Como empresas familiares se organizam para era digital

Conhecidas por terem valores fortes e propósito bem definido, foram essas empresas que desbravaram regiões de fronteira agrícola

É notório o protagonismo das empresas familiares no agronegócio brasileiro. Conhecidas por terem valores fortes e propósito bem definido, foram essas empresas que desbravaram regiões de fronteira agrícola e arriscaram-se para produzir alimentos, vestuário e energia para o Brasil e o mundo.

As inovações desenvolvidas nos últimos 40 anos pelo agronegócio brasileiro e potencializado pelas empresas familiares impactaram um aumento significativo na produção e produtividade agropecuária local, transformando o país em um dos principais players do agronegócio global.

Entretanto, as premissas que proporcionaram o desenvolvimento até agora podem não ser suficientes para superar os novos desafios deste mundo digital. A volatilidade do ambiente econômico e a necessidade de inovação são as principais preocupações dos líderes das empresas familiares brasileiras no curto prazo, segundo a 9ª edição da Pesquisa Global sobre Empresas Familiares da PwC. Além disso, em comparação com os dados da pesquisa anterior, em 2016, mais empresas passaram a se sentir vulneráveis à disrupção digital e ameaçadas pelo surgimento repentino de novos negócios.

A PwC, em estudo recente, identificou oito tecnologias essenciais que devem contribuir para mudar os modelos de produção vigentes em diversos setores da economia (internet das coisas, blockchain, robôs, realidade virtual, realidade aumentada, drones, inteligência artificial e impressão 3D). No agronegócio, não seria diferente. A Agricultura 4.0 foca na digitalização dos processos produtivos e reúne gestão baseada em dados, produção a partir de novas técnicas, sustentabilidade e profissionalização do segmento.

Permanecer atento aos temas tecnológicos que podem influenciar diretamente a área de atuação é fundamental para que as empresas familiares gerem ganhos reais, mantenham-se competitivas e busquem maior longevidade em um setor tão desafiador como o agronegócio.

E, embora reconhecer os desafios da era digital seja um passo importante, muitas vezes as organizações familiares têm dificuldades para enfrentá-los. Quando questionadas sobre disrupção digital, no estudo somente 20% disseram que as tecnologias digitais mudariam significativamente seus modelos de negócio em dois anos.

Muitas pontes precisam ser construídas para permitir uma transformação tecnológica e integração dos valores familiares. Uma delas é a necessidade de incentivar o envolvimento da próxima geração nos negócios de maneira profunda. Seja pelo convite para observar de perto as atividades produtivas e a tomada de decisões dos gestores ou mesmo pela criação de grupos internos orientados a debater novas soluções colaborativas.

A próxima geração terá papel fundamental na contribuição ao alinhamento dos valores familiares com os do negócio nessa nova era, já que compreendem profundamente o ritmo da disrupção digital, o impacto das tecnologias e estão familiarizados com o propósito da empresa. É essencial que os valores familiares estejam em consonância com os do negócio, tornando-os genuínos nesta realidade digital.

As tendências de mercado demonstram que parcela considerável da força de trabalho e dos consumidores possui clara preferência por empresas que contribuam para a sociedade e tenham um propósito claro baseado em valores. Empresas que comunicam efetivamente seus valores e os tornam mensuráveis, obtêm melhores resultados e maior longevidade.

Assim, o protagonismo das empresas familiares do agronegócio nas próximas décadas dependerá da habilidade dos líderes de negócios familiares utilizarem novas tecnologias de forma a permitir o equilíbrio entre a motivação do lucro nos negócios e o sentido elevado de propósito para despertar confiança e lealdade entre fornecedores, funcionários e consumidores.

FONTE:  CIDADE ON