O saldo positivo da automação no trabalho, segundo este relatório

FÁBRICA NO JAPÃO TEM ROBÔS E HUMANOS LADO A LADO NA SUA LINHA DE MONTAGEM

A crescente adoção de novas tecnologias pela indústria deve gerar um impacto no mercado de trabalho, automatizando funções antes realizadas por humanos e fechando suas vagas. O cenário sinistro, no entanto, tem um outro lado: as transformações trazidas pela automação cortarão muitos empregos, mas vão criar outros em número superior.

Em números estimados, 75 milhões de empregos desapareceriam, enquanto outros 133 milhões de outros novos seriam criados.
A projeção é do relatório “The Future of Jobs 2018” (O futuro dos trabalhos), publicado na segunda-feira (17) pelo Fórum Econômico Mundial. O documento estimou os efeitos das transformações no trabalho dentro de um prazo de cinco anos, até 2022. Klaus Schwab, que é presidente da organização suíça – autor de livros sobre a “quarta revolução industrial” –, afirma na introdução da publicação que o saldo positivo, no entanto, envolve uma transição difícil para milhões de trabalhadores e dependerá de “liderança firme e espírito empreendedor” de empresários e governantes.

“As transformações na força de trabalho não são mais um aspecto do futuro distante. Conforme mostrado na perspectiva de cinco anos deste relatório, essas transformações são uma característica dos locais de trabalho e dos meios de vida atuais das pessoas, e devem continuar no curto prazo. Esperamos que esse relatório seja um apelo a governos, empresas, educadores e indivíduos para aproveitarem rapidamente essa breve janela de oportunidade e criarem um novo futuro de bons empregos para todos.”

Klaus Schwab Fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial

Há, claro, chances de que nada disso aconteça. “Essas transformações, se geridas sabiamente, podem levar a uma nova era de bom trabalho, bons empregos e uma qualidade de vida melhor para todos; mas se mal administradas, colocam um risco de aumentar lacunas de competências, além de ampliar a desigualdade e a polarização”, diz o relatório.

O documento, assinado por especialistas da organização baseada em Genebra, faz suas estimativas tendo como base dados de uma pesquisa feita com 313 executivos – a maioria da área de recursos humanos – de grandes indústrias, responsáveis por cerca de 15 milhões de empregos no mundo todo. Fatores em jogo O documento aponta quatro avanços tecnológicos como sendo os principais motores das futuras transformações no mercado de trabalho entre 2018 e 2022. São eles: Onipresença de internet móvel de alta velocidade Inteligência artificial.

Ampla adoção de análise de grandes volumes de dados (big data) Computação em nuvem Além das tecnologias, o horizonte positivo está vinculado a outros fatores, como tendências de crescimento econômico em diferentes países, maior acesso à educação por indivíduos de classe média (principalmente em países em desenvolvimento) e o movimento global rumo a uma economia “mais verde” – o que deve afetar positivamente o setor de energia, por exemplo.

Esse conjunto deve favorecer o surgimento de novas áreas de especialização, as quais devem ser apropriadas pelos trabalhadores nos próximos anos, os quais devem buscar – com o apoio de empregadores e incentivo do governo – atualizar suas competências diante desse novo contexto. Competências e funções Dos executivos entrevistados pela equipe do Fórum Econômico Mundial, metade disse que pretende reduzir seu contingente de empregados de tempo integral até 2022, e 38% afirmaram que pretendem ampliar o número de funcionários visando ocupar novas áreas criadas em razão da automação.

Dentre as funções que devem observar uma maior procura nos próximos anos, o relatório lista algumas já estabelecidas como as de cientistas e analistas de dados, desenvolvedores de software/aplicativos, especialistas em comércio eletrônico e mídias sociais. Já em relação a cargos e funções emergentes que também serão alvos de procura, o documento cita especialistas em inteligência artificial e aprendizado de máquina, big data, especialistas em processos de automação, analistas de segurança da informação, designers voltados a experiência de usuário e interação homem-máquina, engenheiros de robótica e “especialistas em blockchain”.

A tecnologia, no entanto, não deve dominar as áreas de conhecimento em ascensão. Algumas das funções inevitavelmente desempenhadas por humanos – e competências como liderança, criatividade, pensamento crítico e persuasão – devem crescer junto com as demais, entre elas as de serviço ao cliente, profissionais das áreas de vendas e marketing, educação e treinamento, cultura, desenvolvimento organizacional e gerentes de inovação. O caso do Brasil O relatório conta com o quadro observado pelos pesquisadores por país. O Brasil é um deles. Por aqui, representantes das empresas locais responderam perguntas como sobre a possibilidade de contratarem profissionais em cargos de gerência com competências relevantes ligadas a novas tecnologias.

Do total, 88% disseram ser algo muito provável. Essa foi a resposta de 86% sobre o interesse em adotar automação na sua empresa, e de 68% em esperar que seus funcionários busquem formação para os novos tipos de trabalho que virão. Por aqui, os cargos associados a tecnologia e em maior ascensão são desenvolvedores e analistas de software e aplicações, cientistas e analistas de dados e analistas financeiros. O que cabe às partes O relatório lista uma série de recomendações aos três setores envolvidos e que devem se mexer para garantir um futuro menos turbulento no mercado de trabalho entre humanos e máquinas.

PARA GOVERNOS

A organização suíça diz que é preciso reformar políticas de educação dando peso ao ensino de saberes nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (conjunto agrupado sob o acrônimo STEM, do inglês). Ela sugere mudança curricular, treinamento de professores e “reinvenção de treinamento vocacional para a era da Quarta Revolução Industrial”. O governo deve estar atento e investir na criação de empregos – além de estimular que o setor privado faça o mesmo – e de políticas sociais “para melhor apoiar aqueles que possam necessitar de apoio para se adaptarem ao novo mercado de trabalho”. A organização recomenda que o Estado busque recursos para essas políticas aumentando sua receita tributária.

PARA INDÚSTRIAS

Ao empregador, o Fórum Econômico Mundial sugere assumir o papel de incentivador ou até protagonista no processo de (re)qualificação dos seus empregados, tendo como referência as competências necessárias para os novos trabalhos desse futuro próximo projetado pela organização.

PARA TRABALHADORES

Aos elementos da ponta dessa cadeia cabe a “inquestionável necessidade de assumir responsabilidade pela própria aprendizagem ao longo da vida e pelo seu desenvolvimento de carreira”, diz o relatório, sem ignorar a importância do incentivo de empregadores e governo, como por meio de fundo de educação ou implementação de políticas similares às de renda básica universal – tema recorrente nos encontros do Fórum Econômico Mundial.

FONTE: NEXO