Floresta com inteligência

A gestão da floresta poderá ser cada vez mais eficiente com recurso às novas tecnologias. É neste sentido que os projetos FOCUS e Easyflow atuam, procurando tornar a floresta mais inteligente.

A tecnologia está cada vez mais próxima do mundo rural, contribuindo para melhorar a eficiência na gestão da terra, seja ela para fins agrícolas ou florestal. Neste artigo, debruçamo-nos sobre dois projetos que visam aportar inteligência à floresta.

O FOCUS e o Easyflow “têm como objetivo trazer maior inteligência para a floresta, na forma como se faz a gestão dos povoamentos florestais e das operações, por via da incorporação das tecnologias digitais”, explica Alexandra Marques, coordenadora de ambos os projetos no INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência.

Neste sentido, foi desenvolvido um software para apoiar a tomada de decisão e o planeamento, calendarização das operações, abastecimento da madeira e a gestão de stocks, bem como a alocação de equipas e da frota de transporte. O objetivo é maximizar a valorização dos recursos florestais e minimizar os custos das operações. Alexandra Marques pormenoriza que “este software poderá estar integrado com vários tipos de sensores, permitindo assim monitorizar o que está a acontecer na floresta, por exemplo o que está a ser produzido e onde, qual a produtividade dos equipamentos e que impacto isso tem no planeamento, com vista a uma tomada de decisão mais célere”.

Floresta 4.0

O FOCUS foi um projeto europeu (terminou em 2016) e juntou várias empresas na Europa, que desenvolvem soluções tecnológicas para o setor florestal, tendo em vista dar resposta às necessidades dos proprietários e das indústrias florestais e desenvolverem abordagens conjuntas ao mercado. “Foi um projeto pioneiro que desenvolveu os conceitos e as tecnologias do que agora se chama Floresta 4.0, à semelhança da iniciativa Europeia 4.0”.

O orçamento do FOCUS foi de cerca de quatro milhões de euros e teve a participação de 12 parceiros.

Terminado há três anos, os resultados do projeto FOCUS têm sido utilizados pelas empresas participantes para reforço da sua oferta comercial e deu origem a novas parcerias e novos projetos, como o Easyflow. Este tem um âmbito nacional e diferencia-se do anterior por abordar também as questões de sustentabilidade das cadeias de abastecimento. Com um orçamento de 200 mil euro, o Easyflow é financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia e conta com dois parceiros. “O desafio é desenvolver uma plataforma web para apoiar a gestão mais sustentável e colaborativa das cadeias de abastecimento florestal. Os resultados do projeto serão transferidos para empresas tomadoras dessas tecnologias que depois irão comercializá-las”, comenta Alexandra Marques. O Easyflow pretende relacionar estes três desafios, sob a forma de módulos integrados numa plataforma tecnológica, a saber:

  • Avaliação da Sustentabilidade da Cadeia de Abastecimento (ASCA), isto é caracterizar cadeias de abastecimento eficientes ao nível da utilização de recursos, e determinar as dimensões de sustentabilidade social, económica e ambiental;
  • Planeamento da Cadeia de Abastecimento (PCA), isto é planear de forma eficiente os stocks de madeira e o uso dos recursos de transporte distribuídos ao longo da cadeia de abastecimento;
  • Colaboração na Cadeia de Abastecimento (CCA), ou seja, perceber como passar para a prática os novos processos e ferramentas usados para gerir eficientemente os recursos na cadeia de abastecimento, num ambiente colaborativo.

Uma rede de parcerias

A coordenadora desta iniciativa destaca ainda a importância da “parceria com uma equipa de investigadores do Centro de Estudos de Gestão do Instituto Superior Técnico, especialistas nestes temas”. A equipa de investigação, além de investigadores do INESC TEC, integra também especialistas em logística e transportes e ainda especialistas em sustentabilidade nas cadeias de abastecimento do IST-ID – Associação do Instituto Superior Técnico para a Investigação e Desenvolvimento.

O FOCUS e o Easyflow são projetos que unem a academia ao mundo empresarial, ambos desenvolvidos em parceira com as indústrias florestais e os proprietários florestais, que colaboram na definição de requisitos e teste das tecnologias. Também envolvem normalmente parceiros académicos e outros produtores de tecnologias complementares.
Alexandra Marques conclui que estão “a fazer esforços para encontrar empresas tomadoras de tecnologia que levem estas ferramentas para o mercado. Estamos também empenhados em desenvolver serviços de consultoria para apoiar as empresas e proprietários florestais na tomada de decisão estratégica, onde estas ferramentas podem ajudar na análise e avaliação de cenários de investimento”.

FONTE: VIDA RURAL