O paradoxo do investimento

De repente, por conta da pandemia e da corrida pelas vacinas, entendemos a importância de investir em Deep Tech e o potencial transformador que têm as startups e empresas que trabalham no desenvolvimento de soluções que combinam ciência com negócios em campos como ciência de materiais, computação quântica, biologia sintética, captura de carbono e tecnologia espacial. Descobrimos nomes como Moderna, BioNTech e CureVaC, por exemplo, e vimos muitas outras startups que trabalham com mRNA e biologia sintética se destacarem, atraindo investimentos bilionários em 2021.

Um relatório lançado pelo Boston Consulting Group (BCG), em parceira com a Hello Tomorrow, um ecossistema colaborativo focado em Deep Tech, com atuação em 40 países, contabiliza a aceleração dos investimentos de risco nesse tipo de empreendimento: eles quadruplicaram em valor entre 2016 e 2020, de US$ 15 bilhões para mais de US$ 60 bilhões. Além disso, o valor médio do investimento privado cresceu de US$13 milhões para US$ 44 milhões, e as transações envolvendo corporações subiram de US$ 5 bilhões em 2016 para US$18 bilhões em 2020.

Mas o estudo, chamado “The Deep Tech Investment Paradox”, aponta que é preciso corrigir a rota dos investimentos em Deep Tech ou corremos o risco de deixar de lado áreas científicas que podem ter impactos importantes no futuro da economia e da sociedade.

Dois pontos ficam evidenciados quando olhamos os números: os investimento em IA e biologia sintética atraíram dois terços de todos os investimentos no ano passado, deixando apenas um terço para se espalhar pelas outras áreas; e há profunda concentração geográfica desses investimentos (75% nos EUA), deixando startups promissoras na Europa, China e no resto do mundo, subfinanciadas.

O resultado é que os investidores perdem “a oportunidade de participar de uma nova onda significativa de inovação, tornam-se vulneráveis ​​a concorrentes que se movem de forma mais rápida ou incisiva e deixam as startups de alta tecnologia sem acesso ao capital que as ajudaria a crescer”. Como resolver o problema? Atacando o que o estudo chama de 4 paradoxos:

Modelo mental: tem a ver com a mentalidade dos investidores, que estão menos familiarizados com a ciência avançada e tecnologia inovadora do que muitas pessoas esperam, especialmente considerando a herança do capital de risco.

Risco e oportunidade: a Deep Tech é vista como um investimento de alto risco, mas os maiores riscos, como acontece com muitas inovações disruptivas, podem vir de ignorá-la.

Choque de barreiras: há uma contradição nesse campo, que está na expansão de barreiras à arrecadação de fundos, enquanto as barreiras à inovação estão caindo.

Funding: o financiamento potencial para Deep Tech é sem precedentes (US$ 1,9 trilhão em PE, VC e capital de crescimento), mas esse dinheiro ainda precisa entender a dinâmica da área, que não oferece retornos tão imediatos quanto alguns investidores desejam e tem riscos relativamente altos.
Ainda assim, a estimativa é que os investimentos em Deep Tech atinjam US$ 140 bilhões até 2025. Mas a cenoura no horizonte aponta para mais de US$ 200 bilhões até 2025, se os paradoxos forem ultrapassados.

FONTE: THE SHIFT