Drones estarão no futuro das entregas de última milha, pode apostar

Sozinhos ou integrados a complexas redes de transporte, drones transportarão pacotes para reduzir o gargalo das entregas urbanas
Por Cristina De Luca

Em novembro de 2020, um drone de seis hélices transportou uma carga de 3 quilos de um heliporto até um grande navio de carga ancorado a 5 quilômetros do Porto de Cingapura, tornando-se o primeiro veículo no mundo a fazer uma entrega noturna offshore. A F-drones , startup por trás do feito, projeta drones para entregas autônomas de cargas úteis de até 100 kg em distâncias de até 100 km, para navios e plataformas.

Esse é apenas um bom exemplo do potencial dos drones para o mercado de logística. E valeu à startup o prêmio IEEE Entrepreneurship Star no Slingshot 2020, um dos maiores eventos de startups na região do Pacífico Asiático.

Nos últimos anos, a demanda por entrega autônoma de última milha sem qualquer intervenção humana, mais rápida, mais barata e menos poluente, começou a despertar grande interesse da indústria de transporte, a ponto de a McKinsey estimar que os veículos autônomos, incluindo drones, entregarão 80% de todos os itens no futuro.

De fato, com a flexibilização das restrições regulatórias em vários locais, os drones estão lentamente sendo introduzidos na cadeia de suprimentos.

Haverá muitos drones sobre as nossas cabeças?
Desde 2016, quando a Amazon realizou sua primeira entrega experimental por drone para um cliente em Cambridge, no Reino Unido, 13 minutos após o pedido.

Em outubro de 2019, a Wing foi a primeira empresa a iniciar publicamente os serviços de entrega comercial de drones nos Estados Unidos.

Recentemente, empresas como a Amazon Air, UPS Flight Forward, Fehr & Peers, Zipline, Drone Express, Drone delivery Canada, Valqari e Flytrex iniciaram operações comercias regulares cobrindo pequenas e médias distâncias. Mas todas reconhecem que ainda estamos distantes do sonho da mobilidade aérea urbana em massa, para transporte de cargas e pessoas usando pequenas aeronaves elétricas autônomas eficientes e não poluentes.

Hoje, a maioria dos drones é operada remotamente, a partir de centros urbanos de distribuição, a distâncias “além da linha de visão visual” do operador, em um raio de cerca de 20 a 30 quilômetros. E os desafios de segurança persistem.

Para evitar acidentes e reduzir roubos, a Valqari, por exemplo, tem investido em estações de entrega comunitárias – pontos de aterrissagem mais fáceis de serem reconhecidos pelos drones. A empresa detém patentes em 13 países e territórios na Europa, Estados Unidos, Ásia, Austrália e África. Seus diversos clientes estão testando as estações em todo o mundo em aplicações médicas, militares, marítimas e de consumo.

Dependendo da proximidade do cliente com a base de operações, os UAS podem ser muito mais rápidos do que os sistemas de entrega rodoviários, pois podem voar em linha direta até o destino, evitar atrasos no tráfego e entregar rapidamente o item, baixando-o por meio de amarração ou pousando em um local designado.

A McKinsey e a Accenture, por sua vez, acreditam na criação de soluções de entrega que misturem vários modais, permitindo operações mais eficientes, com veículos autônomos circulando 24 horas por dia, 7 dias por semana, por terra e por ar, em áreas residenciais. Nesse caso, não veríamos tantos drones voando de armazéns nos subúrbios até a nossa casa, mas caminhões com dez drones que saem para entregas em bairros. Assim, possivelmente, não veremos tantos drones sobre as nossas cabeças.

Muitos defensores dos drones de entrega afirmam que a tecnologia pode funcionar em conjunto com os métodos de transporte existentes para facilitar o delivery mais rápido e barato das mercadorias. A UPS chegou a pensar na instalação de mini-helipontos na parte superior de seus caminhões. De acordo com suas estimativas, eliminar apenas uma milha das rotas de cada um dos 66.000 motoristas de entrega da empresa poderia economizar até US $ 50 milhões.

No Brasil, empresas como a Speedbird Aero já estão fazendo testes para entregas em áreas controladas, como conta Samuel Salamão, fundador e CEO da startup, que tem entre seus parceiros empresas como o iFood, a Claro, aa Hermes Pardini e a Mercedes-Benz. O iFood testa uma rota de 400 metros a partir do Shopping Iguatemi, em Campinas (SP), que, percorrida a pé, levaria 12 minutos. Pelo ar, bastam dois minutos até a encomenda chegar ao ponto de encontro dos entregadores, que fazem o restante do trajeto. Essa operação é parte do processo de validação de segurança.

O projeto da Speedbird nasceu há cerca de cinco anos para atender uma demanda da telemedicina. “Eu estava vivendo nos EUA e notei que não adiantava ter atendimento remoto se o paciente teria que sair à farmácia para comprar o que era receitado”, diz o empreendedor.

No mundo, o segmento de saúde é um dos mais ativos no uso de drones de entrega. A subsidiária da UPS, Flight Forward , fez parceria com farmácias como a CVS para fazer entregas de medicamentos importantes para os residentes de The Villages, uma extensa comunidade de aposentados na Flórida. A Zipline, uma empresa de entrega de drones médicos, também fez parceria com a UPS e com o Google para garantir a entrega de suprimentos médicos essenciais em Ruanda e em outros países em desenvolvimento.

Quais as vantagens dos drones para delivery?
Clientes em todo o mundo esperam cada vez mais velocidade, conveniência e visibilidade ao receberem os produtos em suas casas. Devido à Covid-19, a entrega sem contato também se tornou uma necessidade. Mas o perigo de uma indústria de comércio eletrônico em expansão é que as estradas estão ficando congestionadas com veículos de entrega de todos os tamanhos.

