Da previsão do clima à IA: os mercados que estão no radar da Antler para 2024

Gestora vê cenário mais favorável para venture capital, com startups buscando fazer mais com menos.

Marcelo Ciampolini, sócio da Antler — Foto: Divulgação

Com cerca de US$ 500 milhões em ativos sob gestão, a gestora global de venture capital Antler, fundada em Cingapura, tem apostas pouco óbvias para o ano de 2024 no Brasil. A casa tem acompanhado de perto iniciativas de publicidade digital — que devem ganhar destaque após a LGPD forçar uma mudança no modelo das big techs — e soluções para clima e certificação de créditos de carbono, com foco no agro e em fintechs.

Para a gestora, a correção de rota nas startups após a seca no venture capital e o avanço das tecnologias de inteligência artificial generativa criam um ambiente favorável ao investimento neste ano. O primeiro fator ajuda no sentido de que os valuations tendem a estar mais ajustados, e os fundadores, mais receptivos. Já o segundo permite que uma gama de novos produtos, antes intensivos em infraestrutura e pessoal, possam ser criados com mais eficiência.

“Esse ano [2023] foi difícil em termos de captação, para todo mundo. Mas ao mesmo tempo foi nesse contexto que houve o surgimento de uma nova plataforma, das IAs generativas, que destravou negócios que antes pareciam impossíveis”, avalia Marcelo Ciampolini, sócio da Antler que trouxe a operação ao Brasil. “Essa safra de agora, não importa o setor, está fazendo mais com menos.”

Apesar do ritmo desacelerado do capital de risco como um todo, a Antler fechou o ano passado com 15 novas investidas. O descompasso frente aos pares se dá pelo sistema de investimento da gestora a nível global, diferente de outros VCs, que seleciona founders para um programa de aceleração, de onde saem as iniciativas avaliadas para aportes. Raras são as startups que chegam prontas ou com uma ideia já desenhada de produto.

No último programa, que teve início em setembro e se encerra agora, foram cerca de 65 fundadores selecionados e 28 startups que se formaram na incubação. Atualmente, 12 estão sendo avaliadas em comitê para investimento. Enquanto a maturidade dos founders evolui a cada edição, de acordo com Ciampolini, a complexidade das teses também cresce.

Para 2024, a meta é explorar temas como marketing e aquisição de clientes, inteligência artificial e startups preditivas em relação ao clima, além de iniciativas que repensem o modelo de certificação de créditos de carbono — hoje praticamente um monopólio da Verra. Com a LGPD e a proibição do compartilhamento de cookies de terceiros, modelo em que opera o Google Ads hoje, o mercado de publicidade deve passar por grandes transformações em 2024, quando as novas regras passam a vigorar.

A Antler também vive um momento atípico em termos de captação, comparada a seus pares. O fundo regional para o Brasil, de até US$ 50 milhões, ainda tem captação aberta e tem recebido recursos de um veículo global da Antler — há um limite para os repasses de 40% do total. A gestora também foi selecionada recentemente num edital do BNDES, que já representa 25% do volume desse fundo. Entre os demais cotistas, estão essencialmente family offices locais e os próprios sócios.

Por esse lado, na perspectiva da gestora, 2024 deve ser um ano bem melhor. “Os fundos têm dry powder [capital comprometido para investimentos mas ainda não alocados], então o dinheiro ainda está lá. O que esse inverno trouxe? Acabou a farra de gastar de qualquer jeito para ganhar mercado, as pessoas voltaram a falar de unit economics. Mas a perspectiva de destravar capital é grande: os investidores voltam a colocar dinheiro em venture e os fundos voltam a aportar”, diz Ciampolini. “A única questão é aguardar baixar a taxa de juros, para ver como fica o fundraising.”

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/os-mercados-que-estao-no-radar-da-antler-para-2024.ghtml