Com vacina terapêutica contra o HPV, startup brasileira quer inovar no tratamento de câncer de colo de útero

A startup brasileira Imunotera, spin-off da Universidade de São Paulo (USP) fundada em 2016, está desenvolvendo um imunizante com potencial de ser utilizado em associação com a quimioterapia.

Segundo dados globais da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020 mais de 500 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer de colo de útero, causado pelo vírus HPV — Foto: Getty Images

A startup brasileira Imunotera, spin-off da Universidade de São Paulo (USP) fundada em 2016, pretende entrar no mercado de imunizantes com um produto promissor no tratamento de câncer de colo de útero — uma vacina terapêutica contra o HPV.

Em fase de desenvolvimento, a vacina ainda precisa passar por ensaios clínicos em humanos, mas uma prévia de seu potencial pôde ser verificado pelas sócias Luana Raposo de Melo (CEO) e Bruna Porchia Ribeiro (CSO), ambas fundadoras da biotech e pesquisadoras nas áreas farmacêutica e biológica.

As cientistas conduziram uma prova de conceito clínica em células extraídas de 30 mulheres infectadas pelo HPV que já tinham desenvolvido os chamados “NIC”, lesões comumente verificadas em pacientes com o vírus e que representam um estágio anterior à evolução para o câncer de colo de útero.

“Alcançamos um resultado de 60% de regressão nessas lesões, o que é um número bastante expressivo para uma prova de conceito”, relata Luana, doutora em Ciências Biológicas pela USP.

O procedimento, feito com aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto de Ciências Biomédicas e do Hospital das Clínicas e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), é feito de forma indireta. Primeiro, é retirada uma amostra de sangue da paciente e, em laboratório, as células são isoladas e ativadas in vitro com o imunizante. Após a ativação, as células retornam à paciente na forma de uma injeção.

“É quando essas células, que chamamos de dendríticas, ensinam o sistema imunológico a reconhecer e eliminar as células tumorais ou precursoras dos tumores”, explica a especialista.

Embora a vacina preventiva contra o HPV esteja disponível tanto na rede privada quanto no SUS, as sócias enxergam potencial de mercado de seu imunizante terapêutico.

“Se os próximos estudos alcançarem os resultados que esperamos, nossa vacina poderá ser utilizada em associação com a quimioterapia. No futuro, poderá, inclusive, atuar na eliminação das células tumorais”, destaca Bruna, que tem pós-doutorado em Imunologia pela USP.

Luana (esq.) e Bruna (dir.) são sócias na biotech brasileira Imunotera, que desenvolve pesquisas na área de vacinas terapêuticas — Foto: Fábio H. Mendes/Divulgação Imunotera

Luana (esq.) e Bruna (dir.) são sócias na biotech brasileira Imunotera, que desenvolve pesquisas na área de vacinas terapêuticas — Foto: Fábio H. Mendes/Divulgação Imunotera

“Embora o câncer de colo de útero seja uma doença capaz de ser prevenida, com a aplicação da vacina preventiva e realização do exame Papanicolau, a projeção das autoridades de saúde é de crescimento da incidência dessa doença nos próximos anos, por isso também acreditamos que ainda exista um campo para atuar”, acrescenta Luana.

Segundo dados globais da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, mais de 500 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer de colo de útero, e 342 mil morreram.

Em busca de investimentos

Para avançar nos testes clínicos em humanos, a Imunotera abriu uma rodada de investimentos de R$ 12 milhões. Até agora, a empresa foi mantida por meio de diferentes fontes: além de capital próprio das fundadoras, recebeu premiações em dinheiro e aporte de institutos de pesquisa e da universidade.

Recentemente, foi selecionada para o portfólio de empresas incubadas pelo eretz.bio, iniciativa do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde recebe mentorias também voltadas para a área financeira.

“Estamos em busca do primeiro investidor. Acreditamos que, quando o primeiro aparecer, será mais fácil encontrar os próximos”, avalia Bruna. A pesquisadora observa que, embora o ecossistema de inovação no setor de saúde tenha acelerado em função da pandemia, ainda existe uma resistência dos investidores em aportar capital nas empresas da área porque o risco é maior.

“Estamos cientes que existe uma barreira inerente do investidor, ainda mais em imunobiológicos voltados para oncologia. Além do investimento e risco serem maiores, se der certo, os resultados demoram a aparecer. É diferente de uma plataforma como um aplicativo”, acrescenta Luana.

O modelo de negócios da startup é licenciamento de tecnologia. O objetivo das executivas é transformar a empresa em uma plataforma de vacinas terapêuticas para diversos tipos de doenças. “Vamos começar com o HPV e, uma vez demonstrada a eficácia em humanos, queremos sim desenvolver vacinas para outras doenças, inclusive outros cânceres que afetam nossa população, como de mama e de próstata”, conclui Luana.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/ciencia-e-saude/vacina-e-saude/noticia/2023/04/com-vacina-terapeutica-contra-o-hpv-startup-brasileira-quer-inovar-no-tratamento-de-cancer-de-colo-de-utero.ghtml