Cooperativas ligadas ao MST criam ‘crowdfunding’ para pessoa física

O Financiamento Popular (Finapop), iniciativa de captação para as cooperativas de agroindústria ligadas ao MST, nem fez três anos e já desbravou caminhos até o varejo. Do lançamento, em maio de 2020, até hoje o Finapop levantou R$ 42 milhões no mercado financeiro, em grande parte com investidores profissionais. Agora, a empresa avança para alcançar o investidor pessoa física. Em janeiro, lançará sua primeira plataforma de financiamento coletivo (“crowdfunding”), que permitirá alocação direta nas cooperativas, com investimentos a partir de R$ 100.

O Finapop estruturou dois produtos para financiar quatros cadeias produtivas por meio dessa nova plataforma. E a conjunção é bem brasileira: café com leite e arroz com feijão. Quer dizer, o investidor poderá escolher alocar nas cooperativas que produzem quaisquer desses produtos.

O investimento será em CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), títulos de crédito lastreados em recebíveis ou outras operações do agronegócio – um produto de renda fixa prefixado.

“A ideia é que esses ativos remunerem em torno de 11% ao ano, tomando por base o patamar da Selic, mas não chegando nele. Nossa proposta é ter uma taxa rentável, certamente acima da poupança, mas que não comprometa o financiamento das cooperativas”, diz Ana Terra, engenheira agrônoma e coordenadora do Finapop.

A meta de captação dessa primeira rodada foi estabelecida com base no marco que a iniciativa alcançou no ano passado com a negociação de CRA na bolsa: R$ 1 milhão.

No caso do novo produto de financiamento coletivo, as cooperativas ligadas ao Finapop serão as emissoras dos títulos de dívida e oferecerão como garantia os contratos de vendas e os estoques, quando for o caso de produtos estocáveis. Como as terras das cooperativas da reforma agrária são bens públicos, isto é, não podem ser comercializados nem dados como garantia de crédito em operações, a empresa buscou esses outros caminhos para assegurar a operação.

“Neste âmbito, estão principalmente os contratos de venda para o Programa Nacional de Alimentação Escolar [PNAE], que é o principal mercado para as cooperativas mais estruturadas”, diz Terra. O PNAE é um programa do governo federal de repasse de verba a Estados, municípios e escolas federais para a cobertura da alimentação dos estudantes do sistema público de ensino.

Ainda seguindo a lógica do investimento de impacto social, o crowdfunding do Finapop é um produto de giro rápido. Seus títulos expiram em 12 meses, sendo que em seis meses já começam a remunerar o investidor.

Em 2021, o Finapop estruturou uma emissão de CRA na bolsa que alçou o projeto à fama no mercado financeiro. À época, o investimento inicial também ficou em R$ 100, mas o ciclo da dívida era de cinco anos, ou seja, vencem em 2026. O rendimento bruto do título é 5,5% ao ano com pagamentos mensais a partir do 13º mês da emissão.

Muito mudou nesse meio tempo. Além de algumas limitações para a negociação em bolsa, o Finapop não consegue mais entregar uma remuneração tão competitiva no mercado de renda fixa. A saída foi apostar em um ciclo de dívida menor, que traz mais segurança ao investidor e compromete menos o orçamento do pequeno produtor.

“Está mais difícil criar uma equação equilibrada para ter um produto interessante ao investidor mas que não prejudique o agricultor.”

FONTE: https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/12/15/cooperativas-ligadas-ao-mst-criam-crowdfunding-para-pessoa-fisica.ghtml