Como museus usam realidade aumentada para expandir obras de arte

Novo aplicativo do Masp disponibiliza áudios sobre pinturas e esculturas. Tecnologia que adiciona camadas de informação para visitantes tem sido usada em instituições ao redor do mundo

Um aplicativo lançado pelo Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) servirá como um guia a mais para as obras do museu.

Ele expande a experiência de visitantes e torna o acervo acessível a pessoas cegas e com mobilidade reduzida por meio de realidade aumentada – o uso da tecnologia para acrescentar camadas de informação àquilo que está sendo visto, seja por meio de texto, áudio ou outros recursos.

O app é gratuito e está disponível para iOS e Android. Para usar, é preciso apontar o celular para determinada obra – a câmera reconhece a imagem e o aplicativo reproduz automaticamente o áudio correspondente.

Os áudios também podem ser acessados fora do museu: o usuário pode pesquisar diretamente pelo título de uma obra ou pelo nome de um artista expostos pelo Masp para saber mais sobre eles. É possível, ainda, criar uma coleção personalizada com trabalhos favoritos.

A iniciativa segue uma tendência apontada por muitos museus no Brasil e no mundo em anos recentes. Os aplicativos de realidade aumentada buscam trazer uma novidade para a coleção do museu e, com isso, atrair público.

Já em 2017, a Pinacoteca de São Paulo lançou um projeto em parceria com a empresa de tecnologia IBM em que a inteligência artificial da plataforma Watson foi usada para responder a perguntas dos visitantes sobre obras da exposição “A voz da arte”.

Para muitos museus, trata-se de uma aposta para manter a relevância em uma era hiperconectada. “Os museus estão obviamente dando seu melhor para continuar relevantes, porque o mundo está cada vez mais fragmentado e competitivo no que oferece. Um objeto estático acaba precisando competir mais e mais por nossa atenção”, disse o historiador de arte e ex-diretor do Museu Whitney, de Nova York, à revista Wired.

A realidade aumentada em museus pelo mundo
Além do uso para contextualizar obras do acervo, alguns museus têm comissionado instalações especialmente para que sejam experimentadas com o auxílio da realidade aumentada. É o caso da obra “História da floresta”, exibida pelo Museu Nacional de Singapura, que permite que os usuários explorem com o celular as imagens da Coleção William Farquhar de Desenhos de História Natural. Pelo aplicativo, eles têm acesso a informações sobre o habitat de uma espécie e quão rara ela é, e podem brincar de coletar itens como plantas e animais, na linha de jogos de realidade aumentada como o Pokémon Go.

Há ainda muitas outras possibilidades. Em 2018, um grupo de artistas realizou uma intervenção na galeria Jackson Pollock do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), usando um aplicativo de realidade aumentada para substituir ou remixar as obras do pintor expressionista abstrato, criando uma exposição virtual que questiona as escolhas que determinam o que pertence ao espaço do museu.

Há também aplicativos que pretendem usar a tecnologia para “devolver” aos frequentadores de uma instituição obras de arte que tenham sido roubadas, colocando-as virtualmente no lugar que costumavam ocupar, premissa do projeto americano Hacking the heist para restituir obras de um museu de Boston.

Apesar de inaugurar uma nova fronteira para os museus, a realidade aumentada traz também algumas preocupações. Uma delas é que seu uso isole cada visitante em seu próprio celular, em vez de permitir que a pessoa se abra para apreciar a obra em questão ou a interação com outros visitantes. Há também o receio de que a necessidade de usar um aplicativo para ter a experiência completa do museu acabe excluindo pessoas que não tenham acesso ou domínio da tecnologia.

Obras e vozes do Masp
Em seu lançamento, o aplicativo do Masp conta com 160 áudios que trazem leituras de historiadores, curadores, artistas e pesquisadores. Elas buscam ir além da descrição e das explicações técnicas e formais, contextualizando a obra, o artista e o período no qual se inserem. Os áudios têm duração de um a três minutos e há obras que têm mais de um.

Os áudios se detêm principalmente nas obras da exposição Acervo em transformação, que estão nos cavaletes de cristal projetados por Lina Bo Bardi, no segundo andar do prédio. Alguns, porém, tratam de obras das exposições temporárias do museu.

A maioria das faixas está disponível também no Soundcloud e no site do museu. Elas começaram a ser produzidas no contexto de um projeto do núcleo de Mediação e Programas Públicos do Masp iniciado em 2015. Por isso, algumas foram gravadas por crianças de 8 a 10 anos, alunos de colégios municipais que participaram do programa.

FONTE: NEXO