BNDES seleciona ‘fintechs’ para parcerias

Em fase de reinvenção, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dá os primeiros passos em uma estratégia que inclui novos negócios no ambiente digital. Nesta quarta-feira, o BNDES lança em evento junto com o Sebrae, em Brasília, um edital de consulta pública para selecionar “fintechs” – empresas de tecnologia financeira – que possam trabalhar junto com o banco no Canal Desenvolvedor, meio de relacionamento direto, disponível no portal da instituição, com micro, pequenas e médias empresas.

O objetivo do BNDES é tornar o Canal Desenvolvedor uma plataforma de negócios não só para concessão de crédito, mas também para prestação de serviços para as empresas de menor porte e, nesse contexto, o banco aposta em parcerias com as fintechs. É a primeira iniciativa do BNDES com fintechs visando o apoio destas empresas às operações do banco, incluindo a concessão de crédito. Na área de mercado de capitais, o BNDES participa como cotista de fundos de investimento que aportam recursos em fintechs. Mas são iniciativas independentes uma da outra.

Na visão de Ricardo Ramos, diretor da área de operações indiretas do BNDES, ao seguir esse caminho em parceria com as fintechs, o banco poderá oferecer mais serviços e acesso à informação e ao crédito para empresas menores. Pela ótica regulatória, a instituição financeira já vem discutindo a atuação das fintechs com a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O Sebrae também está envolvido nas discussões. Sebrae e BNDES vão assinar nesta quarta-feira um convênio que regulará a atuação conjunta das duas instituições no apoio a micro, pequenas e médias empresas.

Por meio de uma consulta pública, o BNDES quer conhecer melhor o universo das fintechs. No edital, o BNDES pretende selecionar fintechs em quatro segmentos. O primeiro deles é o de educação financeira, de modo que a fintech possa auxiliar micro, pequenas e médias empresas na área de formação financeira. O banco também tem interesse em selecionar serviços de análise de crédito.

“Queremos saber se há fintechs que fazem análise de crédito usando inteligência artificial”, afirmou Ramos. Outro ramo de serviços está nas fintechs que se encarregam de casar oferta e demanda por crédito. O quarto segmento refere-se a fintechs que tenham soluções de leilão reverso de crédito para financiamento.

Ramos disse que até 15 de março o BNDES vai selecionar algumas fintechs que vão passar por uma “prova de conceito”, uma espécie de teste piloto. Poderão ser selecionadas para essa prova de conceito fintechs cujas ferramentas atendam a pelo menos 50% dos requisitos listados no assunto pretendido (um dos quatro segmentos do edital).

As fintechs terão de ser constituídas legalmente no Brasil e a ferramenta oferecida deverá estar disponível operacionalmente no mercado há pelo menos um ano. Somente depois dessa fase de testes é que deve ser discutido um modelo de negócios entre o BNDES e as fintechs. “O modelo de negócio está em aberto, dependendo do que formos fazer. Não deve ser um modelo único, mas um modelo que depende do serviço a ser prestado”, comentou Ramos.

Segundo ele, a ideia é que as fintechs se conectem ao Canal Desenvolvedor do BNDES valendo-se das chamadas APIs (interface de programação de aplicativos, na sigla em inglês). “Nossa visão é ter um canal no futuro no modelo de “open banking”, que vai prover serviços mais do que prover crédito direto”, disse Ramos.

O diretor explicou que, no futuro, a ideia é de uma complementariedade entre os bancos tradicionais e as fintechs, que por serem menores podem ser mais ágeis na prestação de serviços. “Nossa visão futura do Canal Desenvolvedor é de provedor de serviços para micro, pequenas e médias empresas. Vamos procurar plataformas de serviços de maneira a melhorar o acesso a crédito”, afirmou Marcelo Porteiro, superintendente da área de operações indiretas do banco de fomento.

Ramos apontou que o lançamento da consulta pública para as fintechs é mais uma iniciativa do banco para facilitar o acesso ao crédito para micro, pequenas e médias empresas. A instituição já tinha feito a automação e simplificado informações de produtos para empresas de pequeno porte, além de lançar o Canal Desenvolvedor, em junho de 2017, ferramenta que permitiu o contato direto de pequenos empresários com o BNDES.

No ano passado, o banco desembolsou R$ 29,7 bilhões para micro, pequenas e médias empresas, equivalente a 42% do total liberado, que foi de R$ 70,7 bilhões. Em 2016, o desembolso para as micro e pequenas empresas havia sido de R$ 27,2 bilhões, montante que correspondeu a 31% do total desembolsado no período.

FONTE: VALOR ECONÔMICO