Mudanças climáticas ameaçam a infraestrutura da internet, alertam cientistas

Redes de fibra ótica e centros de processamento de dados serão afetados – Mike Segar / Agência O Globo

MONTREAL — Com o clima em mutação, os cenários preveem que o aumento das temperaturas do planeta irá provocar a elevação do nível das águas do mar, pela expansão térmica e o descongelamento de geleiras. Caso as previsões se concretizem, cidades costeiras serão devastadas, espécies de plantas e animais serão extintas e, conforme alertaram cientistas nesta segunda-feira, o mundo pode ficar sem internet.

O estudo foi conduzido por pesquisadores das universidades Wisconsin-Madison e do Oregon, ambas nos EUA, comparando informações do Atlas da Internet — um mapa global da infraestrutura física da internet — com as projeções da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional sobre o impacto da elevação do nível do mar. Os resultados indicam que redes de fibra ótica, centros de processamento de dados e pontos de troca de tráfego serão afetados. E muito antes do que se imaginava.

A maior parte do dano previsto para os próximos cem anos acontecerá, cedo ou tarde — afirmou Paul Barford, professor de Ciência da Computação na Wisconsin-Madison, durante o evento Applied Networking Research Workshop, em Montreal, no Canadá. — Isso nos surpreendeu. A expectativa é que teríamos 50 anos para nos planejar, mas não temos todo esse tempo.

O estudo sugere que em 2033 mais de 6,5 mil quilômetros de cabos de fibra ótica e 1.100 pontos de troca de tráfego ficarão submersos, apenas nos EUA. As cidades americanas mais suscetíveis são Nova York, Miami e Seattle, mas os efeitos não ficarão restritos a essas regiões e devem afetar o funcionamento de toda a internet, alerta Barford, com potencial para interromper as comunicações globais.

As cidades litorâneas concentram grande parte da infraestrutura de internet, por serem pontos de conexão intercontinentais. Normalmente, os cabos aproveitam traçados já existentes e são enterrados nas margens de ruas e estradas. Diferente dos cabos submarinos, as redes de fibra ótica são apenas resistentes à água, mas não à prova d’água.

Quando a infraestrutura de internet foi construída, há 20 ou 25 anos, ninguém se preocupou com as mudanças climáticas — disse Barford.

Para o pesquisador, o impacto de medidas de mitigação, como a construção de barreiras de contenção, é difícil de prever, mas não devem ser eficientes no longo prazo.

— O primeiro instinto será fortalecer a infraestrutura, mas conter o avanço do mar é difícil. Provavelmente conseguiremos algum tempo, mas no longo prazo isso não vai funcionar — afirmou o especialista. — Este é um alerta. Nós precisamos começar a pensar em como resolver esta questão.

FONTE: O GLOBO