Como a QI Tech saiu de uma competição de startups para captar R$ 1 bi

Fintech de banking as a service projeta R$ 20 bi em créditos em 2024 para clientes corporativos.

Criada em 2018, a QI Tech é uma fintech que nunca se achou boa de marketing. Já nos primeiros anos os fundadores Marcelo Bentivoglio, Pedro Mac Dowell e Marcelo Buosi perceberam que tinham alguma dificuldade para contar ao mercado o que faziam. Mas notaram também que a falta de um investidor institucional pesava contra. Enquanto outras startups trilhavam o caminho tradicional do venture capital, o que facilitava uma exposição na mídia, eles se viravam com os próprios recursos para crescer sem fazer alarde, comendo pelas beiradas.

Com um negócio que gera caixa desde o primeiro ano, a QI Tech só foi fechar uma primeira rodada em 2021. Pelo porte que já havia alcançado, estreou logo com uma série A de R$ 270 milhões, um valuation de R$ 1 bilhão e o fundo soberano GIC como líder da captação. Foi então que a startup passou a ter mais visibilidade e começou a ser chamada para participar de competições.

O convite decisivo partiu de José Renato Hopf, fundador da Getnet e presidente do South Summit, há um ano. O chamado para se inscrever na competição do evento de inovação que ocorre há três anos em Porto Alegre veio de última hora, mas a QI Tech topou. Aquela fintech ainda pouco conhecida, focada em banking as a service, mostrou aos jurados que já estava em estágio avançado, com R$ 8,8 bilhões em emissões de crédito no ano, o suficiente para chegar ao grupo dos 50 finalistas.

O prêmio principal não veio, mas a exposição serviu para o CFO fazer um contato valioso. Igor Piquet, da Endeavor, estava no evento e gostou do que ouviu de Bentivoglio. Chamou o executivo para um cafezinho e convidou a QI Tech para participar do programa de empreendedores do fundo, para receber mentorias. Meses depois, os empreendedores “ruins de marketing” viravam notícia ao atrair outro investidor de peso, a General Atlantic, em uma rodada série B que levantou R$ 1 bilhão, a maior do Brasil em 2023, um ano ainda marcado pela baixa liquidez.

“Muitos dos mentores são de grandes fundos de investimentos, e a própria General Atlantic tem diversas pessoas lá. Quando fizemos a captação, algumas dessas pessoas já nos conheciam”, conta Bentivoglio.

Com o dinheiro levantado, a QI Tech tem tocado uma agenda de aquisições, como a da corretora Singulare. A estratégia por trás dos M&As é procurar negócios que sejam complementares e ajudem a QI Tech a ter produtos que ainda não tem. “Como o meu cliente é uma empresa não financeira que quer ter serviços financeiros, o nosso objetivo é poder oferecer tudo o que um banco oferece.”

Os produtos mais tradicionais, como os transacionais e os de crédito, a QI Tech já fornece. Mas há outros que ainda não fazem parte da cesta, como câmbio e seguros, por exemplo. “Nossa ideia é ir avaliando o que vale mais a pena, se adquirir um negócio pronto ou construir dentro de casa.”

Entre os clientes da QI Tech estão empresas como Vivo e 99. Hoje, a startup fornece para cerca de 400 empresas, quase o dobro das 230 que tinha quando participou da competição do South Summit. Para 2024, a expectativa é emitir R$ 20 bilhões em créditos. “Não basta a gente ajudar o cliente a fazer a base transacionar, tem que monetizar a base, que tem custo para ser mantida.”

Agora em outro patamar, os fundadores da QI seguem no programa de empreendedores da Endeavor, mas atuando também como mentores. No South Summit deste ano, que começa nesta quarta, marcarão presença mais uma vez, mas não mais como competidores e sim em um painel no qual vão contar… como chegaram a captar R$ 1 bilhão.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/como-a-qi-tech-saiu-de-uma-competicao-de-startups-para-captar-r-1-bi.ghtml