Ela criou uma startup para ser o ‘Tinder’ profissional entre pessoas com deficiência e empresas

Semearhis quer promover a contratação por habilidades e competências. HRTech de impacto já fatura R$ 500 mil ao ano.

Letícia Francisco, fundadora da Semearhis Divulgação

Quando fala sobre o seu trabalho com pessoas com deficiência, Letícia Francisco costuma ser questionada sobre qual foi a sua motivação para atuar na área. Diferentemente de pessoas que buscam criar soluções por terem alguma deficiência ou por serem familiares de pessoas que têm, ela se define como uma aliada. Com a HRTech Semearhis, seu objetivo é possibilitar que pessoas PCD sejam contratadas por empresas por suas competências profissionais.

Segundo relatório divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, com dados referentes a 2019, a população com deficiência tinha participação de 28,3% no mercado de trabalho naquele ano – ou seja, 7 em cada 10 pessoas com deficiência estavam sem emprego. De acordo com o levantamento, o Brasil tinha 17,2 milhões de pessoas com alguma deficiência no período, o que representa 8,4% da população.

Letícia conta que o primeiro contato com esse tema foi na infância, quando estudou com um colega surdo. A partir dali, viu despertar o interesse pela Língua Brasileira de Sinais (Libras) e tornou-se intérprete. Formada em pedagogia, ela tem uma trajetória de mais de 20 anos no magistério e, paralelamente, atua como intérprete de Libras há 16 anos para empresas, com participações em eventos.

Ao ficar sabendo por uma amiga sobre o evento Startup Weekend, decidiu participar. Durante a imersão de um fim de semana, depois do seu grupo pivotar de ideia quatro vezes, ela propôs um projeto para adaptação de ambientes para pessoas com deficiência. A solução ficou em primeiro lugar, e o grupo começou a ser procurado por hubs, incubadoras e venture builders.

“Fui mordida pelo mosquito do ecossistema, que até então eu não conhecia. Decidi resgatar um projeto de recrutamento para pessoas com deficiência que apresentei como conclusão de curso da minha segunda graduação. Atualizei e comecei a fazer a ponte com o Tinder: queria conectar empresas e profissionais para contratarem pelas habilidades”, conta.

Ela teve a oportunidade de conhecer Jean Cardoso, CEO do Grupo Alltech – que tem a incubadora de startups AlltechLab, em Joinville – e o apresentou a ideia. A Semearhis nasceu oficialmente em 2020, com o aporte inicial do grupo, que se tornou sócio no negócio. No primeiro momento, enquanto a plataforma estava em desenvolvimento, a startup começou a operar conectando pessoas com deficiência aos eventos online, por causa da pandemia. Desta forma, Letícia iniciou o trabalho de marca dentro das organizações. A plataforma ficou pronta no fim de 2022.

Os clientes da HRTech são as empresas, que se cadastram no site para ter acesso ao processo de inclusão de pessoas com deficiência para as vagas disponíveis na companhia. Na outra ponta estão os profissionais que também se registram na plataforma. O algoritmo da startup mapeia as vagas abertas e as habilidades necessárias, conectando com os profissionais mais próximos do perfil procurado. Após a contratação do candidato, a Semearhis promove a integração do funcionário e o apoio à acessibilidade, além de prestar suporte à equipe, à gestão e ao profissional contratado.

“A empresa só recebe o currículo com as competências e os desejos dos profissionais. Se existe o match, agendamos uma entrevista. É apenas nesse momento que a pessoa com deficiência descobre qual é a empresa e a companhia fica sabendo qual é a deficiência do profissional”, pontua.

Em um ano, a plataforma recebeu 4,7 mil cadastros de profissionais com deficiência. Neste primeiro momento, a operação da startup tem foco nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Letícia conta que a Semearhis tem sido procurada por psicólogos, médicos e fonoaudiólogos para indicar candidatos. “Meu maior sonho é montar um grande exército da inclusão e da acessibilidade”, revela.

Inicialmente, a startup monetizava por vaga fechada pela plataforma, mas agora está migrando o processo para o modelo SaaS, em busca de receita recorrente para escalar a empresa. Desde outubro do ano passado, a HRTech faz parte do portfólio da venture builder Leonora Ventures. Com faturamento anual de R$ 500 mil, a startup se prepara para realizar a sua primeira rodada de investimentos.

FONTE: https://revistapegn.globo.com/startups/noticia/2023/04/ela-criou-uma-startup-para-ser-o-tinder-profissional-entre-pessoas-com-deficiencia-e-empresas.ghtml