Mais dinheiro para as fintechs, o avanço do open banking, e a febre dos pagamentos instantâneos

Fernando Fujiwara do Softbank, João André Calvino do Banco Central, e Alan Chusid da SPIN Pay, contam o que há de novo em investimentos no Brasil, na regulação das fintechs e nos meios de pagamento

Cerca de 85% do dinheiro que circula no Brasil passa na mão de cinco bancos. A informação é de Fabio Neufeld, fundador da Kavod Lending e membro da Associação Brasileira de Fintechs, a ABFintechs. Neufeld participou na quarta-feira (22) da Fintech Conference, realizada pela StartSe em São Paulo. O evento reuniu 2.299 participantes e 54 startups.

Neufeld acredita que as fintechs, startups de serviços financeiros, estão, aos poucos, contribuindo para reduzir a concentração bancária no Brasil. E o mais importante: fazem isso enquanto oferecem crédito ao consumidor de forma mais barata que os grandes bancos. Isso é possível pois as fintechs utilizam muita tecnologia, possuem estruturas muito mais enxutas e conseguem reduzir a diferença entre o custo de captar recursos e emprestar às pessoas e empresas.

O número de fintechs no Brasil cresceu de 83 em 2015 para 403 no ano passado, a maioria delas dos setores de pagamentos, gestão financeira e de crédito. Neufeld disse que o Banco Central (BC) permite às fintechs prestarem serviços financeiros para a população, sem precisar ser um banco propriamente dito. “Não precisamos ter a palavra banco no nome”, afirmou.

Veja à seguir, as novidades e temas mais relevantes sobre fintechs, revelados durante os painéis da fintechConference.

Há muito dinheiro para as fintechs

As fintechs brasileiras estão otimistas com as possibilidades de financiamento para seus negócios e com o ambiente regulatório que está sendo construído pelo BC e Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “O ecossistema tem funding, tem investidor olhando e os reguladores estão apoiando as fintechs”, disse Daniel Gomes, cofundador da Nexoos, uma fintech que conecta investidores a empresas em busca de crédito.

Fernando Fujiwara, vice-presidente do Innovation Fund, do conglomerado japonês Softbank, disse que entre 60% e 70% dos US$ 5 bilhões do fundo dedicado à América Latina devem ser direcionados ao Brasil. Do ponto de vista regulatório e de normas legais, as fintechs devem obedecer aos mesmos requisitos exigidos pelo BC de uma instituição financeira.

Open Banking veio para ficar I

Em relação à regulamentação, o destaque para as fintechs é o open banking, cujo conceito chave é que o cliente é dono de seus próprios dados, o que, espera-se, deve aumentar a competição no mercado. “Se, antes, o banco tinha como diferencial competitivo a posse desses dados, agora essa informação vai virar commodity”, disse Daniel Gomes, cofundador da Nexoos, uma fintech que conecta investidores a empresas em busca de crédito.

O BC avalia que o processo de open banking no Brasil é uma “tendência irreversível”, que irá favorecer o aumento da concorrência dentro do setor financeiro e a prestação de serviços mais baratos e de melhor qualidade para os clientes.

Essa é a avaliação de João André Calvino Marques Pereira, Chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC. Pereira expressou a opinião da instituição no painel “Como os reguladores estão pensando o futuro do mercado financeiro brasileiro.”

O BC pretende definir apenas diretrizes básicas para a implantação do sistema que permitirá aos clientes compartilhar suas informações financeiras entre as diversas instituições. Ficará a cargo das instituições a criação de normas mais detalhadas de funcionamento do sistema, por meio de uma autorregulação. “O Banco Central quer trazer uma regulação mais moderna, atrapalhar o mínimo possível o desenvolvimento do mercado, mas sem perder de vista os riscos do sistema e a segurança do cliente”, concluiu.

Open Banking veio para ficar II

Segundo Pereira, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC, no segundo semestre deve acontecer uma consulta pública para discutir os princípios básicos que devem reger o open banking. “Ninguém melhor do que o mercado para definir os detalhes. O BC é agnóstico, neutro em relação à tecnologia, para não barrar a inovação. A autorregulação será assistida, com a participação do BC, mas é o mercado quem definirá certificações e outros parâmetros”, disse Pereira.

Ele lembrou que o BC tem adotado uma “regulação proporcional” em diversos segmentos, como crédito à pessoa física, para permitir a entrada de fintechs.

Pagamentos Instantâneos

Outra tecnologia que tem animado as fintechs são os pagamentos instantâneos. “O regulador está criando um ‘iniciador de pagamentos’, onde o cliente poderá plugar todas as suas contas”, explica Alan Chusid, CEO da SPIN Pay, fintech que está integrando pagadores e recebedores numa plataforma de pagamentos.

De acordo com ele, a forma como o BC está construindo a estrutura é bastante positiva, pois permite a comunicação entre as diversas plataformas. “O que vai mudar o mercado é essa forma de liquidação. Para se ter uma ideia, na China, o Alipay e o Wechat não conversam entre si”, explica Chusid.

FONTE: STARTSE