O que eu aprendi sobre carros autônomos ao visitar a CES 2018

Eles receberam grande atenção na feira de tecnologia, o que pode dar a sensação de que poderão chegar às nossas garagens a qualquer momento. Mas antes de poder comprar um, espere por muitos testes com táxis-robôs e Ubers autônomos

Estamos em 2018 e uma rápida avaliação do pavilhão da CES (Consumer Electronic Show) dedicado à indústria automotiva dá uma noção clara de que a sua carteira de motorista não valerá de muita coisa daqui a um tempo.

Durante a feira foram inúmeros os anúncios ao redor da mobilidade do futuro. Em resumo, toda montadora que se fez presente tinha algo em mente para o transporte autodirigido e não só elas, fabricantes de processadores, sensores e de serviços também seguiram o mesmo tom.
Com todo esse hype ao redor de carros autônomos na maior feira de tecnologia do mundo, você até pode pensar que eles estarão dobrando a esquina em alguns anos. Não é bem assim. Algumas montadoras se comprometeram com prazos um tanto apertados, mas há aquelas que colocam o ano de 2030 como factível para você não ser mais útil à direção.
Mas vamos a um resumo do que foi apresentado na CES em relação aos carros autônomos. A Mercedes-Benz apresentou o seu Smart Vision EQ Concept (ilustrado na foto abaixo). É um compacto de formas arredondadas com capacidade para duas pessoas. Sem freios e tampouco um volante, o modelo tem um painel interativo para você se entreter ou ajudar você a ser mais produtivo. Em todo caso, trata-se ainda de um conceito com uma data um tanto distante para acontecer: 2030.
Veículos sem volante e pedais também integram a visão da General Motors, que anunciou na última sexta-feira (12) que planeja produzir em massa carros sem tais recursos até 2019. Vale pontuar que a GM já testa modelos Chevy Bolts elétricos em ruas públicas de São Francisco e Phoenix e espera lançar veículos autônomos para corrida compartilhadas em algumas cidades dos Estados Unidos.
A Toyota revelou o e-Palette, uma espécie de van elétrica autônoma que poderá ser adaptada conforme a necessidade do cliente, seja ela para entregas de pizza ou suas compras na Amazon ou até mesmo para montar uma loja temporária ou um escritório móvel. Apresentado inicialmente na CES 2017, o Concept-i da montadora japonesa também estava na edição deste ano. O carro ainda traz os – em breve datados – pedais e volante e o grande trunfo parece residir na assistente inteligente ativada por voz que, durante todo o trajeto indica as melhores rotas e serviços personalizados para os passageiros.
A Hyundai Motors revelou que começará a testar um utilitário esportivo autônomo e que planeja lançar o modelo até 2021. Batizado de Nexo, o automóvel foi apresentado também na CES e será resultado de uma parceria com a startup Aurora, formada por ex-executivos do Google, Tesla e Uber.
Já o grande destaque da Ford não foi propriamente um carro, mas sim o anúncio de uma plataforma em nuvem aberta para carros conectados e serviços. A ideia é abrir a tecnologia para empresas parceiras e governos para atender e adiantar a demanda das cidades inteligentes.
SmartVisionMercedes
Mobilidade como serviço
Ficou claro durante a CES 2018 que as montadoras já reconhecem que elas não poderão depender exclusivamente das vendas de veículos para sobreviver. A medida que novas gerações se veem indiferentes à propriedade do carro em si, montadoras correm para criar negócios, tecnologia e parcerias para entregar o maior valor atrelado a ele: a mobilidade. Soma-se a isso a competição com empresas que há dez anos sequer estariam no radar das montadoras.
Em coletiva de imprensa durante a CES, Akio Toyoda, presidente da Toyota resumiu esse temor: “Nossos competidores não fazem mais apenas carros. Companhias como Google, Apple e até mesmo o Facebook são tudo o que eu penso a noite”.
A fabricante aproveitou o evento para anunciar a Mobility Services Platform. Trata-se de um software em desenvolvimento que habilitará a frota dos e-Palletes. A Amazon, Uber, Mazda, Pizza Hut e a chinesa Didi Chuxing concordaram em montar uma aliança que ajudará a levar o conceito da Toyota às ruas. Tais empresas, eventualmente, farão uso dos pods autônomos para seus serviços.
“Ao redor do mundo, a Toyota é claramente uma montadora bem conhecida e confiável de automóveis. Nós esperamos nos tornar da mesma forma relevantes como a companhia de serviços de mobilidade que nós construímos”, reforçou Toyoda.
E não só a Toyota e a Ford veem os carros, no futuro, como um serviço e não mais um bem durável. A principal concorrente da Uber nos Estados Unidos, a Lyft em parceria com a startup Aptiv forneceram corridas com um veículo autônomo durante a CES. Um motorista humano se manteve atrás do volante todo o tempo, mas o computador e os sensores que alimentam o carro fizeram grande parte do trabalho de levar visitantes a seus destinos.
O valor das parcerias para a indústria 
A Nvidia também aproveitou a CES para anunciar que a Volkswagen e o Uber usarão suas tecnologias de direção autônoma. A montadora alemã fará uso da plataforma Drive IX, basicamente um kit de desenvolvimento de software da Nvidia, em alguns dos seus novos modelos. Entre outras coisas, o carro da Volkswagen utilizará a tecnologia da Nvidia para criar um sistema de “copilotagem”, incluindo sistemas de conveniência e assistência com recursos de reconhecimento facial e controle por gestos, entre outros. Já a parceria com o Uber inclui os processadores de alto desempenho da Nvidia para rodar redes neurais profundas nas suas frotas de carros e caminhões autônomos.
Em evento para a imprensa, o CEO da Nvidia, Jen-Hsun Huang, comparou a produção de carros autônomos com a da indústria de aviação e que os painéis de carros deverão atuar como verdadeiros agentes da Inteligência Artificial: “Nós teremos que construir carros da mesma forma que fazemos os aviões”, pontuou.
O executivo reforçou a complexidade no desenvolvimento da tecnologia para carros autônomos. Segundo Huang, mais de 300 parceiros estão envolvidos no desenvolvimento da tecnologia com a Nvidia. Para ele, carros com nível 3 de autonomia e com as redundâncias de segurança necessárias estarão disponíveis em 2020. Com o nível 4 de autonomia, no final de 2021 e, curiosamente, táxis-robôs com nível 5 de autonomia no final de 2019. “De alguma forma construir um táxi-robô é mais fácil. Há muito mais sensores e um serviço de táxi-autônomo será delimitado por geolocalização”, ressalta.
O prazo coincide com o que Kate Sampson, Vice-presidente de Soluções de Risco da Lyft prevê para uma nova modalidade de corridas compartilhadas. Entretanto, no que tange a autonomia do transporte há uma série de questões complexas de infraestrutura e legislação, que ela ressaltou em painel que discutiu a responsabilidade sobre os riscos da direção autônoma.
“Quando penso na tecnologia autônoma, no número de representantes, de parcerias, de cidades construindo infraestrutura para nos atrair a testar a tecnologia em suas cidades, eu penso que esse é um cenário bem complexo para a regulação, eu espero que a regulação e a estrutura legal sejam estabelecidos para acompanhar o quão rápido essas tecnologias estão sendo desenvolvidas”. Segundo a executiva, o Lyft planeja transformar suas corridas em maioria autônoma até 2021.
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