Impasse do Rota 2030 pode levar ao congelamento de novos investimentos, dizem montadoras

Renault encerrou ciclo de investimentos no Brasil com nova fábrica de injeção de alumínio em Curitiba (Foto: Divulgação)

A demora do governo em colocar em prática o novo regime automotivo, chamado de Rota 2030 está causando uma onda de incertezas na indústria automotiva. Isso porque, após o fim do último regime, o Inovar-Auto, uma série de questões ficou sem resolução.

É o caso de metas para redução no consumo de combustível e emissões de poluentes, redução de impostos para veículos produzidos no país e, principalmente, incentivo a investimentos em pesquisa e desenvolvimento no país.

“Vários prazos não foram atendidos e estamos com um problema. Nós não temos uma base para o planejamento dos próximos anos”, diz o presidente da Audi, Johannes Roscheck.

Como as fabricantes trabalham com grandes investimentos em prazos mais longos – em média um carro leva de 3 a 4 anos para ser projetado –, uma possível consequência da indefinição deverá ser vista só nos próximos anos.

Congelamento de novos projetos

Nas empresas, o discurso é de que uma demora pode causar congelamento e até mesmo cancelamento de investimentos importantes para o país.

“A gente fechou o ciclo de investimentosde R$ 3 bilhões, que foi feito nos últimos anos, e, agora, para definir o novo ciclo, a gente espera definição do Rota”, afirma Luiz Pedrucci, presidente da Renault do Brasil.

A opinião é compartilhada por Fabrício Biondo, vice-presidente de relações externas da PSA, dona das marcas Peugeot e Citroën. O grupo anunciou recentemente que produziria o Citroën C4 Cactus no país.

“Não posso falar que vamos deixar de lançar o carro do 2º semestre porque não dá mais tempo [de cancelar]. Mas, quanto aos novos projetos, nós estamos esperando a definição do Rota”, diz o executivo da PSA.

Mesmo assim, de acordo com as empresas, futuros projetos estão sob risco de atrasarem ou mesmo de não saírem do papel.

“Existem dois momentos. Um em que você pode parar e não investir mais. Outro em que não dá mais para parar de investir porque ficaria muito mais caro. Tem bastante coisa chegando ao momento de se tomar uma decisão”, completou Biondo.

Outra consequência é o Brasil perder investimentos e a produção de modelos futuros para países vizinhos.

Na América Latina, a PSA tem fábricas em Porto Real (RJ) e na Argentina. A empresa estuda a produção de veículos sobre uma nova plataforma, que atenderia todos os critérios de segurança exigidos até 2023, assim como uma nova família de motores.

Perguntado se existe a possibilidade de investimentos migrarem do Brasil para a unidade do país vizinho, Biondo foi enfático:

“Existe o risco de perdermos para a Argentina. Enquanto o Brasil não define, a Argentina está de braços abertos.”

A Renault lançou recentemente uma nova geração do Duster na Europa. É praticamente certo que o modelo seja vendido no Brasil a partir do ano que vem. No entanto, a produção em São José dos Pinhais (PR), como acontece hoje, pode estar ameaçada.

Nova geração do Renault Duster (Foto: Divulgação)

Nova geração do Renault Duster (Foto: Divulgação)

 Isso porque a Renault colombiana também produz o SUV atual, e pode largar na frente para fazer a próxima geração. Caso a filial brasileira demore demais na decisão de desenvolver e produzir o modelo, a solução seria importar o novo Duster do país vizinho.

“Essa indefinição me coloca em uma posição de desvantagem frente à minha competição com os outros países. Como não existe uma definição, a gente fica um pouco em “stand-by”, esperando para ver o que vai acontecer”, diz Pedrucci.

Aliás, a fábrica do Paraná perdeu as exportações do Duster atual para a Argentina. A medida não tem relação com o Rota 2030, mas sim com menores custos de produção dos colombianos diante dos brasileiros. De acordo com Pedrucci, 15 mil unidades do modelo deixarão de ser exportadas.