Saint Paul lança assinatura de cursos online no estilo Netflix

 

Saint Paul: vários empreendimentos seguem o modelo de negócio da Netflix – e a escola de negócios não é exceção (Saint Paul/Divulgação)

São Paulo – O agitado mercado de cursos online ganhará um novo competidor de peso: a escola de negócios Saint Paul lançará nos próximos meses a plataforma LIT, com aulas da instituição em temas como empreendedorismo, estratégia, finanças, gestão de negóciosliderança e marketing.

O site funcionará em um modelo de assinatura mensal, similar a serviços como Netflix: por um custo mensal de 99 reais, o aluno tem acesso livre às 20 mil horas de conteúdo, incluindo 10 MBAs da Saint Paul.

As expectativas são altas: a escola de negócios espera conquistar 50 mil usuários no primeiro ano de plataforma, em um cenário conservador.

Visão de mercado e criação da plataforma

Segundo José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul e idealizador do LIT, a criação da plataforma veio da análise de como a transformação digital e a tecnologia mudaram o setor de educação.

“Eu vinha estudando a inovação disruptiva, de Clayton Christensen [especialista da Universidade de Harvard], há três anos. Fiz uma imersão em tecnologias e entender o que é transformação digital e como ela impacta negócios foi um aspecto importante”, conta Securato. “Não achávamos razoável sermos atropelados por alguma edutech [startup de educação]”.

Ele apresentou o projeto do que seria o LIT ao conselho da Saint Paul em novembro de 2016. Com a aprovação da ideia, a escola de negócios juntou à decisão os talentos da instituição e um capital de cerca de 12 milhões de reais. O resultado foi um plano de ação de doze meses.

O pipeline começou com a definição do grande diferencial do LIT em relação a outras plataformas de cursos online: para o presidente da Saint Paul, a novidade está no fato de que o conteúdo não apenas reproduz gravações de aulas comuns. Há uma reinvenção da forma de aprender e ensinar, voltada à internet – o negócio registrou patente no Brasil e nos Estados Unidos.

“Antigamente, você pensava a educação em estágios e chegava a um final – graduação, pós-graduação, mestrado ou doutorado. A gente se estruturava em termos mentais para o aprendizado, on e off, mas achamos que isso morreu”, afirma Securato. “Você tem que estar para sempre em aprendizagem – um conceito que chamo de on learning. Somos uma plataforma para a vida.”

Diferencias da plataforma

O LIT funciona como um Netflix: o usuário paga 99 reais por mês e tem acesso a diversos cursos de business, em áreas como estratégia, finanças, gestão de pessoas, governança, inovação, inteligência de mercado, liderança, marketing e projetos.

O aluno terá à disposição o conteúdo completo de 10 MBAs, 20 mil horas de conteúdo para aprendizado, mais de 1.500 exercícios e estudos de caso com resoluções passo a passo e uma biblioteca digital com mais de sete mil livros.

Securato considera que o preço é “acessível” para o consumidor final e “agressivo” para o mercado.

“Nossa ideia é que estamos concorrendo por um pedaço da carteira das pessoas, que terão o LIT em sua cesta mensal para sempre, e essa foi uma das nossas bases de precificação. Outro ponto foi a de economia compartilhada: todos pagam pouco para o bem de todos, o volume de pessoas irá compensar o baixo valor unitário. Tal movimento faz parte da lógica de entrar na nova economia.”

Para se destacar no mercado de cursos online, cheio de aulas gratuitas, o LIT se apoia em quatro grandes pilares: micromomentos; personalização do conteúdo; microcertificações; e redes sociais.

“Se você terá um lifelong learning, não faz sentido passar sua vida no ritmo de um MBA. Aprender em micromomentos é muito importante – é uma viagem de táxi ou uma hora de almoço em que você tem um insight de busca por aprendizado”, afirma Securato. Na prática, será possível colocar no LIT quanto tempo você tem e a plataforma mostrará uma listagem de conteúdos adequados.

No primeiro acesso, esse conteúdo é extenso. À medida que o usuário der mais cliques, porém, o conteúdo será personalizado de acordo com seus interesses.

Antes de ter alguma aula, o usuário também poderá fazer uma customização de aprendizado: pode realizar um teste online para eliminar tópicos que já conhece, restando apenas o essencial. Também são aplicados conceitos de aprendizagem adaptiva, apresentando-se os formatos de aprendizado em que o usuário desempenha melhor (vídeos ou textos, por exemplo).

“Quanto melhor a plataforma o conhecer, melhores serão os conteúdos apresentados. Não faz sentido todo mundo aprender da mesma forma, ainda mais falando em micromomentos. Em dez minutos, não adianta termos um conteúdo que muitos podem já conhecer.”

O terceiro diferencial do LIT são os nanodegrees, ou microcertificações. “Não há programas ou sequências obrigatórios – você constrói suas aulas como quiser, com foco em seu próprio objetivo, e obtém microcertificações ao longo do tempo. Essa é uma ideia que também casa bem com o conceito de micromomentos”, afirma Securato.

Todos os certificados do LIT são garantidos pela Saint Paul. A ideia é que o usuário tenha nanodegrees e, quando juntar o suficiente para obter um MBA, vá até a escola de negócios e valide seus créditos.

O último diferencial da plataforma são as redes sociais: os usuários podem criar fóruns específicos, curtir e comentar posts e realizar videoconferências. Tais chamadas são armazenadas na plataforma e viram conteúdo – a ideia é ter uma biblioteca de conferências, com discussões aprofundadas sobre cases específicos.

Telas de reprodução do aplicativo da plataforma LIT

Telas de reprodução do aplicativo da plataforma LIT (LIT/Saint Paul/Divulgação)

Inteligência artificial

Todos esses diferenciais são permeados por uma parceria fundamental da Saint Paul com a empresa de tecnologia IBM, criadora da plataforma de serviços cognitivos Watson. O acordo originou o “Paul”, um robô presente no LIT e dotado de inteligência artificial.

No começo de 2017, a escola de negócios contratou professores especificamente para ensinar Paul conceitos complexos de negócios e economia, além de frases que podem ser ditas por usuários (por exemplo, “O que é PIB?” ou “Conte-me mais sobre Produto Interno Bruto”).

Um robô programado entende comandos e palavras-chaves, e não intenções. Já um robô com inteligência artificial pode responder questionamentos formulados de maneira diferente, porque capta as intenções por trás da pergunta. Se não entender, consegue perguntar até descobrir. Paul, por exemplo, só responderá perguntas dos usuários se tiver 70% de certeza de que sabe o que está sendo questionado. 

“A inteligência artificial irá mudar o jogo da educação. Você não consegue ter um professor onipresente, mas uma plataforma sim”, afirma Securato.

A expectativa é que os professores tenham um trabalho permanente de ensinar Paul, já que novos conceitos e formas de perguntar sempre são adicionados. O robô não aprenderá com as respostas dos alunos – um conceito conhecido como machine learning – como medida de segurança contra a aprendizagem de conceitos errôneos.

FONTE: EXAME