A fintech “chinesa” que planeja seguir o roteiro da Shein no Brasil

A Shein balançou o varejo de moda no Brasil. Agora, a Liquido, uma fintech fundada nos EUA e com 50% dos funcionários na China, quer dominar os pagamentos digitais na América Latina. O Brasil é parte fundamental da estratégia.

Shein tornou-se o principal pesadelo dos varejistas brasileiros, com seu modelo de ultra fast-fashion e preços baratos. No ano passado, faturou R$ 8 bilhões no Brasil, segundo estimativas do BTG Pactual. E, diante da reação dos players locais (que acusam a empresa de não pagar impostos), disse que vai investir R$ 750 milhões para produzir boa parte das peças no País nos próximos três anos.

Agora, uma fintech “chinesa” quer seguir o roteiro da Shein e dominar o mercado de pagamentos digitais na América Latina. Batizada de Liquido, ela foi fundada por MK Li, que atuou na gestora de venture capital UpHonest Capital, e Shanxiang Qi, um ex-funcionário da Uber e que foi head de pagamentos para a América Latina da Didi, a companhia chinesa que controla a 99 no Brasil.

A sede da Liquido fica em Mountain View, no coração do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Mas, dos mais de 100 funcionários, 50% deles são engenheiros baseados na China. O mercado principal, por sua vez, vai ser a América Latina. Em especial, o Brasil, onde a Liquido está montando, desde o ano passado, uma estrutura para ganhar relevância com sua solução de pagamento digital, segundo apurou o NeoFeed.

Atualmente, a Liquido já conta com 15 funcionários em São Paulo, comandados por Feng Bo, um chinês radicado no Brasil há 16 anos, que é o responsável pela operação brasileira. No País, o maior cliente é a rede social chinesa de vídeos curtos Kwai, um dos principais concorrentes do TikTok.

Nos últimos dois anos, a Liquido conquistou mais de 30 clientes globais da Ásia, de países como China e Cingapura, que atuam na América Latina e já transacionou mais de US$ 300 milhões durante a fase beta, cuja plataforma estava fechada para poucos usuários.

O alvo, até então, eram empresas internacionais com atuação na região latino-americana que precisavam de uma solução para fazer pagamentos cross-border, algo que ergueu a fama da brasileira Ebanx – um detalhe importante, a Shein processa seus pagamentos por meio da startup brasileira.

Agora, no entanto, o plano é conquistar mais clientes locais e de menor porte para a sua solução de pagamento digital, que concorre com a Ebanx e a uruguaia DLocal, que vale US$ 4,2 bilhões na Nasdaq.

“Eles têm o know-how de pagamentos e do e-commerce na China”, diz uma fonte próxima a empresa. “E querem trazer isso para a América Latina.” Além do Brasil, a Liquido já tem presença no México, Colômbia e Chile.

Desde que foi fundada, a Liquido já fez duas captações de recursos que atingiram US$ 26 milhões. As duas rodadas (seed e série A) foram lideradas pela Index Ventures, com a participação de Base Partners, Restive Ventures, Mantis VC e UpHonest Capital (esta última a firma de venture capital em que MK Li trabalhava).

A plataforma da Liquido, que pode ser comparada a da fintech americana Stripe, avaliada em US$ 50 bilhões, pode aceitar e processar todas as formas de pagamento, de cartões de crédito e débito a transferências bancárias, carteiras digitais e até dinheiro.

Shanxiang Qi, cofundador da LiquidoShanxiang Qi, cofundador da Liquido

O trunfo da Liquido, no entanto, para se diferenciar do mar de concorrentes na área de pagamentos (afinal, toda empresa vai ser uma fintech um dia, como previu a Angela Strange, da Andreessen Horowitz), é contar com um módulo que permite integração ao WhatsApp de forma rápida e instantânea.

A fintech “chinesa” conta também com João Bezerra Leite como conselheiro, um executivo que fez carreira no Itaú Unibanco por 36 anos, onde atuou como CTO e tem conhecimento da área de cartões de crédito, seguros, empréstimos e financiamento de carros.

Atualmente, Bezerra Leite atua como conselheiro de diversas fintechs, além da Liquido. Em sua página no LinkedIn, ele é advisor de Culqi, Stark, Credix, Transfeera, entre outras.

Uma das metas é buscar uma licença de instituição de pagamentos no Brasil, segundo pessoas próximas a fintech disseram ao NeoFeed. Hoje, a plataforma da Liquido funciona via API (application programming interface) com diversos bancos e adquirentes para prover sua solução de pagamento.

O desafio da Liquido, no entanto, não é trivial. A área de fintechs é uma das mais povoadas do mercado brasileiro. Um estudo da Distrito mostrou que existem mais de 1,2 mil startups financeiras no Brasil.

Não bastasse essa quantidade, aquelas empresas dedicadas a soluções de pagamentos representam 14,4% das companhias. Só perdem, em quantidade, para as startups de crédito. Procurada, a Liquido não se manifestou para essa reportagem.

FONTE: https://neofeed.com.br/blog/home/a-fintech-chinesa-que-planeja-seguir-o-roteiro-da-shein-no-brasil/