Entenda por que a última tempestade solar não derrubou a internet

Entramos no período de maior atividade solar do ciclo atual, de acordo com agência espacial americana.

A tempestade geomagnética prevista para acontecer nesta semana não chegou a tal nível de atividade solar, segundo o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), dos Estados Unidos. Porém, as agências de monitoramento espacial seguem debruçadas para acompanhar os efeitos deste que é o ciclo de maior período de atividade solar dos últimos anos, com previsão de seguir neste ritmo até 2025, pelo menos.

Uma tempestade solar (que também pode ser chamada de erupção solar) acontece quando dutos de plasma no interior do Sol se rompem e esse plasma é ejetado no Universo. Esse evento, caso ocorra em direção à Terra, pode causar efeitos no campo magnético do nosso planeta — e, então, passa a ser conhecido como tempestade geomagnética.

Os impactos de uma grande tempestade geomagnética podem ser sentidos em serviços de GPS, transmissão via rádio e até internet, através de consequências negativas na transmissão de energia elétrica na Terra, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. A chance de isso acontecer é baixa — mas existe.

Essas erupções solares são frequentes, e seus impactos são medidos em cinco níveis, de G1 (mais fraco) a G5 (mais intenso), sendo que o nível seguinte é dez vezes maior que o anterior. No sábado passado (20), a agência NOAA emitiu um alerta a partir de erupções solares que tinham potencial para causar uma tempestade geomagnética até nível G2, considerada moderada.

A previsão, porém, não se cumpriu. Ao Valor, o NOAA explicou que os alertas foram emitidos devido à atividade potencial, mas que as erupções não atingiram os níveis de tempestade. Nenhum impacto foi relatado à agência.

A próxima erupção está prevista para acontecer entre este sábado (27) e domingo (28), de nível G1.

Devemos nos preocupar?

Estamos no pico do “Ciclo Solar 25”, o que significa que veremos uma atividade solar mais elevada pelos próximos anos. Conforme relatado pelo NOAA, veremos mais manchas solares (regiões de intensa atividade magnética, que produzem erupções solares) e é possível, ainda, que vejamos eventos climáticos espaciais impactantes ao longo deste ano.

Em novembro passado, Cristiano Wrasse, pesquisador da divisão de geofísica espacial do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) do Brasil, explicou ao Valor que uma das principais consequências da tempestade geomagnética pode ser a queda ou interrupção no sistema de comunicações de internet via rádio.

“A tempestade magnética pode ter interferência nos sinais de telecomunicação, quedas ou ruídos dos sinais de rádio. Caso a internet seja via rádio pode ser mais afetada que um usuário de fibra óptica. O que pode acontecer na internet a cabo é apresentar problemas por conta da interferência magnética na ponta de redistribuição”, afirmou Wrasse na ocasião.

Outro ponto que poderia sofrer influência do fenômeno espacial está nos sistemas autônomos de comunicação. Nesse caso, aeroportos, minas e agricultura informatizada, de acordo com o especialista.

Isso acontece, segundo explica Marcelo Banik de Padua, geofísico espacial também do Inpe, porque caso estejam direcionadas para a Terra, as erupções podem deixar a ionosfera mais condutora, problematizando a condução de correntes elétricas, o que, por sua vez, dificulta contato de nossos aparelhos com os satélites.

Porém, para que isso acontecesse de maneira que fosse perceptível em nossos celulares, por exemplo, seria preciso uma tempestade nível G4, pelo menos, de acordo com Banik. “Para ter esse nível de catástrofe, precisaria ser um evento extremamente forte. Uma [tempestade] G2 afeta, mas teria que ser um especialista na área para perceber”, aponta.

Um evento destas proporções aconteceu em 1859 e ficou conhecido como Evento Carrington. A poderosa tempestade geomagnética aconteceu durante o auge de um ciclo solar e foi uma das maiores já registradas em toda a História. Banik diz que ela extrapolou o nível mais alto e poderia facilmente ser classificada como G6, extraoficialmente.

Uma das maiores questões discutidas pelos astrofísicos envolve justamente esse evento, que acontece a cada dois séculos, segundo cálculos. “A pergunta é se a nossa infraestrutura elétrica dá conta a um novo Carrington e, também, se nossos satélites irão resistir a isso”, diz Banik.

Ainda ao Valor, o NOAA diz que apesar do constante monitoramento da atividade solar, não há tecnologia existente que consiga prever quando ou se uma forte tempestade geomagnética irá acontecer. “O NOAA monitora constantemente a atividade solar. Se for esperado que uma tempestade geomagnética impacte a Terra, um Alerta de Tempestade Geomagnética será emitido”, escreveu.

FONTE:

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/01/26/entenda-por-que-tempestade-solar-nao-derrubou-internet.ghtml