Fazenda inteligente: G1 mostra conceito que reúne segurança e cultivo eficiente por meio da tecnologia

Sistema monitora movimentação de insumos em galpões nas fazendas e alerta até sobre furtos Agrishow 2018 (Foto: Érico Andrade/G1)

A câmera tem um computador interno. Ela é capaz de identificar uma imagem pelo formato e pelas cores e alertar o agricultor sobre possíveis riscos. E, caso a ameaça apareça, emite avisos, por áudio, por mensagem no celular ou por e-mail. Instalada numa área onde são guardados insumos, como fertilizantes e defensivos, por exemplo, pode ajudar a evitar furtos ou o uso inadequado desses produtos nas lavouras.

A tecnologia, apresentada pela Bosch na Agrishow, é apenas uma entre tantas opções que permitem inserir a propriedade rural no conceito de Fazenda Inteligente, que aproxima o produtor rural de informações digitais e permite a tomada de decisões com agilidade.

Ela processa e reconhece pessoas e objetos captados pela câmera. Consegue distinguir veículos, como carros e motos, paisagens, como um lago ou uma área de plantio, além de incêndios. E, por um sistema de algoritmos, pode ser programada para dar diversos tipos de avisos.

No estande da empresa, o gerente de contas regional Evandro Roveran faz uma demonstração. Duas câmeras estão apontadas para um setor que simula um armazém. Ele programa o equipamento para que o aviso chegue por alarme de voz. Quando ele retira um dos galões de insumo de uma das prateleiras, ouve-se uma mensagem por áudio: “A entrada nessa área não é autorizada”. Em nova ocasião, outro conselho: “Este produto não deve ser usado nessa época do ano”.

O sistema de monitoramento, conhecido como Aviotec, traz, segundo Roveran, maior segurança ao produtor rural. Caso ele não esteja na propriedade ou distante de locais que permitam ouvir o alarme, pode receber, pelo celular, o alerta de que algo não vai bem. Permanência de desconhecidos na fazenda, por tempo maior que o necessário, com acesso a produtos de uso restrito, entre outros movimentos que não são habituais, é captada e comunicada quase que instantaneamente.

Parte deste trabalho é feita em parceria com a startup Sintecsys, especificamente o de detecção de incêndios em locais abertos, como canaviais e áreas de reflorestamento. Esta empresa tem um software que analisa as imagens coletadas por câmeras da Bosch, como simples sinais de fumaça, para que o proprietário rural possa tomar providências rápidas.

Crescimento

As startups têm sido as principais responsáveis por tornar a tecnologia aliada do agricultor na gestão de sítios e fazendas. Segundo a Associação Brasileira do setor, a ABStartups, elas já somam mais de 10 mil no Brasil, das quais 4,2 mil estavam cadastradas na associação no final do ano passado – contra 2,5 mil cinco anos atrás.

Na Agrishow 2018, é possível encontrar muitas delas, das quais cinco no mesmo estande – identificado, justamente, como Fazenda Inteligente. Quem passa pelo estande tem a possibilidade de contratar sistemas para várias áreas diferentes da propriedade, como irrigação, mapeamento com drones, soluções em análise e fertilidade do solo, além de administração financeira.

A fazenda está pela segunda vez na Agrishow. Segundo o gestor de marketing da InCeres José Luiz Zuliani Júnior, uma das startups participantes da iniciativa, as tecnologias das cinco empresas ainda não estão integradas umas às outras, mas isso deve ocorrer em breve, para que as informações de todas as etapas de produção sejam concentradas em uma única plataforma.

“Essas empresas já trocavam algumas experiências e tínhamos a ideia de trabalhar em conjunto. No ano passado, resolvemos nos unir e apresentar a Fazenda Inteligente na Agrishow. E temos um intuito bem definido: impulsionar a digitalização no campo.”

Na palma da mão

Para o professor de agronegócios Marcos Fava Neves, da USP de Ribeirão Preto, a adoção de tecnologias deve significar redução de custos e, consequentemente, maior margem de lucro ao produtor.

“Nos próximos 10 anos, segundo estudos da USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Brasil terá condições de exportar, ao todo, considerando os valores praticados atualmente, R$ 1,2 trilhão em produtos agrícolas. Para dar conta, os agricultores vão precisar ter um controle severo dos custos. Gasto menor propicia maior margem”, diz. Em 2017, as exportações brasileiras chegaram a R$ 96 bilhões.

Neves é um dos sócios da e-Agro, plataforma que permite gerenciar todo o fluxo financeiro da propriedade, como custos com maquinário e insumos, volume colhido e valores de comercialização. “Com isso, o produtor pode ter a área dele na palma da mão”, explica o diretor Ângelo Palocci.

Na palma da mão literalmente. Pelo celular, o produtor pode inserir informações a qualquer hora, mesmo se não estiver conectado. Quando entra numa área com internet, elas são automaticamente enviadas para a plataforma.

Controle da água

É também com apenas um clique que o agricultor pode monitorar os sistemas de irrigação instalados na área de produção. Sejam grandes pivôs ou dispositivos de microirrigação para produção de hortaliças.

A plataforma da startup israelense Manna cruza dados agronômicos e de clima com imagens de satélite. Com elas, é possível comparar a situação da lavoura hoje com a de qualquer época nos últimos três anos. A cada cinco dias, o satélite atualiza o panorama da área. Uma escala de cores diferencia áreas com melhor e pior produtividade, o que permite identificar falhas com rapidez e direcionar maior ou menor quantidade de água para esses pontos.

Com o sistema, é possível que o produtor demarque áreas com o mínimo de dez metros quadrados, para que observe condições específicas de temperatura, ventos e chuvas, que podem ser diferentes para a área vizinha. “Assim, o agricultor pode agir de forma hiperlocalizada, num ponto bem específico”, diz Ludimila Aguiar, especialista em marketing da empresa.

Já Mateus Tizzo, especialista em irrigação, explica que o sistema também faz uma avaliação da quantidade de água já direcionada à lavoura e do volume de chuvas, calculando quanto ainda falta irrigar.

FONTE: G1

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