“É preciso criar razões para as pessoas saírem de casa”

Para especialista, é preciso fazer com que as pessoas tenham alguma razão para sair de casa. “Elas ainda querem se encontrar”, observa

Arquiteto italiano Carlo Ratti fala sobre a importância de, mesmo num mundo cada vez mais digital, investir em iniciativas que fomentem a mobilidade.

Eleito pela revista Wired uma das 50 pessoas capazes de mudar o mundo, o arquiteto e pesquisador italiano Carlo Ratti, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi uma das atrações do Smart City Expo Curitiba 2018, que terminou na última quinta-feira (1º).

Na disputadíssima palestra de abertura – até os corredores do salão estavam lotados -, ele falou sobre a importância de, mesmo num mundo cada vez mais digital, investir em iniciativas que fomentem a mobilidade.

Ratti é o responsável pelo conceito de “Cidades Sensíveis”, que utiliza em detrimento de “Cidades Inteligentes”, por dar mais ênfase ao lado humano.

“A interação humana, o uso de áreas verdes em prédios corporativos e a flexibilidade dos espaços públicos geram as experiências urbanas que definem as cidades sensíveis”, diz.

A DW entrevistou o arquiteto durante o evento em Curitiba.

Deutsche Welle: Toda cidade pode, de fato, se tornar uma cidade inteligente ou, em suas palavras, sensível?
Carlo Ratti: Eu acho que a primeira onda de inovação urbana, que começou mais ou menos 20 anos atrás, trouxe a questão da digitalização. Hoje é sobre inovação, digital e física. E aqui está. Toda cidade pode aprender a usar isso em seus contextos locais. Ou seja, as soluções de uma para outra serão diferentes, mas a tecnologia por trás é similar.

DW:  Qual o primeiro passo?
CR: É algo semelhante ao que está acontecendo hoje. Trata-se de falar e de ter uma discussão sobre a maneira como todas as tecnologias apresentam seus resultados. O importante é pensarmos juntos sobre a cidade que queremos construir amanhã; ter uma conversa como essa da Expo e outras similares, para definir a forma de moldar as cidades de amanhã.

DW:  Quais as coisas mais interessantes que as cidades inteligentes estão fazendo no momento?
CR:
 São muitas as questões. Como são muitas cidades, elas se concentram em coisas diferentes. Singapura, por exemplo, está focada na mobilidade. Copenhague está se concentrando mais na estabilidade. Já Boston está voltada para a participação do cidadão. Então, diferentes cidades estão investigando coisas diferentes.

DW:  Como fazer para transformar as cidades em pontos de encontro?
CR:
 Conhecendo as pessoas. Hoje temos tudo a pronta entrega. Você não precisa ir a uma loja física e comprar os produtos. É preciso criar novas experiências, fazer com que as pessoas tenham alguma razão para sair de casa, porque elas ainda querem se encontrar. Isso é o que você está vendo com a Expo.

DW:  Como você acha que as novas tecnologias estão influenciando a estética da arquitetura?
CR: Eu acho que estão nos permitindo tornar nossas construções mais responsivas. Nós ainda precisamos pensar em como elas podem se transformar em nova estética. Mas, de qualquer forma, nos permitem muita experimentação; que as construções interajam entre si e, principalmente, interajam com as pessoas.

DW:  Seus projetos são muito responsivos e, como você colocou, permitem essa grande interação com as pessoas. Você acha que esse é o futuro da arquitetura?
CR: Eu acho que o futuro da arquitetura vai ser realmente olhar para a arquitetura e a tecnologia como um todo e perceber como podemos interagir com isso, como podemos construir prédios que nos atendam melhor. Às vezes as pessoas dizem que a arquitetura é como uma terceira pele. Nós temos nossa própria pele, a pele das nossas roupas e a pele dos nossos prédios. Mas essa pele sempre foi muito rígida, quase intransigente. Eu penso que o interessante vai ser ver como os arquitetos vão, amanhã, se tornar bem mais fluidos e, às vezes, até incorporando isso aos seus conceitos e aos seus desenhos.

FONTE: CARTA CAPITAL