Eles investiram R$ 850 mil para criar healthtech e desmistificar o uso da cannabis medicinal

Startup Anna Medicina Endocanabinoide está abrindo centros de acolhimento para tirar dúvidas de pacientes e médicos, além de um marketplace para facilitar o acesso aos medicamentos.

Marcelo Velo e Kathleen Fornari, cofundadores da Anna Medicina Endocanabinoide Divulgação

Para desmistificar o uso da cannabis medicinal e facilitar o acesso aos medicamentos com o ativo, os sócios Kathleen Fornari, Alfonso Ferretjans e Marcelo Velo uniram forças e expertises sobre o mercado para lançar a healthtech Anna Medicina Endocanabinoide. A startup começou a operar no início de novembro, a partir de um espaço físico em Curitiba, para promover acolhimento de pacientes e promover treinamentos com médicos, além de vender produtos pelo marketplace Anna Express.

Fornari, a CEO da startup, trabalha com o mercado da cannabis medicinal desde 2020 e, durante esse período, percebeu que grande parte dos pacientes chega ao tratamento como última alternativa, já debilitado, sem acreditar no potencial de melhora. Na opinião dela, isso acontece porque muitos médicos também desconhecem os benefícios da cannabis medicinal – ou até mesmo têm preconceito. A ideia da healthtech é promover acolhimento para o paciente poder ter segurança no atendimento e um espaço para tirar dúvidas. Já os médicos podem fazer treinamentos para aprender sobre o assunto e ter contato com testes clínicos nacionais e internacionais para avaliar a adoção do tratamento.

O primeiro espaço físico foi inaugurado no início de novembro, no Eco Medical Center, em Curitiba. O centro médico reúne 120 profissionais, sendo que 10 são parceiros diretos da Anna. Após um primeiro contato, caso haja interesse em prosseguir com o tratamento, os pacientes são atendidos em consultórios para conseguir a receita adequada. A healthtech também fechou parceria com o hospital Santa Casa, em Curitiba, e deve inaugurar três novos centros de acolhimento no início do próximo ano, além de estar em negociação com hospitais de São Paulo e do Rio de Janeiro.

A startup também tem um marketplace, Anna Express, onde vende produtos próprios – o Eva é feito a partir de plantações do Uruguai, em parceria com a Productora Uruguaya de Cannabis Medicinal (PUCMED), com extração e produção em um parceiro dos Estados Unidos – e da marca parceira Quantic Herbs, também brasileira. A plataforma permite o contato com consultores, que ajudam a acessar informações, conhecer produtos e lidar com o trâmite de importação. Como a empresa não tem permissão para ter estoque no Brasil, alguns itens vêm do centro de distribuição do Uruguai. “Nossa pretensão não é ser o maior marketplace de cannabis, mas o melhor. Fazemos uma curadoria de produtos porque queremos dar segurança para os pacientes e os médicos”, afirma Fornari.

Até o momento, a Anvisa aprovou duas resoluções sobre a cannabis medicinal no Brasil: a 327/2019 regula a venda em farmácia e o estoque de produtos. Já a 660/2022 regula a importação, permitindo acesso a uma gama maior de produtos do que os que são produzidos no país. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann), o mercado poderia reverter US$ 30 bilhões ao ano para o Brasil a partir de 2030. “Não tem como voltar atrás, mas precisamos que mais pessoas tenham acesso à informação. Todos os produtos passam por teste de qualidade, então trazemos segurança para o paciente e para podermos começar a caminhar para uma legislação que torne o acesso mais fácil”, declara a CEO.

Fornari entrou para o mercado trabalhando para uma empresa dos Estados Unidos, onde atuou como diretora de novos negócios por um ano. Antes disso, passou sete anos no compliance e na proteção de propriedade intelectual da L Brands – empresa dona de marcas como Victoria’s Secret e Bath & Body Works – na América Latina. “Decidi que queria fazer algo próprio. Entendi que as dores do mercado de cannabis estão conectadas ao desconhecimento. Via curiosidade e receio dos médicos pela falta de pesquisas no Brasil. E os pacientes com receio. Quis ser a via de facilitação para juntar esses dois pontos”, conta.

Os sócios são os brasileiros Marcelo Velo e Alfonso Ferretjans, que já estavam plantando cannabis para fins medicinais no Uruguai, pela PUCMED, há cerca de quatro anos. O país foi pioneiro e permite o plantio do cânhamo – espécie da cannabis sem efeito psicoativo e com fins industriais – desde 2014. Eles tinham o desejo de trazer os produtos para o Brasil, mas não tinham experiência no mercado local. A agência de branding 11:11 também participa da sociedade.

Os sócios investiram R$ 850 mil de capital próprio para montar a startup e criar o primeiro estoque de produtos, o centro de distribuição na zona franca uruguaia, a tecnologia para o marketplace e o primeiro espaço físico no Brasil. Segundo a CEO, a healthtech está em conversas avançadas com um investidor privado, e a primeira captação deve ser divulgada em breve.

O desejo dos fundadores é utilizar o Brasil como laboratório para expandir o modelo de negócio para outros países da América Latina, iniciando pelo local com mais restrições para validar o projeto. “O Brasil está atrasado em relação à maioria dos países da América Latina. Vamos nos adaptar às possibilidades de cada um”, finaliza.

FONTE: https://revistapegn.globo.com/startups/noticia/2022/11/eles-investiram-r-850-mil-para-criar-healthtech-e-desmistificar-o-uso-da-cannabis-medicinal.ghtml