Sistema do Google supera médicos na detecção de câncer de mama

Artigo da revista científica “Nature” mostra que o modelo de inteligência artificial reduziu o número de resultados falsos positivos e falsos negativos

O Google Health desenvolveu um sistema que consegue identificar o câncer de mama com mais exatidão que radiologistas, no mais novo sinal de que a inteligência artificial (IA) poderá melhorar a detecção precoce de doenças.

Num ensaio publicado na revista científica “Nature”, especialistas da Google Health, da unidade DeepMind da Alphabet e de universidades do Reino Unido e dos Estados Unidos mostraram que o modelo de IA reduziu o número de resultados falsos positivos, em que pacientes são erroneamente diagnosticados com câncer, e também o de falsos negativos, em que a doença está presente, mas não é diagnosticada.

As mamografias são imperfeitas e não conseguem detectar um em cada cinco casos de câncer de mama, segundo a American Cancer Society. Mais da metade de todas as mulheres recebem um resultado falso positivo a cada dez anos, o que causa ansiedade e leva a tratamentos desnecessários. Segundo um estudo publicado em 2015 na “Health Affairs”, isso tem um custo superior a US$ 4 bilhões por ano nos Estados Unidos.

Resultados animadores

Dominic King, diretor do Google Health no Reino Unido, disse que os resultados são “realmente animadores” e mostrou como a IA poderá ser usada para ajudar na detecção de câncer em estágios iniciais, quando é mais difícil conseguir isso com exatidão.

O algoritmo foi testado em imagens com identificação removida de quase 120.000 mamografias nos EUA e Reino Unido. Recentemente, a DeepMind transferiu o controle de sua divisão de saúde para a controladora do Google. Mustafa Suleyman, que supervisionava a equipe de saúde, está deixando a DeepMind por um novo cargo onde vai examinar, no Google, as oportunidades e impactos da aplicação da inteligência artificial.

Segunda opinião

King, que já foi um cirurgião especializado em câncer de mama, disse que o Google embarcou no estudo em parte porque radiologistas não acreditavam que os serviços de detecção de câncer do Reino Unido seriam sustentáveis. Em 2018, o Royal College of Radiologists estimou que o país precisaria de mais de 1.000 radiologistas especializados em diagnósticos, trabalhando em período integral, para atender a demanda.

Ele espera que a inteligência artificial possa, um dia, obter aprovação reguladora para ser uma ferramenta de apoio para os médicos – e não substituí-los. “Seria uma segunda opinião, dando um incentivo ou uma recomendação aqui e ali para se passar mais tempo analisando uma determinada tomografia, ou assinalar exemplos de falhas”, disse ele.

Grandes companhias de tecnologia estão se interessando cada vez mais em usar seu conhecimento em inteligência artificial na área de cuidados com a saúde, em especial no emprego de algoritmos de visão por computador, para detectar padrões em imagens que exigem o exame de sinais visuais, em áreas como a patologia, oftalmologia e dermatologia.

O Google já criou o Lymph Node Assistant (Assistente de Gânglios Linfáticos), que tem uma precisão de 99% na detecção de células de câncer de mama em estágio avançado que se espalharam pelo organismo. A DeepMind está preparando o lançamento comercial de um dispositivo que poderá diagnosticar doenças oculares complexas com a mesma eficiência dos especialistas.

As grandes empresas de tecnologia também enfrentam a concorrência de startups como a Kheiron Medical, que está testando um algoritmo similar para identificar sinais de câncer de mama. Com base de dados de treinamento de hospitais da Hungria, ele consegue superar a média de desempenho de um radiologista.

O artigo do Google Health foi escrito em colaboração com o Cancer Research UK Imperial Centre, a Northwestern University de Illinois e o Royal Surrey County Hospital. Ele constatou que o modelo de inteligência artificial reduziu o número de falsos positivos em 5,7% nos EUA e 1,2% no Reino Unido, onde cada diagnóstico de imagem é checado por dois radiologistas.

Ele reduziu o número de falsos negativos em 9,4% nos EUA e 2,7% no Reino Unido. O professor Ara Darzi, um dos autores do ensaio e diretor do centro de câncer do Imperial Centre, disse que o modelo é “muito encorajador”.

“É claro que haverá uma série de desafios para resolver antes que a inteligência artificial possa ser implementada nos programas de mamografia ao redor do mundo, mas o potencial de melhora dos cuidados com a saúde e de ajuda aos pacientes é enorme”, afirmou ele.

FONTE: VALOR ECONOMICO