MinTech: a fintech que nasceu nos EUA, cresceu na China e chegou ao Brasil

Com soluções de análise de dados para previsão de risco de crédito, a startup vê ecossistema brasileiro com grande potencial de crescimento

Em 2015, os empreendedores chineses Mickey Li, Leo Zhao e Yi Liu fundaram a startup MinTech nos EUA. Os três trabalhavam em grandes empresas do mercado financeiro e estudaram em universidades norte-americanas. Familiarizados com o ecossistema local, portanto, decidiram criar no país uma plataforma digital para facilitar a obtenção de crédito por meio de instituições financeiras parceiras.

 Em menos de um ano, voltaram às origens e replicaram o negócio na China. O timing não poderia ser melhor: em 2016, o país passou por um ‘boom’ de fintechs, alavancado pelo crescimento do poder de consumo da classe média chinesa. “O mercado chinês ‘explodiu’. Já tínhamos uma plataforma estruturada e em operações nos EUA, e o esforço foi só de transportá-la”, diz Mickey Li, CEO da MinTech.

Desde então, a China tornou-se o principal mercado da startup. A MinTech já levantou US$ 50 milhões em investimentos, tem 700 funcionários e é uma das líderes globais do setor. Hoje, os planos da empresa passam pela expansão internacional, e o Brasil é visto como um mercado de grande potencial. “Já estamos negociando com alguns bancos brasileiros e eles se mostraram abertos à revolução das fintechs, que está definitivamente chegando ao Brasil”, revela Li.

Modelos de negócio

Segundo o CEO, a Mintech tem três pilares principais em seu negócio.

O primeiro é o serviço de crédito para o consumidor final (b2c), cujo maior diferencial está nas tecnologias de avaliação de risco e de inteligência artificial para conectar investidores aos clientes. Os softwares de análise de dados na nuvem acessam diversas informações do usuário para identificar padrões de comportamento e hábitos financeiros, a fim de criar uma “pontuação de crédito” personalizada. Em seguida, a plataforma indica às instituições financeiras parceiras potenciais clientes que estejam alinhados com suas estratégias de investimento.

O segundo pilar é a comercialização da tecnologia em si. Os softwares de análise de dados, avaliação de risco e ‘match’ entre investidores e clientes podem ser adquiridos por outras instituições financeiras, num modelo b2b.

Os negócios da MinTech fora das sedes principais, nos EUA e na China, se configuram como o terceiro pilar da fintech. No caso, a empresa também realiza o serviço de crédito e a venda da tecnologia, mas em modelos menos rígidos e alterando os softwares conforme as necessidades específicas de cada local. “Ajustamos nosso modelo de negócio de acordo com as particularidades de cada país. Temos de ser flexíveis”, afirma Mickey Li.

O ‘boom’ das fintechs na China

Para alcançar os impressionantes números para uma startup com apenas três anos no mercado, a MinTech surfou na onda do crescimento exponencial do consumo na China. “Posso ser sincero? Quando fundamos a empresa, não tínhamos ideia do quão rápido iríamos crescer. Não tínhamos ideia que o mercado de fintechs na China iria explodir desta forma”, diz o CEO.

Na visão de Mickey Li, existem três principais razões para o crescimento do setor – e, consequentemente, de sua startup. O primeiro é o investimento do país em educação e tecnologia. “Na última década, a China dobrou a quantidade de cursos universitários. Todo ano, são formados dezenas de milhares de estudantes, sendo cerca de 4 milhões de engenheiros. Isto alavancou o crescimento da economia digital”, afirma o empreendedor. Para termos de comparação, no Brasil, este número não chega a 100 mil por ano.

 A segunda razão está ligada ao volume de pessoas conectadas à internet em seus celulares todos os dias. Levantamentos de diversos institutos de pesquisa colocam este número entre 800 milhões e 1 bilhão de chineses. “E o consumidor na China está disposto a usar todo tipo de serviço financeiro online”, acrescenta o CEO da Mintech.

O terceiro motivo elencado pelo empreendedor chinês é o crescimento do poder de consumo da classe média. “O consumo desta classe cresceu e já corresponde a uma fatia significativa do PIB da China”, explica. “Para manter este consumo em alta é necessário crédito”.

O potencial do Brasil

A expansão internacional da MinTech passa por negócios na Ásia (Indonésia, Filipinas, Vietnam e Índia) e, mais recentemente, na América Latina, começando pelo Brasil. Representantes da startup vieram ao país em março deste ano para conhecer o ecossistema de fintechs, visitar instituições financeiras e procurar parcerias.

Executivos da MinTech visitam escritório do Nubank, em São Paulo

“O cenário brasileiro para fintechs tem grande potencial. Em primeiro lugar, é um mercado consumidor enorme. Os maiores bancos têm quase um monopólio, com 85% do mercado. Este cenário configura uma ótima oportunidade para o surgimento e crescimento de fintechs, principalmente com a grande adoção de smartphones”, diz Mickey Li.

Segundo o executivo, há uma particularidade interessante no país: os bancos chegaram a um momento em que, ao invés de resistir à transformação do mercado, estão incorporando a cultura de startup e as tecnologias de fintechs internamente. Isto cria uma ampla possibilidade de parcerias para a MinTech.

“Queremos auxiliá-los a criar modelos de pontuação de crédito com inteligência artificial, desenvolver plataformas digitais de empréstimos e outros produtos financeiros que já estão maduros na China”, explica Mickey Li.

Mesmo a conturbada relação das startups com órgãos reguladores no Brasil não diminui o otimismo do CEO. “A regulação está sempre atrás do mercado, pois a tecnologia se desenvolve mais rápido do que leis são aprovadas”, diz. “Eu vejo esta situação em todos os países com que trabalhamos, e acredito que os reguladores do Brasil vão ter uma mente aberta a respeito de novos produtos financeiros”.

Se o crescimento do ambiente de fintechs da China foi tão acelerado, Mickey vê o Brasil com potencial de chegar ao mesmo patamar ainda mais rápido. “A maturidade digital que a China alcançou em cinco anos nós esperamos que o Brasil chegue nos próximos dois”, prevê.

 

 FONTE: STARTSE