Uma solução é usar drones de entrega aerotransportados ou Unmanned Aircraft Systems (UAS). Muitos países, incluindo França, Reino Unido e Israel, estão aproveitando a tecnologia UAS, enquanto os EUA estão agindo com mais cautela. A Federal Aviation Administration (FAA) está adotando uma abordagem lenta, mas consistente, para permitir a entrega de drones, começando com pequenos testes e isenções para entregar medicamentos essenciais a destinatários remotos.

Conforme detalhado em seu relatório, Aerospace Forecast 2020-2040 , a FAA espera um grande crescimento tanto em UAS pequenos (peso máximo de decolagem inferior a 55 libras) e em UAS maiores (peso máximo de decolagem de mais de 55 libras). O uso de drones comerciais pequenos deve crescer dramaticamente nos próximos cinco anos, com a FAA projetando 1,48 milhão de unidades até 2024.

No final de dezembro de 2020, a FAA anunciou um conjunto de regras de drones que contribuem para a estrutura necessária para um futuro de entrega de drones. As novas regras permitem que os operadores de pequenos drones sobrevoem as pessoas à noite, sob certas condições, junto com as regras sobre Identificação Remota, ou uma “placa digital” para drones.

De acordo com um comunicado à imprensa, o Remote ID é um passo importante para a integração total dos drones no sistema de espaço aéreo americano, e certamente servirá de parâmetro para reguladores de outros países. A identificação remota fornece identificação de drones em vôo, bem como a localização de suas estações de controle, fornecendo informações cruciais para nossas agências de segurança nacional e parceiros de aplicação da lei, e outros oficiais encarregados de garantir a segurança pública. A consciência do espaço aéreo reduz o risco de interferência do drone com outras aeronaves e pessoas e propriedades no solo. Algo primordial para o uso de drones não apenas para delivery.

Os negócios de logísticas também ganham com a inclusão do novo modal. Ao contrário dos caminhões de entrega, os drones podem viajar “em linha reta” e isso permite que eles evitem o tráfego e caminhos de navegação complexos. A velocidade dos drones é um importante ponto de venda para os clientes, dos quais 79% dizem que seria “muito provável” ou “um pouco provável” solicitar a entrega do drone se o pacote pudesse ser entregue dentro de uma hora. Além do mais, tempos de entrega mais rápidos podem reduzir potencialmente os custos de envio para os clientes e isso, por sua vez, pode resultar em um aumento nas vendas para os varejistas.

Chega de caminhões de entrega parados bloqueando ruas estreitas! Vans e caminhões de entrega ainda serão necessários para itens muito pesados para os drones transportarem, mas retirar milhões de entregas de pacotes leves das ruas certamente terá um impacto enorme no trânsito dos grandes metrópoles.

O meio ambiente agradece. A entrega média de um pacote por caminhão gera cerca de 1 kg de emissões de gases de efeito estufa. Um estudo de 2018 publicado na Nature Communications revelou que o uso de pequenos drones em vez de caminhões de entrega a diesel poderia ajudar a combater as mudanças climáticas, reduzindo o consumo de energia, bem como a liberação de gases de efeito estufa. As empresas poderiam reduzir suas emissões de transporte complementando o transporte rodoviário tradicional com drones movidos a eletricidade.

E quais são os gargalos?
A governança atual do espaço aéreo significa fisicamente que muitas áreas estão completamente fora dos limites para drones. Além da regulação, que tanbém impõe medidas restritivas como distância e altura dos vôos, peso da carga e a proibição de operação na chuva, neve ou em momentos de baixa visibilidade, sim, há outras questões precisarão ser resolvidas para que o delivery por drones se torne mainstream.

A necessidade de os drones serem devolvidos à base para recarga após as entregas, por exemplo, é um dos obstáculos que restringe aa eficiência hoje. Na tentativa de resolver essa questão, a Amazon entrou com um pedido de patente para enormes armazéns voadores, em balões dirigíveis, que podem abrigar sua frota de drones de entrega.

A ideia é que funcionem como “airborne fulfilment centres” (AFCs), estacionados acima das cidades e usados ​​para armazenar e entregar itens rapidamente em momentos de alta demanda, usando drones. O pedido também detalha a existência de uma série de “ônibus espaciais”, que seriam usados ​​para reabastecer os AFCs maiores com estoque e combustível, ou para transportar trabalhadores de e para os armazéns aéreos.

Embora a perspectiva de conveniência ao estilo Jetsons com menos engarrafamentos nas ruas seja tentadora, ainda há muitos obstáculos logísticos aa serem superardos. Levará algum tempo, por exemplo, para as cidades descobrirem como gerenciar o tráfego aéreo de baixa altitude tão rotineiramente quanto eles fazer o tráfego rodoviário de hoje.

Acontece que uma aeronave voando a apenas 12 metros de nossas cabeças é bem diferente de um avião de passageiros a 12 mil metros acima. E a diferença de altitude não é apenas um número. Espaço aéreo de baixa altitude significa interagir com pessoas e coisas no solo, de uma forma que voar acima das nuvens não o faz.

Portanto, uma coisa é certa: simplesmente replicar as regras e regulamentos da aviação civil não funcionará. O futuro do tráfego de drones será diferente do tráfego aéreo atual.

Pensando nisso, o Fórum Econômico Mundial – em colaboração com o escritório de Garcetti – desenvolveu sete “Princípios do Céu Urbano” para ajudar as cidades a considerarem a melhor forma de integrar os drones.

FONTE: https://theshift.info/hot/drones-estao-no-futuro-das-entregas-de-ultima-milha/