamente.
Mas o mais incrível é que, como consequência do desparecimento do filme fotográfico e do surgimento dos smartphones, a própria máquina digital se desmaterializou. A câmera passou a vir de forma gratuita com a maioria dos telefones.
O que antes era físico, passou a ser digital — se desmaterializando. E não apenas a câmera digital se desmaterializou, como o GPS, o gravador de voz digital, o relógio digital, a câmera de vídeo, o reprodutor de vídeo, o reprodutor de música, dentre outros.
Ninguém está mais comprando câmeras. Hoje, todos esses dispositivos estão dentro de nossos smartphones, em forma de aplicativos para download gratuito.
O sexto “D”: Democratização
Embora os clientes da Kodak gostassem muito de tirar fotos, a diversão se dava mesmo no momento de imprimir as cópias e compartilhá-las. Como não era possível ver com exatidão como as fotos “estavam”, os clientes preferiam pagar para imprimir todas elas.
Só que nem todos tinham condições econômicas de imprimir fotos à vontade. Os custos de revelação eram altos. Porém, o surgimento da câmera digital trouxe a possibilidade de saber, de antemão, quais fotos eram boas para imprimir e quais poderiam ser apagadas.
As pessoas começaram a criar o hábito de não mais imprimir todas as fotos. Passou a ser mais conveniente armazenar as imagens na memória dos smartphones e apenas imprimir as fotos marcantes. Com a popularização de sites como Flickr e Imgur, o compartilhamento de imagens se tornou gratuito, rápido e democratizado.
A democratização é o fim de nossa reação em cadeia exponencial, o resultado lógico da desmonetização e da desmaterialização. É o que acontece quando objetos físicos são transformados em bits e inseridos em uma plataforma digital em volumes tão altos que seu preço se aproxima de zero. — Peter Diamandis
O que podemos aprender com os 6 Ds das tecnologias exponenciais?
O destino trágico da Kodak nos mostra o quanto o pensamento exponencial é poderoso e o quanto deve ser internalizado por aqueles que desejam empreender no mundo de hoje.
O modelo dos 6Ds, de Peter Diamandis, nos permite acompanhar o ciclo de vida de uma tecnologia em crescimento exponencial. Eles são um roteiro para ilustrar o que pode acontecer quando uma tecnologia exponencial nasce.
Nem todas as fases são fáceis, e muitas pessoas desistem no meio do caminho. Porém, os resultados dão até mesmo a pequenas equipes o poder de mudar o mundo. E o principal: de uma forma mais impactante e rápida do que o negócio tradicional jamais permitiria.
Existem inúmeras inovações aplicáveis que se encaixam na estrutura dos 6Ds. Para atingir o sucesso no mercado do futuro, todo empreendedor deve pensar sobre quais tecnologias estão hoje trilhando seu caminho através do ciclo de vida acima.
Identificar essas tecnologias é a chave para saltar para o reino do empreendedorismo exponencial. E, para empreendedores exponenciais, o futuro está vibrando com oportunidades disruptivas.
Fonte: Futuro Exponencial