Para criador do Call of Duty, realidade virtual será fundamental para indústria do futuro

CHANCE GLASCO, CRIADOR DA FRANQUIA CALL OF DUTY, FALOU SOBRE O FUTURO DA TECNOLOGIA NA CAMPUS PARTY BRASÍLIA (FOTO: TWITTER/CAMPUS PARTY BRASIL).

A realidade virtual será a principal tecnologia nas salas de aula em cinco anos, ajudará na indústria do futuro e voltará a humanizar as relações pessoais que foram afetadas pelas redes sociais. A projeção futurista é de Chance Glasco, um dos desenvolvedores do famoso game Call of Duty. Depois de vender mais de 90 milhões de cópias do game e faturar US$ 4 bilhões, decidiu se dedicar a uma nova startup de realidade virtual nos Estados Unidos, a Doghead Simulations. Foi vestindo literalmente a camisa da nova companhia que ele fez previsões sobre a tecnologia nos próximos anos para a plateia de nerds da Campus Party Brasília, que aconteceu entre os dias 27 de junho e 1º de julho, no Estádio Mané Garrincha.

Glasco aposta que a realidade virtual vai influenciar vários segmentos da economia. Já desenhou soluções para reuniões à distância, que são cada vez mais comuns por causa da disseminação do trabalho remoto. Justifica que essa tecnologia é muito melhor que as antigas conferências telefônicas porque as pessoas podem não apenas ter a certeza de quem está na reunião, mas podem ver os gestos e “olhar nos olhos” de quem está com a palavra.

O fato de o avatar ter movimentos e interagir deve, na visão de Chance Gasco, humanizar as relações que foram desumanizadas pelas redes sociais. Por isso, deve funcionar bem nas escolas. Ele começou a fazer testes numa escola de Orlando, na Flórida e prevê que essa tecnologia dominará o setor.

Em cinco anos, as aulas vão ser em realidade virtual — projeta.

Não é apenas a Educação ou mesmo o setor de games que serão transformados pela realidade virtual. Glasco prevê mudanças em hospitais, polícia e outros. Aos garotos da plateia, ele faz projeções dignas dos melhores episódios de Black Mirror. A série foi inclusive citada por ele.

No melhor estilo Elon Musk, ele chega a duvidar da realidade analógica. Diz que provavelmente esse plano não passa de realidade virtual seja por questões tecnológicas ou espirituais.

— Eu não acho que essa é a realidade.

Tecnologia custa o dobro no Brasil
Chance Glasco era uma das principais atrações da edição brasiliense da Campus Party, que se consolidou como a segunda maior do país. Fica atrás apenas de São Paulo. O fundador do evento que reúne tecnologia e educação, Paco Ragageles, fez duras críticas ao sistema tributário brasileiro que impede a inovação no país. O espanhol disse que, aqui, a tecnologia custa duas vezes mais que o normal.

— Vocês pagam o dobro pela tecnologia. Isso não faz o menor sentido — falou ao lembrar que a economia brasileira é muito protecionista.

A Campus Party tem projetos para difundir a tecnologia em comunidades pobres no Brasil. Uma realidade que ficou no passado da pequena cidade do Porto, em Portugal. No município europeu, construções antigas estão sobre uma rede pública de fibra ótica que cobre toda a cidade. Arquiteta responsável por um dos principais projetos de cidades inteligentes do mundo, Margarida Campolargo contou como a tecnologia mudou a vida dos moradores da região.

Mostrou sensores que medem o tráfego de veículos em tempo real. Os dados foram analisados para evitar os engarrafamentos. Outra experiência foi colocar roupas com sensores em motoristas de ônibus para identificar os momentos de estresse e diminuir acidentes.

Numa cidade inteligente, o funcionamento é como a de uma startup. Primeiro, identifica-se o problema. Depois, uma solução é pensada. Com respostas mais simples e de grande impacto na comunidade, o dinheiro público é otimizado. No Porto, os exemplos vão desde a união de velhinhos solitários em eventos com comidas feitas na escola de hotelaria que, antes disso, iam para o lixo até a criação de grupos para que mulheres muçulmanas interajam. Tudo isso foi feito a partir da análise de dados.

— Temos de parar de fazer o que estamos acostumados e fazer o que as pessoas precisam — diz.

Outro ensinamento deixado por ela é testar as ideias antes de assumir uma verdade. Ela citou um projeto na rua mais badalada de Eindhover, na Holanda. As autoridades queriam diminuir o número de brigas e a solução dada pela polícia foi colocar mais iluminação no local. Os resultados foram catastróficos porque a violência aumentou.

Depois de vários estudos, concluíram que a combinação entre a luz branca e a bebida alcoólica causava ainda mais agitação. A tecnologia entrou em ação para aplacar os arroubos dos valentões. Foram instaladas lâmpadas de temperatura que acalmavam as pessoas, sensores que emitiam cheiros agradáveis e caixas de som com músicas que deixaram os transeuntes mais relaxados. Resultado: a violência despencou.

Margarida diz que esse tipo de realidade pode existir no Brasil. No entanto, deve demorar. Um dos maiores entraves para isso é a postura dos agentes públicos.

— Temos de mostrar que as pessoas não sabem o que são cidades inteligentes.

FONTE: ÉPOCA