O dendê da biotech alemã que usa gás carbônico para produzir óleos vegetais

A startup Colipi usa carbono e açúcares, provenientes de operações industriais e agrícolas, para alimentar bactérias geneticamente projetadas para fabricar gorduras vegetais.

Impulsionados pela urgência climática, a captura e armazenamento de carbono (CAC) estão em ascensão. Só em 2022, a capacidade global instalada dos depósitos do gás aumentou 44%, em comparação a 2021. Hoje, cerca de 244 milhões de toneladas de CO² estão estocadas em formações geológicas profundas – onde, ao longo do tempo, serão dissolvidas.

Algumas empresas, porém, buscam dar à sujeira destino mais nobre do que o fundo da Terra. A francesa Fairbrics, por exemplo, faz dela tecido. A gigante Coty, perfume. A americana Air Protein, como o próprio nome diz, proteína. Já a alemã Colipi usa a poluição para produzir versões sintéticas de óleos vegetais, em especial o de palma.

Fundada em março de 2022, na cidade de Hamburgo, pelos amigos de faculdade de engenharia Jonas Heuer, Maximillian Webers, Philip Arbter e Ty Utesch, a startup apresentou seu Climate Oil – ainda em caráter experimental.

O processo de fabricação do produto segue os princípios da fermentação de precisão. Bactérias das cepas Clostridium ou Cupriavidus são programadas geneticamente para produzir gorduras a partir de resíduos de CO² e de açúcares, provenientes de operações industriais e/ou agrícolas.

O foco inicial da Colipi é o óleo de palma, dada à versatilidade do produto e o impacto ambiental de sua produção. O produto pode ser usado por uma série de indústrias; da cosmética à farmacêutica; da de biocombustível à de energia. Mas a alimentícia é a grande “consumidora” do produto, com 65% dos US$ 67,3 bilhões movimentados globalmente em 2022, segundo a consultoria Grand View Research.

Também conhecida como dendê, a gordura é usada para garantir a durabilidade, crocância e sabor de alimentos embalados, como margarina, sorvete, recheio de biscoito e chocolate. E isso porque o óleo de palma contém concentrações praticamente iguais de gorduras insaturadas e saturadas; o que lhe confere uma estabilidade química acima da média. Tem mais. De textura macia, o dendê não tem o cheiro muito marcante, a ponto de comprometer o sabor e o odor dos produtos alimentícios.

Há outras vantagens. “Não há oleaginosa mais produtivo”, lê-se em relatório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Oferece um rendimento muito maior a um custo de produção mais baixo do que outros óleos vegetais. Um hectare de dendezeiro produz cerca de cinco toneladas de óleo por ano, contra os 500 quilos da soja, por exemplo, segundo a entidade.

Há de se levar em conta ainda que a palma prospera o ano todos nos trópicos, é perene, cresce em um ampla variedade de solos e vive, em média, 25 anos. Conforme estudo realizado pela Embrapa a palma é uma exímia sequestradora de dióxido de carbono.

Devido aos baixos custos de produção, alto rendimento e demanda crescente, o óleo de palma está associado, em geral, a práticas agrícolas predatórias. “As plantações estão se espalhando pela Ásia, África e América Latina”, informam os analistas da ONG ambientalista WWF. “Mas essa expansão ocorre às custas das florestas tropicais –que constituem habitats críticos para muitas espécies ameaçadas e uma tábua de salvação para algumas comunidades humanas.”

Os biomas mais prejudicados pela plantação são os da Indonésia e na Malásia, os grandes produtores, com quase 85% de tudo o que é comercializado no mundo.

Por isso, quando uma empresa surge com uma proposta inovadora, capaz de manter as características nutricionais e sensoriais do dendê, o ecossistema agrifoodtech dá as boas-vindas. Graças a seu “óleo microbiano”, a Colipi levantou 4 milhões de euros, em uma rodada seed liderada pelo fundo Exist, do governo alemão.

FONTE: https://neofeed.com.br/futuro-da-alimentacao/o-dende-da-biotech-alema-que-usa-gas-carbonico-para-produzir-oleos-vegetais/