Uso de drones auxilia desenvolvimento sustentável de área de conservação em Fernando de Noronha

O estudo, realizado com apoio da Fundação Grupo Boticário, monitora áreas de pesca e habitat de sardinhas

A área do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha abriga uma concentração de vida marinha relevante para o turismo e pesca (Foto: José Amorim Reis-Filho)

Cientistas de universidades brasileiras e norte-americanas se juntaram para contribuir com o avanço da biodiversidade em Fernando de Noronha (PE) através do manejo de pesca e ecoturismo com drones de monitoramento. A área do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha abriga uma concentração de vida marinha relevante para o turismo por conta de sua beleza, mas também é lar das sardinhas, peixes com importância econômica para atividades pesqueiras e para a biodiversidade local.

“A sardinha é a base alimentar para tubarões, golfinhos, diversos peixes maiores e aves marinhas, além de também ser usada como isca para a pesca de grandes peixes. A sobrepesca desse recurso pode provocar um desequilíbrio das espécies”, explica Hudson Pinheiro, pesquisador do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP) e da Academia de Ciências da Califórnia, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.

Segundo ele, apesar de ainda estar em estágio inicial no Brasil, o uso de drones é de extrema relevância para as áreas de fiscalização. Pinheiro explica que o acompanhamento da vida marinha sempre foi realizado por pessoas embarcadas em grandes navios ou em portos, o que dificultava a coleta de informações como o tamanho de cardumes e seu comportamento. Os drones permitem realizar o processo com um orçamento mais baixo, além de aumentar a precisão em estudos de características de embarcações e na fiscalização da atividade de pesca, que deve se limitar às áreas permitidas.

O estudo abrangeu uma região de cerca de cinco quilômetros quadrados, onde pode ser encontrado um mosaico de habitats marinhos composto por rochas, corais duros, algas e faces arenosas. Além dos drones, a pesquisa também contemplou expedições de mergulho para identificar características do hábitat do arquipélago em áreas com profundidade superior a 140 metros, mapeando áreas de recifes e as características de diversas espécies da região.

Estudo apoiado pela Fundação Grupo Boticário também pode facilitar o monitoramento do ecoturismo no arquipélago (Foto: José Amorim Reis-Filho)

Estudo apoiado pela Fundação Grupo Boticário também pode facilitar o monitoramento do ecoturismo no arquipélago (Foto: José Amorim Reis-Filho)

A pesquisa, realizada com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, permite um estudo multidisciplinar, pois além de monitorar a atividade dos peixes e pescadores, também auxilia no entendimento do tamanho dos cardumes. “As águas são tão claras que nos permitiram quantificar os cardumes. A quantidade pode variar muito dependendo do sucesso reprodutivo ou da quantidade de capturas. Assim podemos sugerir que a atividade de pesca seja diminuída ou estimulada”, explica Pinheiro.

O cientista ressalta que, como a sardinha vive em grandes cardumes e possui um ciclo de vida curto, existem vários casos de colapso de populações em todo o mundo. Por conta disso, a metodologia será compartilhada com técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para que a tecnologia possa auxiliar no desenvolvimento sustentável do arquipélago, além da sugestão de criação de áreas de proteção em hábitats mais profundos que possam servir de locais para criação de pescados com vistas ao desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira.

“Os estudos em Fernando de Noronha vão servir como base para um acompanhamento de toda a biodiversidade da região, permitindo que pesquisas futuras possam comparar as características encontradas, avaliando inclusive os impactos ambientais e a resiliência de todo o território. É um trabalho de grande relevância para subsidiar o uso de recursos sustentáveis em uma das áreas mais relevantes para a conservação da vida marinha no Brasil”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.

Drones e helicópteros, segundo o pesquisador, já são utilizados de forma semelhante por grandes empresas pesqueiras para captação mais precisa de peixes. Para o contexto do monitoramento de regiões costeiras, a atividade pode auxiliar também os pescadores na hora de maximizar seus resultados.

FONTE: https://revistapegn.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2022/06/uso-de-drones-auxilia-desenvolvimento-sustentavel-de-area-de-conservacao-em-fernando-de-noronha.html