Pneus do futuro

Quando o assunto é pneu, o futuro reserva muito mais do que uma camada de látex reforçada com tramas de ferro e cheia de ar. Há tendências que apontam para um consumo reduzido de matéria prima, menos borracha e compostos mais duráveis, estes bastante difundidos. A Michelin, por exemplo, desenvolve materiais biodegradáveis com pneus fabricados em impressoras 3D. Há também o pneu esférico da Goodyear, apresentado em Genebra e que permitirá manobras laterais, e as inovações da Bridgestone, como o pneu fabricado com raios flexíveis e que dispensa uso de ar.

Investimento local

A Pirelli também está em um novo ciclo de inovação. Nos últimos 3 anos a marca de pneus italiana investiu 250 milhões de euros para modernizar a produção na América Latina. Desde 2017, a fábrica de Feira de Santana vem passando por mudanças ao implantar o conceito de Indústria 4.0, que utiliza tecnologias avançadas com processos virtuais de informações em rede, computação em nuvem e inteligência artificial. A fábrica 4.0 de Feira usa a ideia de Smart Manufacturing (Fabricação Inteligente), apresentada esta semana e conferida de perto pelo AUTOS.

O investimento engloba também o desenvolvimento dos produtos “high value” (alta performance), para satisfazer a demanda por pneus tanto dos mercados locais quanto do Nafta, área de livre comércio que reúne Canadá, Estados Unidos e México.

Produtos

A linha de pneus também ganhou novos modelos com atualizações tecnológicas que melhoram a segurança e o conforto do cliente. Entre as novidades está o Connesco. O sistema funciona através de sensores instalados na parte interna do pneu que se comunicam por bluetooth, mostrando por um aplicativo de smartphone todas as informações dos pneus: temperatura, desgaste, calibrador digital, e ainda revendedores próximos ao local do condutor. De acordo com Rene Fé, da área de desenvolvimento de mercado e operações da América Latina da Connesco, o aplicativo já foi muito bem aceito nos EUA e chega ainda esse ano na Europa. “Aqui no Brasil estamos na fase dos estudos de mercado e rodovias das regiões, mas ainda não temos previsão para chegar no mercado nacional”, explica.

Outra novidade é o pneu Run Flat, produzido na Bahia. No momento do dano, ele preserva a dirigibilidade e permite ao carro rodar mais 80 km sem esvaziar. Há também o pneu Seal Insite, que resiste a todo tipo de furo e se “auto-reconstrói” sem expelir o ar. Mesmo furado, o pneu conta com uma camada extra de borracha que se recompõe, fechando o furo. Esse modelos já estão disponíveis nas revendas Pirelli, com ofertas para todas as medidas e tamanhos.

Há ainda uma linha exclusiva para os colecionadores de carros antigos. A marca relança pneus para carros clássicos com máxima tecnologia, mas mantendo a aparência dos modelos mais velhos.

Fábrica moderna

Na unidade baiana, agora, todos os processos de produção, planejamento, distribuição e estudo do consumidor passam a ser digitalizados. A unidade de Campinas da Pirelli, no estado de São Paulo, também está em processo de digitalização. A meta da companhia é elevar a produção nas unidades latino-americanas e chegar a 6,5 milhões de pneus produzidos anualmente, um terço da capacidade total de produção da empresa.

Durante o tour pela fábrica, fica claro que toda a história da tecnologia já está fazendo efeito. Diversos projetos estão em funcionamento na unidade baiana, entre eles um sistema integrado em rede, disponibilizado em uma plataforma online e podendo ser acessado em tablets ou visto nas telas espalhadas pela fabrica, onde o supervisor tem acesso a todas as 50 máquinas, os comandos de trabalho de 900 funcionários e as etapas, monitoradas e controladas pelo o que eles chamam de ‘cockpit capitano’, inspirado em um cockpit de Fórmula 1.

Com essas informações, é possível antecipar e prevenir problemas nas máquinas, capazes de alertar quando estão trabalhando há muito tempo numa temperatura elevada, levando à fadiga. Até mesmo o controle de qualidade é feito por sensores e câmeras que garantem a uniformidade dos produtos.

Outra novidade da fábrica de Feira de Santana é o chamado “green button”, um botão digital que pode desligar instalações quando estas não estão sendo utilizadas. É uma forma de reduzir desperdícios – de energia e água, por exemplo – de máquinas auxiliares que só funcionam em momentos específicos do processo.

Todas as informações coletadas em cada máquina da Feira de Santana é transmitida para as outras 18 plantas da Pirelli pelo mundo. São mais de um milhão de linhas diferentes de dados, que são coletados e compartilhados em tempo real, segundo Daniel Silva, gerente de Smart Manufacturing das fábricas latino-americanas. É possível analisar, por exemplo, se um pneu verde que está sendo produzido na fábrica baiana está alinhado ao padrão de um pneu verde sendo fabricado naquele momento na Alemanha.

O sistema de integração online dos dados chegou à fábrica de Feira de Santana há um ano, e segundo o diretor industrial global da Pirelli, Francesco Sala, o que coloca a fábrica brasileira em termos comparáveis de tecnologia com as restantes. “Ao digitalizar processos e ser capaz de antecipar manutenções e falhas, conseguimos reduzir pela metade o tempo de reação da fábrica. Por exemplo: se há uma pane hoje em uma parte do processo que demoraríamos uma hora para reagir, agora resolvemos em meia hora”, disse o executivo italiano.

Pirelli no Brasil

A Pirelli tem 90 anos de Brasil e 19 fábricas no mundo. Além dos pneus de carros comuns e de luxo (Porsche, Lamborghini, Ferrari e Maserati), produz pneus para categorias do automobilismo, como Fórmula 1 e Stock Car.

A fábrica de Feira de Santana foi construída no início da década de 1970 e começou a produzir pneus em 1976, sendo adquirida pela Pirelli em 1986. Atualmente, emprega mais de 1.200 funcionários, que produzem mais de 10.000 pneus por dia, destinados aos mercados sulamericanos dos canais de equipamento original e de reposição, além do mercado de reposição do Nafta.

Com o uso de big data, computação em nuvem e machine learning, a Pirelli quer trabalhar de forma mais próxima às montadoras. Hoje, a empresa já consegue criar protótipos digitais de pneus, testá-los e oferecer aos clientes antes da produção ser colocada em prática. A Pirelli encampa o discurso de quer vender não só um pneu, mas também tecnologia.

FONTE: A TARDE