Os sonhos de Lindomar: o homem que começou uma startup na região amazônica usando um disquete

Fundador da Proesc, a startup que recebeu a maior rodada de investimento na Amazônia, o empreendedor tem planos maiores.

Em qualquer menção ao nome “Lindomar”, os aplausos irrompem da plateia formada por empreendedores, representantes do governo e entidades de fomento à inovação no Startup20, promovido em Macapá, no Amapá. A cena se repete na entrevista, várias vezes interrompida por cumprimentos e elogios.

Celebridade na cena de empreendedorismo do Amapá, Lindomar Góes Ferreira é fundador da Proesc, a startup que recebeu em 2022 o maior aporte na história da região amazônica até aqui, no valor de R$ 8 milhões em 2022.

A empresa funciona como uma plataforma para gestão escolar, reunindo no mesmo lugar informações pedagógicas, acadêmicas, financeiras e uma solução de ensino remoto. Os pais, por exemplo, podem acompanhar as notas e frequências dos filhos, além de acessos aos boletos das mensalidades.

A ferramenta é usada por mais de 2000 escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Além disso, está em unidades de ensino em países como Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Japão.

No total, mais de 2 milhões de alunos utilizam o sistema, que transacionou R$ 5 bilhões no ano passado. Em faturamento, a Proesc avançou mais de 100% em relação a 2022 e encerrou o ano com R$ 13 milhões. A projeção também é forte para 2024: R$ 20 milhões, alta de 54%.

Os números em ascensão contrastam com uma frase que Goés usa para retratar as dificuldades de quem busca empreender no seu estado: “Nós empreendemos na escassez”.

Como surgiu a Proesc

O fundador da Proesc sabe bem do que está falando. Ele é da comunidade Jarilândia, em Vitória do Jari, no extremo sul do estado, onde só recentemente chegou a internet. Quando os seus pais casaram, eles, que não tiveram a oportunidade de estudar, fizeram um pacto de que dariam educação aos sete filhos.

“Só que na vilazinha de casas, à beira do rio, não tinha estudo. E eles tiveram que sair mudando de cidade”, conta. “Meu pai, em cada cidade que ele ia, montava um comércio ambulante com barco para nós estudarmos. Então, a minha vida sempre se confundiu entre educação e empreendedorismo”.

Com o impulso familiar, Lindomar terminou os estudos e se formou em matemática. Foi dando aulas em uma escola que surgiu o embriāo que levaria à Proesc. Com mais de 400 alunos, ele procurou encontrar uma fórmula para não ficar “louco” com tanta informação e começou a programar um sistema.

Em funcionamento, o modelo logo atraiu a atenção de professores da unidade e também de outras escolas. “Quando eu vi, já estava em 40 escolas”, afirma. “Isso foi em 2008, não tinha internet nem pen drive ainda. Nós levávamos a solução que eu tinha desenvolvido em vários disquetes, chegávamos na escola e tínhamos que descompactar”.

Dois anos depois, nasceu a Proesc como uma proposta de gestão de ensino público, ao lado do sobrinho Felipe Ferreira, que ocupa a cadeira de CEO do negócio.

O conceito de startup apareceu anos mais tarde, quando a empresa percebeu a oportunidade de entrar em colégios privados e atender as dores financeiras das escolas, com gestão de mensalidades e matrículas. Foi neste momento que a Proesc iniciou o processo de expansão por outros estados, mantendo o modelo de crescimento com as próprias pernas.

O primeiro investimento veio apenas em 2022, quando os sócios decidiram que poderiam buscar novos cenários. “Nós decidimos que a Proesc não tem o direito de sonhar pequeno. As startups do Amapá e da Amazônia se inspiram em nós. Então, decidimos naquele momento que a Proesc ia lutar para ser a maior startup de educação do Brasil no segmento de gestão escolar”, diz.

Quais os próximos sonhos

Uma vez alcançada a meta, prevista para 2025, a startup pretende colocar na rua uma estratégia de internacionalização. Até agora, as escolas dos outros países chegaram de forma orgânica, pelos conteúdos divulgados nas redes sociais.

Mas os aplausos a Lindomar não são apenas pela Proesc e pela história de vida. Ele, ao lado dos fundadores da Orçafascio, outra pioneira no estado, foi o responsável pela criação do Tucuju Valley, ecossistema para fomentar o empreendedorismo no estado.

Criada há cerca de 10 anos, a Tucuju reúne pouco mais de 100 startups. A rede é o principal canal de contato para quem deseja inovar, num estado sem aceleradora nem fundo de investimento. Além das trocas entre eles, a comunidade tem a missão de atrair mais interessados em conhecer sobre o universo dos negócios e promove uma série de eventos pelo estado.

Os membros também criaram uma espécie de metodologia, acompanhando o empreendedor desde a curiosidade até a ida ao mercado, passando pelas fases de ideação, definição do modelo de negócios e construção da máquina de vendas.

Assim, ajudaram o estado a alcançar o número de 100 startups já faturando. “Agora, nós fizemos o planejamento estratégico para ter 1000 startups no Amapá em dois anos. Esse é o nosso sonho grande”.

Os olhos de Lindomar brilham ainda mais quando fala do horizonte que enxerga à sua frente. “O nosso sonho gigante é criar um modelo para transformar o Amapá no estado mais inovador da Amazônia. Não como forma de distinção, mas de validação para que possamos levar para outros estados da Amazônia”.

FONTE: https://exame.com/negocios/os-sonhos-de-lindomar-o-homem-que-comecou-uma-startup-na-regiao-amazonica-usando-um-disquete/