Projetos eólicos precisam ser bons para quem está no entorno

Empresas devem se comprometer com quem está perto dos geradores, diz especialista.

Para Ney Maron, existem dois movimentos fundamentais no relacionamento das empresas com as comunidades. Um deles diz respeito a reduzir e compensar eventuais impactos negativos relacionados à operação. O outro movimento consiste em atuar de modo que a operação ajude a transformar positivamente a vida das comunidades no entorno da operação.

“Nós temos a obrigação de maximizar os impactos positivos e torná-los cada vez mais significativos. O que é negativo tem uma sequência, temos que buscar evitar e, se não for possível, reduz ou minimiza. Aquilo que não pode ser evitado, a gente tem que compensar”, explica.

Nos últimos sete anos, o profissional está à frente de uma consultoria que atua na área ambiental, principalmente em projetos que envolvem a geração de energia renovável. A empresa atua não apenas no licenciamento ambiental, mas na definição de estratégias para a inserção dos projetos na lógica da sustentabilidade, explica Maron.

Maron lembra que o setor viveu alguns desafios desde o início do seu processo de implantação no país. O primeiro era de natureza financeira, não se sabia ao certo como viabilizar os investimentos necessários para a implantação da cadeia de energia renovável. Em um segundo momento, houve um desafio logístico, que passava pela necessidade de transportar equipamentos gigantescos para o interior da Bahia.

“Em outros estados do Nordeste, os parques de energia foram construídos mais próximos do litoral, mas aqui na Bahia os melhores ventos estão no sertão, no semiárido”, conta. Além disso, o setor se viu diante da necessidade de entender os impactos de uma atividade que era completamente nova – basta lembrar que o primeiro leilão aconteceu há 14 anos.

Mesmo com todo o aprendizado, ainda há um novo desafio para indústria da energia eólica, acredita Ney Maron. “A eólica entra num momento particular de ter que dar respostas a impactos negativos que não eram conhecidos e só foram percebidos com o tempo”, diz. “Todos nós que atuamos neste setor temos a obrigação de fazer com que as potencialidades de geração de riqueza, renda e de bem estar sejam aproveitadas”, defende.

“O nosso setor é a resposta para os grandes problemas globais. Somos a fonte de energia que vai ajudar o mundo a se descarbonizar, mas como podemos fazer para que os empreendimentos sejam bons para o mundo, mas também bons para quem está ao redor dele? Não basta ser bom para o planeta e ser ruim para as comunidades”, avalia.

Baiano, formado em engenharia pela Ufba e em Direito pela Ucsal, NEy Maron teve o primeiro contato com a área ambiental depois de ser aprovado para um concurso público no órgão que foi substituído pelo Inema. Passou pela diretoria de licenciamento e depois a chefia de gabinete, oportunidades que lhe permitiram acompanhar e participar de políticas públicas ligadas ao meio ambiente.

Posteriormente, foi executivo de uma empresa de energia renovável que, mesmo sendo uma startup, foi pioneira no mercado de energia eólica. “Nós vencemos o primeiro leilão para o fornecimento de energia de fonte exclusiva eólica em 14 de dezembro de 2009”, lembra. Na época, todos os parques estavam concentrados na região Sudoeste da Bahia, envolvendo os municípios de Caetité, Guanambi e Igaporã. Só depois, foram sendo ampliados para outros municípios próximos. “Passei dez anos atuando nesta empresa, que, na época, era a única que tinha uma diretoria dedicada a sustentabilidade”, recorda-se.

Presente no mercado desde o seu início, Ney Maron lembra da importância que os leilões para a compra de energia realizados pelo governo federal tiveram na formatação do setor no país. “Nos primeiros grandes eventos, havia uma certa incredulidade dos investidores estrangeiros em relação à qualidade dos nossos ventos”, conta. O tempo mostrou que os ventos brasileiros, principalmente os que são encontrados no semiárido, são os melhores do mundo, encaixando-se perfeitamente à lógica de modicidade tarifária que guia o sistema elétrico: deve-se buscar as fontes de energia que onerem menos as tarifas dos consumidores.

FONTE:

https://www.correio24horas.com.br/bahia/projetos-eolicos-precisam-ser-bons-para-quem-esta-no-entorno-1023