Fintech brasileira apoiada por Jeff Bezos dobra lucro enquanto preserva caixa

Stark Bank movimentou R$ 155 bilhões (US$ 31 bilhões) em pagamentos em 2023, um salto três vezes maior que no ano anterior.

O Stark Bank, uma das poucas startups da América Latina a receber financiamento do family office de Jeff Bezos, está gerando lucros com seu negócio de ajudar empresas a lidar com pagamentos, ao mesmo tempo em que deixa o dinheiro arrecadado em suas rodadas de financiamento quase intocado.

A empresa sediada em São Paulo movimentou R$ 155 bilhões (US$ 31 bilhões) em pagamentos em 2023, um salto três vezes maior que no ano anterior, enquanto mais que dobrou o lucro líquido para R$ 71,5 milhõess, disse o fundador Rafael Stark em entrevista, divulgando o pela primeira vez os resultados financeiros de 2023 da empresa de capital fechado.

A startup, que auxilia empresas no processamento de pagamentos, faturas e contas a receber, está focada em ganhar participação no mercado interno de grandes bancos corporativos, disse Stark, que possui 38% da empresa. Sua lista de cerca de 600 clientes inclui Gol Linhas Aéreas Inteligentes, Localiza, Ultragaz e as startups Loft e QuintoAndar.

“Enquanto muitas empresas de tecnologia tentam parar de perder dinheiro, estamos registrando altos níveis de lucratividade”, disse Stark, de 35 anos. “Não há necessidade de continuar arrecadando dinheiro e diluindo minha participação. É melhor crescer e criar muito mais valor no futuro.”

Série B

Em sua rodada da Série B em 2022, Stark levantou US$ 45 milhões de investidores, incluindo Bezos Expeditions, o family office do fundador da Amazon, e Ribbit Capital, com uma avaliação de US$ 250 milhões. Os investidores anteriores incluíram Fabio Igel, da Monashees Capital, Stewart Butterfield, da Slack Technologies, e Brian Armstrong, da Coinbase Global.

Stark disse que a participação de mercado da empresa em diversas métricas permanece pequena entre os bancos corporativos no Brasil, mostrando potencial de crescimento. Embora Stark não tenha uma licença bancária formal, ele é capaz de emprestar com seu próprio dinheiro disponível e planeja gastar mais em marketing em 2024, após anos mantendo-se discreto para construir o produto.

Stark disse que a empresa permite que seus clientes automatizem tarefas demoradas, como faturamento e folha de pagamento.

“Quando uma empresa gerencia muitas transações pode perder informações e, se não for organizada, pode perder muito dinheiro”, disse ele. “Permitimos que a empresa seja mais eficiente. Isso significa que, às vezes, uma equipe de 30 pessoas que realiza tarefas manuais e comete erros humanos pode ser reduzida a cerca de cinco pessoas para fazer o mesmo trabalho.”

Cerca de 30% dos seus quase 90 funcionários são engenheiros.

‘Nicho interessante’

O foco da Stark em ajudar outras empresas de tecnologia e a capacidade de personalizar soluções para os clientes é uma vantagem em comparação com os grandes bancos brasileiros, disse Bruno Diniz, sócio-gerente da consultoria Spiralem, que trabalha com fintechs.

“Eles encontraram um nicho muito interessante”, disse Diniz. “Eles são muito enxutos em sua pilha de tecnologia, o que lhes permite fornecer esse tipo de serviço personalizado para os grandes players. E uma vez que criam uma solução de cliente para um player, eles a replicam e começam a oferecer a todos os outros clientes.”

Nascido Rafael Castro de Matos, no estado de Goiás, Stark estudou engenharia no Brasil e mais tarde recebeu uma bolsa de estudos nos EUA, onde estudou na Universidade Politécnica da Califórnia e na Universidade de Stanford. Ele fundou sua empresa em 2018 e mudou legalmente seu sobrenome para Stark em todos os documentos oficiais.

Ao traçar paralelos com a trajetória de crescimento do banco digital Nubank., ele antecipa uma potencial oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) cerca de uma década após a fundação – ou perto de 2029 – e está focado por enquanto no Brasil e em São Paulo, onde está a maior parte da população do país e onde estão sediadas as maiores empresas.

Uma diferença gritante entre Stark e outras startups de tecnologia é que se espera que os funcionários estejam no escritório cinco dias por semana. Para adoçar o negócio, ele construiu o último andar do prédio para em breve abrigar um bar, restaurante e áreas de reunião para os funcionários. Stark também diz que paga acima dos salários de mercado, ao mesmo tempo que oferece uma bolsa para quem mora perto do escritório.

“Não acredito em trabalho remoto”, disse ele. “Precisamos de pessoas alinhadas com o que estamos construindo. Portanto, alguém que está alinhado com sua própria zona de conforto e trabalho remoto não está alinhado com os valores de Stark. Para fazer grandes coisas, você precisa sair da sua zona de conforto.”

FONTE: https://valor.globo.com/financas/noticia/2024/02/19/fintech-brasileira-apoiada-por-jeff-bezos-dobra-lucro-enquanto-preserva-caixa.ghtml