O céu pode ser o limite para carros elétricos, conectados e compartilhados

Movidos por energia não poluente e planejados para economia circular, veículos do futuro podem atender consumidores que visam uso, não posse.

Renate Fuchs, da Accenture: eletrificação, autonomia, conectividade e compartilhamento são pilares do setor — Foto: Divulgação

Os automóveis do futuro serão verdes, compartilhados, conectados, mais seguros e autônomos. Movidos por energia não poluente e planejados para economia circular, podem atender consumidores que visam uso, não posse, usar sensores para dialogar entre si e com o ambiente e ter cabine transformada em espaço de trabalho e entretenimento. Além disso, podem ganhar os ares.

Esse cenário já tem aplicações mais ou menos desenvolvidas. A Accenture destaca a eletrificação, autonomia, conectividade e compartilhamento como pilares do setor. A busca de sustentabilidade vai mais longe. Segundo Renate Fuchs, diretora de industry X da Accenture América Latina, ela exige investimento que vai desde a engenharia e o desenho das peças até materiais, padrões éticos, abordagem do cliente e manutenção, ao longo da cadeia de valor.

Mesmo no Brasil, com pressão abrandada pelo etanol, a eletrificação será essencial para participação na cadeia global de suprimentos e mereceria uma agenda de incentivos, avalia ela. Enquanto isso, maior conectividade e dados de performance devem gerar serviços como manutenção preditiva, acionamento de serviços de segurança e novas experiências, embora a monetização dessa capacidade ainda esteja por vir.

A Stellantis, por exemplo, anunciou em setembro um acordo, no Brasil, com a empresa de tecnologia LexisNexis para seguros desenhados a partir dos dados de carros conectados. A Tesla inaugurou o modelo de cobrança por atualização de softwares pela internet para liberação de funções ou atualização de modelos mais antigos.

No quesito autonomia, montadoras já oferecem até nível 4 – em que o motorista pode se ocupar de outras atividades além de dirigir – e começam a surgir experiências de nível 5, sem motoristas, já em uso em taxis nos Estados Unidos com marcas como Cruise (GM) e Waymo (Google e Stellantis).

Serviços de compartilhamento já se tornam mais comuns. No Brasil incluem de veículos pesados, como os da Scania por meio da Lots, com cobrança por volume transportado, até assinaturas no segmento premium, como Audi Luxury Signature. A Audi anunciou a eletrificação de todos lançamentos a partir de 2026 e o fim da produção de veículos a combustão em 2033. Sua família Sphere, apresentada em 2021, já alcançou características como propulsor elétrico com aceleração de 0 a 100 km por hora em quatro segundos, autonomia elétrica superior a 500 km, direção autônoma nível 4 com recolhimento de volante, pedais e displays e capacidade para tarefas como fazer compras ou reservar um jantar de dentro do carro.

A fabricante, que entrou na Fórmula 1 depois de alterações permitirem o uso de combustíveis sintéticos sustentáveis e aumento da participação elétrica da unidade de potência em até 50%, possui tecnologia de cidades inteligentes que conecta carros à rede semafórica, usada nos Estados Unidos e Europa.

A Toyota está criando no Japão o protótipo de cidade inteligente Woven City para testar soluções de mobilidade. Além de futuro elétrico, a sensorização de pessoas, edifícios e veículos contará com caminhos sobre o solo para mobilidade automatizada, pessoal e pedestres, e no subsolo, para mercadorias e rede logística da cidade, descreve o diretor regional de mobilidade, transformação digital e value chain para América Latina e Caribe, Roger Armellini. Ele também dirige a Kinto, com serviços de compartilhamento e aluguel de veículos por hora, dia ou mês (share), gestão de frotas corporativas (One Fleet) e assinatura para pessoas físicas de modelos novos ou seminovos.

A japonesa, em 2020, investiu cerca de R$ 1,6 bilhão na Joby Aviation, para o desenvolvimento de uma aeronave elétrica de decolagem e aterrissagem vertical (eVTOL), para quatro passageiros e um piloto. Já a GM apresentou em 2021 o conceito Cadillac VTOL, autônomo, elétrico e para um passageiro, sem previsão de comercialização.

Segundo o diretor de estratégia de comunicação da GM América do Sul, Nelson Silveira, o objetivo da marca é lançar só elétricos a partir de 2035, enquanto investimentos privados, políticas públicas e ganhos de escala reduzirão custos de conectividade e autonomia. Hoje a marca oferece tecnologias semiautônomas, como frenagem automática de emergência, assistência de manutenção em taxa de rolagem e alerta de ponto cego, e deve aplicar o sistema de condução Super Cruise, capaz até de ultrapassagens em estradas mapeadas, em 22 veículos até 2023.

“A formação de um ecossistema em torno do 5G promoverá a aceleração de novos negócios e casos de uso”, avalia Marcelo Frateschi, sócio da EY. Para o presidente da Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE) Brasil, Camilo Adas, a autonomia deve acelerar até o nível 4 em dez anos. O nível 5 ainda tem questões técnicas e éticas pela frente, como a tomada de decisão em caso de acidente, diz.

FONTE: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2022/12/19/o-ceu-pode-ser-o-limite-para-carros-eletricos-conectados-e-compartilhados.ghtml