“A ideia de humanizar o ambiente de trabalho não é mais exclusiva das startups”

LUCAS MENDES, DIRETOR GERAL DO WEWORK NO BRASIL (FOTO: DIVULGAÇÃO WEWORK)

Diretor do WeWork no Brasil comenta interesse de grandes empresas em modernizar seus escritórios e os desafios da startup no país.

Quem adentrar a nova sede do Cubo, na Vila Olímpia, em São Paulo, irá conhecer também o novo projeto do WeWork para o Brasil. A startup americana foi a responsável pela decoração dos 14 andares do prédio e é quem vai operar o espaço que poderá receber até duas mil pessoas por dia. Este modelo de operação, no qual o WeWork entra para decorar e operar um prédio de uma outra empresa, é inédito na América Latina.

Até julho deste ano, os negócios do WeWork no Brasil envolviam ter um prédio próprio — seja para abrigar várias empresas e startups, seja para alugar para um único cliente (caso do inovaBra, do Bradesco). São 10 unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro e cerca de 10 mil membros. No segundo semestre, o WeWork afirma que chegará em Belo Horizonte e, no próximo ano, em Brasília e Porto Alegre.

O chamado “Powered By We” é mais uma ferramenta do WeWork para se aproximar de grandes empresas, ajudando-as a modernizar o ambiente de trabalho. “A ideia de humanizar o trabalho e deixar o ambiente mais leve, mais conectado não é mais uma mentalidade exclusiva de startup”, diz Lucas Mendes, diretor do WeWork no Brasil. É uma mentalidade, segundo o executivo já presente inclusive em tradicionais fundos americanos, como o BlackRock e o Bank of America. Atualmente, 30% do faturamento da startup já vem do segmento “Enterprise”, voltado a empresas com mais de mil funcionários.

Em conversa com Época NEGÓCIOS, Lucas Mendes comenta essa nova forma de customização para grandes empresas, o que o WeWork pensa sobre “open office” e sobre a nova política sem carne anunciada pela startup:

O que o Brasil representa para o negócio do WeWork em 2018? 
O país já é o nosso quinto maior mercado. Quando chegamos aqui, no final de 2017, as pessoas nem entendiam o que coworking era. Hoje, já conseguimos ter dez prédios próprios, projetos com grandes empresas e inclusive iniciativas globais do WeWork, como a de refugiados, o WeWork Labs e o prêmio Creator Awards. Além disso, percebo que entramos na discussão sobre o Futuro das Cidades. Contando todos os prédios que temos no Brasil, mais da metade deles já tem mais bicicleta do que carros. E o poder público está olhando para esse tipo de fator. Recentemente, estive com um grupo de prefeitos brasileiros em Nova York e percebi que eles têm a consciência de que é preciso participar de questões que vão além dos negócios.

Vocês lançaram recentemente dois produtos focados no público de grandes empresas. Essa demanda cresceu muito no último ano?
Essa demanda explodiu no mundo inteiro — como uma forma das empresas atrairem talentos. É o nosso segmento que cresce mais rápido. No Brasil, nós contratamos uma área inteira de projetos customizados, com um time com arquitetos, designers, olhando para as especificidades de cada empresa. A ideia de humanizar o trabalho e deixar o ambiente mais leve, mais conectado com a pessoa não é mais uma mentalidade exclusiva de startup.

O que você acredita que o WeWork tem de mais inovador hoje — considerando as novas discussões envolvendo o ‘futuro dos escritórios’?
Já conseguimos acumular muita experiência e dados sobre quais espaços dentro de uma empresa interagem mais, quais são mais ou menos utilizados. E vamos evoluindo a partir deles, dependendo do mercado. Aqui no Brasil, nosso primeiro prédio não tinha área de almoço. Mas percebemos que as pessoas gostam de almoçar em um espaço diferente aqui, onde possam interagir, diferente dos Estados Unidos, onde comem na mesa mesmo. Outro fator é a flexibilidade que oferecemos: os membros podem trabalhar em qualquer prédio da startup no mundo. É ter, portanto, não só o “home office”, mas o “office at home”. Além disso, as pessoas que trabalham em um prédio nosso não precisam gastar tempo resolvendo “facilities”: problemas com segurança, café, infraestrutura, tecnologia. Podem apenas se concentrar no seu negócio e conversar com outras pessoas.

O escritório que vocês criam está mais para um “open office” (plano aberto, com mesões espalhados e poucas salas de vidro) e muitas pesquisas apontam que há uma insatisfação em torno desse modelo. Vocês defendem o open office como o melhor modelo para trabalhar? 
Nunca tivemos a crença que o open office é a panaceia que vai resolver todos os problemas. Nossa crença é que os escritórios precisam ter várias densidades, ou seja, opções diferentes. Temos desde a cabine para fazer chamadas telefônicas até uma mesa simples para interação. Temos sala de descanso, tatuagem e inclusive o modelo mais tradicional de open office. O que temos visto é que as pessoas gostam de flexibilidade.

Em qualquer grande empresa hoje, há uma briga enorme para reservar uma sala de reunião. Como o WeWork resolve esse problema? 
Nós criamos um aplicativo para agendar salas de reunião que funciona em um sistema de crédito. Elas têm um determinado número de créditos para gastar no agendamento e de acordo com o tempo de uso. Se não forem ou extrapolarem o tempo, são cobradas a mais. Esse fator gera consciência nas pessoas de, inclusive, não chegar atrasado. Além disso, nós oferecemos vários tipos de espaços para as pessoas se reunirem. Não é toda conversa que precisa de uma sala de reunião, com televisão, computador e quadro para escrever. Uma pesquisa que fizemos com a Microsoft recentemente mostrou, inclusive, que 20% das reuniões corporativas estão sendo feitas na copa.

Recentemente, o WeWork anunciou uma política global: não irá mais oferecer carne em seus eventos nem irá reembolsar a seus funcionários refeições que contenham carne. Por qual motivo que a empresa tomou essa decisão? Já está sendo praticada no Brasil? 
Não acordamos do nada e falamos: vamos ser vegetarianos. A empresa fez uma reflexão sobre qual era seu impacto no mundo e, no final, constatou que o consumo de carne pesava neste fator. Cortamos carne de nossos eventos, mas isso não quer dizer que nossos clientes não possam fazer eventos com carne. As empresas que ocupam nossos espaços continuam com liberdade para ter refeições com carne dentro dos escritórios. Também não pregamos que as pessoas sejam obrigadas a serem vegetarianas. No Brasil, um país que tem mais vaca que gente, ainda não cortamos por completo. Continuamos oferecendo peixes e fruto do mar, por exemplo. Também estão olhando para outros fatores, como o consumo de plástico nas unidades. É um volume absurdo e nós queremos cortar o uso de plástico em unidades no Brasil. É um plano que queremos implementar até o final deste ano.

Qual é o maior desafio do WeWork no Brasil? 
Bem ou mal, somos uma operação relativamente pequena. A verdade é que a gente não está no Brasil ainda — estamos apenas em alguns bairros no Rio e em SP. Com nossos novos produtos customizados conseguiremos adentrar cidades menores sem precisar alugar um prédio inteiro.

FONTE: ÉPOCA