Má reputação dos bancos ajuda a atrair público para fintechs, dizem empreendedores

ALAN CHUSID, DO BANCO NEON; MARC LAHOUD, DA QUEROQUITAR; MARCELLO PICCHI, DA SMARTMEI; ROY MARTELANC, DA FEA-USP. PAINELISTAS RESPONDERAM QUESTÕES DO PÚBLICO SOBRE FINTECHS (FOTO: PAULO PETIT/AGÊNCIA BATUQUE/SCIBIZ)

O que você faz dentro de uma agência bancária? Paga contas, consegue crédito para seu negócio, transfere dinheiro, renegocia dívidas. Todas essas atividades, hoje, são feitas por fintechs — as startups do sistema financeiro. A diferença não está no produto final, mas no processo. “Se você juntar todas essas startups teremos um grande banco”, disse Marc Lahoud, fundador e CEO da QueroQuitar. Para ele, o movimento de procura pelas novas empresas existe devido à reputação dos bancos entre seus clientes. “Eles têm recordações de problemas, de juros altos, e acabam por preferir as startups.”

Lahoud falou durante um painel do Science meets Business 2018, organizado pela FEA-USP. A QueroQuitar, que fundou, é uma plataforma para mediação entre devedores e os agentes do outro lado do jogo: credores, cobradores e negativadores. Ao seu lado no palco do evento, estavam representantes de outras duas fintechs. Alan Chusid, diretor comercial e de negócios do Banco Neon, que nasceu como um cartão pré-pago e se tornou uma instituição financeira digital; e Marcello Picchi, cofundador da SmartMEI, plataforma com serviços para o microempreendedor individual (MEI).

Chusid entende que o perfil de seus clientes condiz com a teoria de reputação ruim dos bancos. Segundo ele, “os jovens preferem ir ao dentista que aos bancos, e isso não é porque o dentista é legal”. Mas admite que sua avó não usa os serviços da empresa que ele lidera, mesmo diante de seus pedidos. “Ela diz que prefere as agências.”

Além de ter uma estrutura organizada e investimentos que sustentem o negócio, as fintechs precisam de conexão com o público. “Elas devem sempre se preocupar com a experiência do seu cliente”, diz Lahoud. Picchi concorda, e defende que as startups têm uma preocupação também presente nas grandes empresas: “Para qualquer produto, especialmente no sistema financeiro, as pessoas buscam uma marca com a qual elas se identifiquem”.

Investimentos

Para uma startup, dinheiro para tocar o negócio é essencial. O Neon quase faltou, conta Chusid. “Em um determinado mês, achei que não teria como pagar nossos funcionários”, diz. Mas eles deram um jeito — conversaram com um investidor para acelerar o acordo que já se prolongava há meses. De acordo com o empresário, o problema não é o investimento em si, mas a burocracia para consegui-lo e o tempo dos investidores. Esse é um desafio para as novas empresas.

Segundo Picchi, é preciso arrumar a casa para que seja “bem vista” aos olhos do investidor, de forma que o produto da startup seja o mais atraente. “O ideal é tirar outros aspectos da frente do produto, para tratar com o investidor só de negócios”, afirma.

FONTE: ÉPOCA