Inteligência artificial com sotaque: Fintalk atrai fundo da Volt, que tem Lemann entre cotistas

Plataforma conversacional capaz de entender gírias, sotaques e fala informal, já atraiu Stone, Avenue e C&A.

Luiz Lobo, fundador e CEO da Fintalk: Chat autônomo com sotaque brasileiro — Foto: Divulgação

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a língua admite tantas variações, com gírias e sotaques específicos em cada estado ou região, que não raro a comunicação pode ficar um pouco truncada. Para quem trabalha com inteligência artificial, torna-se uma missão extra desenvolver tecnologias capazes de entender e responder a cada uma das “versões do português brasileiro”. A startup Fintalk acaba de levantar R$ 6 milhões numa rodada seed para tentar cumprir esse papel.

O aporte foi feito pelo Revolution, fundo da Volt que tem Jorge Paulo Lemann e e Marcelo Lacerda, fundador da Terra Networks, entre os cotistas. A gestora tem entre os sócios Marcelo Peano, ex-JPMorgan e Utor; Márcia Mello, com passagem por Cielo, Elavon e Verifone; e Jader Rossetto, publicitário com 28 leões em Cannes e que esteve à frente de projetos para XP, Nubank e Mercado Livre. Os investidores profissionais Guilherme Amaral e Ricardo de Paulo também participam da rodada.

O negócio da Fintalk é baseado em uma tecnologia capaz de interpretar comandos de voz e mensagens de texto em chats com robôs, além de ler documentos. A empresa foi fundada em 2019 e começou atendendo principalmente bancos e fintechs (daí o nome) dispostos a tornar seus aplicativos hábeis a se comunicar com os clientes para serviços como consulta de saldo, transferências, entre outros.

A companhia, no entanto, tem encontrado espaço no varejo e em qualquer companhia que trabalhe com atendimento ao público via canais digitais. Além de instituições financeiras como a Stone e a Avenue, o produto já conquistou empresas como a C&A, Cimed e Sky.

Fala enrolada, prolixa, com sotaque regional, a gíria das ruas: o robô da Fintalk entende tudo. E foi isso o que mais atraiu investidores como Rossetto. “A Alexa não entende o que o cara de Floripa fala”, diz o publicitário. “Existem muitas iniciativas nesse sentido, mas as big techs vendem um enlatado achando que o mundo inteiro vai consumir assim. A gente tem questões locais que precisam ser entendidas.”

Em uma demonstração durante a entrevista, o fundador e CEO da Fintalk, Luiz Lobo, gravou um áudio no WhatsApp, como teste, para mostrar as funcionalidades de sua plataforma. “Fala amigo, beleza? Ó, vou ter que pagar a turma aqui, ‘cê sabe quant’é que vai entrar na minha conta hoje?”, ao que a automação responde, em texto, “Aguarde um minuto. Vou extrair seu saldo”, seguido de um extrato da conta em PDF.

Com serviços como esse, diz Lobo, a Fintalk tem conseguido ajudar os clientes a ter melhores resultados em seus negócios. A plataforma reduziu em 44% o custo da área de cobranças da C&A e, na Avenue, o índice de satisfação dos consumidores finais subiu de 47% para 87%.

Flexível, a tecnologia da Fintalk pode ser acoplada tanto nos aplicativos das próprias empresas quanto em plataformas de terceiros, como o popular WhatsApp, frequentemente utilizado por companhias do varejo para se comunicar com o consumidor, e o concorrente Telegram.

O Brasil, vale lembrar, é o segundo maior contingente de usuários do WhatsApp, atrás apenas da Índia. Além disso, quase 30% da população de adultos está em situação de analfabetismo funcional. São pessoas que recorrem a áudios e imagens para se comunicar, em vez de mensagens de texto.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/inteligencia-artificial-com-sotaque-fintalk-atrai-fundo-da-volt-que-tem-lemann-entre-cotistas.ghtml