Plataforma faz conexão de startups ‘verdes’

Empresa reúne em banco de dados companhias especializadas em cuidados ambientais.

Um banco de dados com companhias especializadas em cuidados ambientais. Essa é a ideia do Circular Startups Index, site lançado pela Fundação Ellen MacArthur, organização internacional sem fins lucrativos que promove a economia circular. O objetivo é facilitar a conexão de empreendimentos com empresas interessadas em novas tecnologias, que promovam menor desperdício e reciclam ativos e produtos. O Index foi apresentado em maio a empresas de África, Ásia, Europa, América Latina e América do Norte. Do Brasil, começou com sete companhias e já conta com 26 startups, segundo Gustavo Alves, gerente de inovação para a América Latina na Ellen MacArthur. “Em breve, esse número deve subir para 40”, diz.

O plano da fundação é que o Index ganhe mais participantes, principalmente de Brasil, México, Colômbia, Chile e Argentina. “A meta é ter cem startups de cada um desses mercados até o final de 2024, totalizando 500 negócios”. Para entrar na lista, segundo Alves, os empreendimentos passam “due diligence”, que analisa se há envolvimento com corrupção, atividades que causam desmatamento ou que violem os direitos humanos, e uma avaliação de “circularidade”, que identifica o alinhamento a princípios do setor, como eliminar a poluição e regenerar a natureza.

É o que já faz a paulista Eureciclo, operadora de logística reversa que começou em 2016 é e considerada pioneira no conceito de créditos de reciclagem para compensação ambiental. Numa operação similar à do mercado de carbono, companhias podem comprar créditos para compensar os rejeitos que geram. Parte do dinheiro vai para empresas de catadores. Desde 2016, segundo Thiago Carvalho Pinto, fundador e CEO da Eureciclo, foram compensadas mais de 695 mil toneladas de resíduos, com R$ 41,5 milhões encaminhados para 328 centrais de triagem (cooperativas e operadores).

Ao direcionar para a reciclagem volumes de resíduos equivalentes aos que produzem, as companhias remuneram as centrais pelo serviço ambiental prestado e recebem certificados como forma de comprovação legal, diz o CEO. “É um mecanismo financeiro que ajuda a equilibrar os impactos dos resíduos na natureza e ainda incentiva a cadeia de reciclagem”. A Eureciclo faturou cerca de R$ 50 milhões em 2022 e pretende chegar a 800 mil toneladas compensadas em 2023 – em 2022 foram 329 mil toneladas, alta de 64,5% sobre 2021.

A empresa, presente em todos os 26 estados e no Distrito Federal, tem uma operação no Chile e projetos em desenvolvimento na França. Acumula mais de sete mil clientes – quase o dobro do registrado em 2020 – e uma rede de 28 mil atores na cadeia de reciclagem. Entre os clientes, a maior fatia (32%) é do setor de alimentos e bebidas, como McCain e PepsiCo.

A startup 4 Hábitos Para Mudar o Mundo (4H), de soluções de governança para resíduos de empresas, ganhou uma injeção de R$ 335 mil do programa de aceleração da gestora BossaNova, do hub de inovação mineiro Raja Valley e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC). Em operação a partir de 2019, nasceu no Distrito Federal e hoje opera em sete Estados. “O produto mais requisitado é uma plataforma de monitoramento de geração de resíduos, desde o descarte inicial até a destinação final”, diz Ana Maria Arsky, CEO da 4H. A startup mostra, por exemplo, quantas toneladas uma companhia gerou de determinado resíduo, com dados de coleta, destino e indicadores de impacto socioambiental, além de desvio de aterros ou redução de consumo de matéria-prima, detalha a CEO.

A solução passou de dez toneladas de resíduos gerenciados por mês, em maio de 2022, para 60 toneladas, em março de 2023. “A projeção para o segundo semestre é fazer a gestão de 100 toneladas ao dia”, diz Arsky. O plano é ampliar a atuação em centros de distribuição logísticos que funcionam como elos entre as indústrias e pontos de entregas – há ao menos 40 hubs em formação no país.

Entre os cinco clientes principais da carteira da 4H, que representam 90% do faturamento, está a Ambev. “O ecossistema da Fundação Ellen McArthur é o lugar ideal para a expansão global de parcerias, trazendo soluções de fora do Brasil ou levando as nossas alternativas para o mundo”, diz Arsky.

FONTE: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/meio-ambiente/noticia/2023/06/05/plataforma-faz-conexao-de-startups-verdes.ghtml